Notícia

Gazeta Mercantil

Corrida pela fábrica de hemoderivados

Publicado em 14 maio 2004

Por Marcelo Moreira — de São Paulo
O estado de São Paulo poderá sediar a primeira fábrica completa de hemoderivados do País. É a saída para diminuir drasticamente a importação destes produtos proteínas obtidas a partir do plasma, utilizadas no tratamento de doenças como a hemofilia A e B e como matéria-prima na produção de vacinas, que custam anualmente US$ 150 milhões. A única fábrica brasileira, instalada em Pernambuco, produz apenas a albumina humana e atende só 7% do mercado. Desde 2000, o país faz planos de construir uma fábrica para substituir importações e atender a demanda do mercado. Dois projetos concorrentes - um da União e o outro do estado de São Paulo - estão sendo elaborados. A Empresa Brasileira para o Fracionamento do Plasma, já batizada de Hemobrás, tem um projeto orçado em US$ 60 milhões e que já está previsto na política industrial, tecnológica e de comércio exterior. Esta fábrica, que ainda não tem local definido, mas tem grande chance de ser em São Paulo, deverá produzir albumina humana, imunoglobulina, complexo protombínico, fator VIII e fator IX - utilizando tecnologia de fracionamento do plasma sanguíneo - para atender parte da demanda do Sistema Único de Saúde (SUS), de acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O segundo projeto é do Instituto Butantan, em São Paulo. A fábrica paulista utilizará a cromatografia para obter hemoderivados, uma tecnologia distinta da do fracionamento de plasma adotada pela Hemobrás. O instituto informa que será a primeira fábrica a utilizar esse modelo em todo o mundo e que a produção por cromatografia foi adaptada do exterior, possibilitando maior rendimento e competência tecnológica. O projeto, no valor de R$ 100 milhões, está previsto no Plano Plurianual do governo estadual e poderá estar pronto em dois anos. De acordo com o diretor do Butantan, Octávio Mercadante, em entrevista à Revista da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), este projeto terá escala para suprir toda a demanda nacional e deverá ser submetido ao Ministério da Saúde. O projeto da Hemobrás começou a ser arquitetado em 2000, mas ganhou fôlego em 2003, quando foi criado um grupo de trabalho para analisar aspectos legais, para compatibilizar a produção de hemoderivados com a Constituição Federal, que impede a comercialização do sangue no país. O projeto de lei que cria a nova fábrica já está no Congresso. Alternativa Uma terceira alternativa tecnológica, a biotecnologia, que é adotada pela maioria dos países desenvolvidos para produção de hemoderivados, está sendo estudada e desenvolvida pela Rede Brasileira para Clonagem e Expressão de Fatores de Coagulação, formada por quatro laboratórios públicos nacionais. As pesquisas, iniciadas em 2001, contaram com US$ 900 mil da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e conta com apoio da Fapesp. Em recentes artigos acadêmicos, Dimas Covas, pesquisador do Laboratório de Clonagem e Expressão do Centro de Terapia Celular, diretor do Hemocentro de Ribeirão Preto, vinculado à Universidade de São Paulo (USP), e coordenador da rede, afirma que os objetivos básicos de clonagem e expressão dos genes dos fatores de coagulação VIII e IX e clones celulares, que expressam quantidades razoáveis desses fatores, já foram atingidos. Os pesquisadores precisam de mais US$ 5 mil para realizar testes em outras linhagens celulares e em células modificadas em biorreatores e para desenvolver novos vetores. A construção da unidade de produção está orçada em US$ 20 milhões e sua operação atenderia toda a demanda de hemoderivados no País, diz em declarações publicadas por órgãos da Fapesp.