Projeto francês, que tem participação brasileira, descobre seu primeiro planeta fora do Sistema Solar: um gigante gasoso maior do que Júpiter, explica Eduardo Janot Pacheco, do IAG-USP
O satélite francês Corot foi lançado no fim de dezembro com o objetivo de detectar planetas além do Sistema Solar. Nesta quinta-feira (3/5), o placar foi aberto, com o anúncio da descoberta de um gigante gasoso maior e muito mais quente do que Júpiter.
O projeto, que também deverá ajudar no estudo da estrutura estelar e da evolução das estrelas, tem participação direta de astrônomos brasileiros.
Os dados obtidos pelo Corot são integralmente enviados à Estação de Satélites Científicos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), localizada em Alcântara (MA).
De acordo com o professor Eduardo Janot Pacheco, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP), que coordena a participação brasileira no projeto, a expectativa é que o satélite ajude a descobrir, em estimados três anos de vida útil, cerca de mil planetas gigantes do tipo de Júpiter e uma centena de outros com tamanhos semelhantes ao da Terra.
"Os dados, mesmo depois de 60 dias de observação efetiva, são preliminares, mas já mostraram que a precisão e a sensibilidade dos instrumentos são melhores do que o esperado. A qualquer momento divulgaremos a descoberta de novos planetas desse primeiro tipo e daquele que mais nos interessa: planetas rochosos que possam abrigar vida", disse Pacheco à Agência Fapesp.
Segundo o astrofísico, o planeta agora descoberto, batizado como Corot-Exo 1b, é o primeiro resultado prático da missão.
"O satélite continuará vasculhando a mesma região de 10 graus do espaço por mais quatro meses. Em seguida, fará um giro de 180 graus, que se repetirá a cada seis meses", disse.
O novo planeta é um gigante muito quente, próximo de sua estrela central — que é parecida com o Sol. O período orbital é de apenas um dia e meio e o raio foi estimado entre 1,5 e 1,8 vez o de Júpiter.
Precisão inédita
"O Corot está observando cerca de 16 mil estrelas simultaneamente e cada trânsito de planeta diante de estrelas equivale a uma quantidade muito grande de dados a serem examinados. Procuramos esses trânsitos incessantemente e aguardamos com ansiedade encontrar planetas como a Terra", disse Pacheco.
Segundo o pesquisador, o satélite detecta planetas ao registrar variações na intensidade da luz que eles causam quando passam diante de uma estrela. Mas essas variações são ínfimas: uma parte em 50 milhões da intensidade luminosa original.
"Graças a uma precisão inédita, associada à observação das mesmas estrelas por um longo período, o Corot poderá descobrir planetas menores. O que nos impressionou nos resultados obtidos até agora é que praticamente não fizemos correções de perturbações ou de ruídos de medida. Quando elas forem feitas, a precisão de observação deverá dobrar", disse.
De acordo com Pacheco, os dados sismológicos obtidos também foram importantes e indicam que será possível estudar com grande precisão a estrutura interna e a evolução das estrelas.
"Quando detectarmos planetas rochosos, poderemos estudar a luz das estrelas refletida por eles, o que nos dará informações sobre a composição de suas atmosferas", disse.
A contribuição brasileira para o projeto até o momento se deu por meio da utilização da estação de Alcântara, com a participação de cinco engenheiros na elaboração do software embarcado no satélite e com estudos científicos de pré-análise dos alvos do Corot.
"Equipes brasileiras da USP e da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) também trabalham atualmente na elaboração de softwares de tratamento temporal de dados", disse Pacheco.
O projeto tem participação da Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha e Brasil, cuja inclusão foi definida pela assinatura de um acordo entre a Agência Espacial Brasileira (AEB) e o Centro Nacional de Estudos Espaciais da França (Cnes).
Mais informações: corot.oamp.fr
(Agência Fapesp, 4/5)