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Coronavírus pode matar células de defesa do organismo, sugere estudo (65 notícias)

Publicado em 17 de setembro de 2020

Um estudo de pesquisadores da Universidade de So Paulo (USP) em Ribeiro Preto sugere que o novo coronavrus pode infectar e provocar a morte de diferentes tipos de linfcitos , que correspondem a clulas fundamentais do sistema de defesa do organismo humano. Apoiado pela Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo (FAPESP), o trabalho foi divulgado no repositrio bioRxiv e est em processo de reviso por pares.

Em entrevista Agncia Fapesp, o coordenador da pesquisa, Eurico Arruda, afirma que, desde o incio da pandemia, so observadas quedas acentuadas na contagem de linfcitos no sangue de pacientes com Covid-19 . Durante infeces, comum que parte das clulas de defesa deixem a circulao e atuem em tecidos para combater agentes invasores, explica o cientista.

Experimentos anteriores, porm, indicaram que a quantidade de linfcitos presente nos tecidos de pacientes que morreram devido ao novo coronavrus no poderia explicar queda do volume de clulas de defesa detectada no sangue dessas pessoas quando ainda estavam internadas.Os pesquisadores suspeitaram que outros mecanismos pudessem estar envolvidos e decidiram investigar se o vrus poderia invadir os linfcitos.

Eles isolaram as clulas mononucleares – grupo que compreende moncitos e linfcitos – de cinco pacientes saudveis e as expuseram ao novo coronavrus. Com testes moleculares e um anticorpo capaz de reconhecer o agente invasor dentro das clulas, os cientistas identificaram que o Sars-Cov-2 no s infecta os linfcitos, mas tambm pode se reproduzir dentro deles.

Segunda etapa

Na sequncia, foram realizados estudos com clulas mononucleares de 22 pacientes internados em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), com quadros moderados e severos de Covid-19. As pesquisas indicaram grandes variaes no volume de clulas infectadas entre os participantes. Segundo Arruda, embora os perfis clnicos distintos dos pacientes tenham dificultado a comparao, as anlises confirmaram a presena do vrus no interior das clulas mononucleares.

O Brasil soma mais de 4,4 milhes de casos confirmados de Covid-19. Imagem: Shutterstock

Os pesquisadores ainda selecionaram amostras de 15 pacientes para estudar as diferenas individuais no volume de linfcitos. As amostras foram segmentadas com base no tempo de coleta aps o incio dos sintomas dos participantes. Em todos os casos analisados, os linfcitos B apresentaram as maiores taxas de infeco. Isso poderia ajudar a explicar a hiptese de que algumas pessoas quase no apresentam anticorpos depois de se recuperarem de quadros de Covid-19.

J no caso dos moncitos, o estudo apontou que quanto mais avanado o estgio da doena, maior o volume de clulas infectadas. A pesquisa tambm identificou evidncias de que o vrus pode se reproduzir no interior dos glbulos brancos. Para Arruda, a capacidade do coronavrus de infectar as clulas de defesa e se replicar dentro delas um “potencial complicador”.

“Pode deixar o paciente suscetvel as infeces oportunistas e os hospitais esto repletos de bactrias resistentes. Os mdicos precisam estar atentos a esse fato”, afirma o cientista Agncia Fapesp. Ele ainda destacou que so necessrias mais investigaes para verificar “que tipo de efeito tardio” a infeco do novo coronavrus pode ter no sistema imune.