Em menos de 48 horas após o registro do segundo caso de brasileiro infectado com coronavírus, uma equipe de pesquisadores brasileiros conseguiu novamente sequenciar o genoma do vírus. São os mesmos cientistas que tinham feito o primeiro sequenciamento, num procedimento que deve virar rotina para a epidemia. O primeiro sequenciamento foi anunciado na última sexta-feira e o segundo, ontem.
E a nova análise mostra que o patógeno do segundo caso é levemente diferente do primeiro. Pela conclusão, o primeiro tinha se assemelhado mais com vírus que haviam sido sequenciados na Alemanha. Já o segundo se aproxima mais de vírus sequenciados na Inglaterra. E ambos são diferentes das sequências chinesas.
Nos dois casos, porém, os pacientes foram contaminados na Itália, mas como cientistas italianos ainda não apresentaram os sequenciamentos dos vírus que estão no país, a comparação não pôde ser feita com o material de lá.
De acordo com a pesquisadora Ester Sabino, do Instituto de Medicina Tropical da USP, que compõe os esforços de sequenciamento junto com pesquisadores do Instituto Adolfo Lutz e da Faculdade de Medicina da USP, essas variações confirmam que a transmissão interna entre os países da Europa já está bem estabelecida.
“A epidemia já está há algum tempo na Europa e já passa de um país a outro. Mas nesse momento ainda não conseguimos saber se ela foi da China para a Alemanha e a Inglaterra e de lá para a Itália ou se foi para a Itália e de lá foi para a Inglaterra”, segundo a pesquisadora. Ela explica que a cada mês que se passa o vírus sofre uma mutação e fica com uma espécie de código da região por onde passou, mostrando o seu caminho.
“Ainda é arriscado inferir muita coisa com apenas dois genomas, mas o que podemos dizer é que os dois casos não tiveram a mesma fonte de contaminação. Isso é importante para os epidemiologistas rastrearem a dinâmica da doença”, explica Claudio Sacchi, do Instituto Adolfo Lutz, que coordena os trabalhos.
Ele afirma, no entanto, que os próximos sequenciamentos não devem ser tão rápidos. Para analisar os dois com um tempo tão curto - o primeiro havia sido apresentado na sexta e já no sábado os pesquisadores receberam a segunda amostra - ele conta que os cientistas quase não dormiram.
Metodologia
O número de casos suspeitos de coronavírus aumentou 71,83% no Brasil. Eram 252 no domingo, chegando a 433 ontem. O crescimento tem relação principalmente com a mudança de metodologia do Ministério da Saúde para considerar um paciente suspeito da doença. Desde ontem, o ministério não faz a reanálise dos casos notificados como suspeitos pelas secretarias estaduais de Saúde.
Todas as regiões possuem casos suspeitos. O Sudeste concentra o maior número, 258, o que representa 59,58% do total. São Paulo é o estado brasileiro com mais registros, 163 casos, significando 37,64% do país. A região Sul, com 116 casos, aparece em segundo lugar nacional. O Nordeste tem, 29, seguido do Centro-Oeste, 26, e o Norte, 4. (Com Agência Brasil)