RIO – Um estudo da Unicamp afirma que se o nível de isolamento no estado de São Paulo se mantiver abaixo de 60%, o bloqueio total será a única solução para conter a transmissibilidade do novo coronavírus.
Estima-se que no final de junho São Paulo contabilizará 53,5 mil novas infecções por dia, sendo 20,8 mil casos diários somente na capital pauista. Nesse período, se espera que o número de novos casos dobre a cada 11,5 dias para o estado e a cada 12,9 dias para a capital, nas próximas semanas.
O estudo foi feito considerando os dados reais de crescimento do número de casos ao longo do último mês, que indicam uma taxa de contágio de 1,49 para o estado e de 1,44 para a cidade de São Paulo. Ou seja, no final de abril, cada 100 paulistas infectados transmitiam o novo coronavírus para quase 150 pessoas, em média.
O matemático Renato Pedrosa, professor do Instituto de Geociências da Unicamp e coordenador do Programa Especial Indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), trabalhou considerando uma análise matemática de regressão linear, em combinação com os dados reais de crescimento do número de casos ao longo do último mês, com as informações das secretarias de Saúde.
O trabalho foi realizado dos dias 8 ao dia 10, com projeções de quinze dias anteriores, e continua em andamento.
— O número de casos diários em São Paulo vai ser próximo do número total de casos que acumulamos até hoje no estado. Os valores projetados indicam que ainda este mês o sistema público de saúde da Região Metropolitana de São Paulo atingirá o limite, pois o nível de ocupação de leitos de UTI já está acima de 80%. Se o isolamento não for ampliado urgentemente, o estado terá de adotar medidas mais drásticas de contenção, como ocorreu na Itália, ou a situação se tornará insustentável — afirma Pedrosa.
O pesquisador avalia que o isolamento precisa ser feito de forma contínua:
– Os resultados de hoje são consequências das semanas anteriores, por isso o isolamento precisa ser feito de forma contínua, assim como o uso de máscaras, caso contrário os números irão disparar – reflete.
As estimativas foram feitas com um modelo desenvolvido por Pedrosa e descrito em artigo disponível na plataforma medRxiv em versão preprint (ainda não revisada por pares). O modelo permite estimar a dinâmica de transmissão da COVID-19 em diferentes locais, levando em conta variáveis climáticas (temperatura e umidade absoluta), a densidade populacional e a linha do tempo da instalação da doença (data em que o país ou a região atingiu a marca de 100 casos).
Para desenvolver o modelo, Pedrosa usou dados de 50 estados dos EUA e de outros 110 países, incluindo o Brasil. Foram selecionados países para os quais havia informação suficiente disponível para calcular a taxa de crescimento exponencial no período em que o centésimo caso da doença foi registrado.
As informações meteorológicas foram obtidas em uma base de dados da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA, na sigla em inglês), instituição que integra o Departamento de Comércio dos Estados Unidos. Já os dados referentes à expansão da COVID-19 até o dia 10 de abril vieram de duas fontes: o Centro de Ciências de Sistemas e Engenharia da Johns Hopkins University (Estados Unidos) e o Centro Europeu de Controle e Prevenção de Doenças, com sede na Suécia.
— Estudos iniciais sugeriam que o novo coronavírus teria mais dificuldade para se disseminar em países com clima quente e úmido. Mas, segundo este modelo, o efeito das variáveis climáticas na taxa inicial de expansão da doença não foi significativo ao se incluírem as variáveis de densidade populacional e/ou a data de início da doença [100º caso]. Isso confirmou a experiência do Brasil e de outros países que estavam em período de verão, com clima quente e úmido, e sofreram expansão severa da Covid-19 — conta Pedrosa.
Extra
*Estagiária sob orientação de Flávia Martin