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Coronavírus inibe remoção de células mortas e favorece dano pulmonar; entenda! (121 notícias)

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Por Karina Toledo | Agência FAPESP

Já é praticamente consenso entre os cientistas que o agravamento da covid-19 está relacionado com um desequilíbrio na resposta imune ao SARS-CoV-2. No entanto, ainda não se sabe exatamente quais componentes do sistema de defesa estão atuando de forma desregulada nesses casos e por que isso acontece.

Em estudo divulgado na plataforma medRxiv, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) sugerem respostas para uma parte do quebra-cabeça.

No artigo, ainda não revisado por pares, os autores descrevem como o contato com o novo coronavírus altera o funcionamento do macrófago – uma espécie de “gari” do sistema imune encarregado de eliminar, por meio da fagocitose, restos de células mortas e outras partículas estranhas ao organismo.

Por meio de experimentos in vitro, os cientistas descobriram que, ao internalizar uma célula infectada pelo SARS-CoV-2 ainda ativo, o macrófago passa a produzir quantidades excessivas de moléculas pró-inflamatórias, o que pode contribuir para o quadro conhecido como tempestade de citocinas, observado em pacientes com a forma grave da doença.

Além disso, de acordo com o estudo, a internalização de uma célula morta infectada reduz em até 12 vezes a capacidade do macrófago de reconhecer e fagocitar outras células mortas que eventualmente surgirem em seu caminho.

“Milhões de células morrem em nosso organismo todos os dias e elas precisam ser eliminadas de forma eficiente. Caso contrário, poderiam ser interpretadas como um sinal de perigo ou gerar autoantígenos, favorecendo o surgimento de doenças autoimunes. No caso do pulmão afetado pelo SARS-CoV-2, a remoção contínua das células mortas pelos macrófagos é essencial para a regeneração do tecido. Se a presença do vírus em uma célula fagocitada subverte essa função dos macrófagos, possivelmente contribui para o dano tecidual extenso característico da covid-19”, diz à Agência FAPESP Larissa Cunha, professora da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP) e coordenadora da pesquisa, que contou com financiamento da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).

Evidências preliminares

Os primeiros testes descritos no artigo foram feitos com duas linhagens de células epiteliais – uma originária de pulmão humano (Calu-3) e outra de rim de macaco (Vero CCL81, um dos principais modelos para estudo do SARS-CoV-2) –, que foram infectadas in vitro com o novo coronavírus.

Os pesquisadores observaram que a infecção ativa na célula epitelial um processo conhecido como apoptose – um tipo de morte celular programada que, normalmente, não desperta uma resposta inflamatória no organismo.

Paralelamente, em outro conjunto de células epiteliais, os pesquisadores induziram a apoptose por meio de radiação ultravioleta.

As células apoptóticas de ambos os grupos (infectadas com o coronavírus e expostas à radiação) foram coletadas e colocadas para interagir com culturas de macrófagos derivados de monócitos humanos (um dos tipos de leucócitos do sangue).

Como esperado, ao internalizar as células mortas pela radiação, os macrófagos assumiam um fenótipo anti-inflamatório, que favorece a reparação do tecido lesado.

Já quando fagocitavam as células que continham o SARS-CoV-2 ainda viável (capaz de infectar outra célula) essa programação se perdia e os macrófagos passavam a secretar altas quantidades de moléculas pró-inflamatórias, como a interleucina 6 (IL-6) e a interleucina 1 beta (IL-1β).

“Nossos resultados fornecem evidências de que o englobamento de células moribundas que carregam o SARS-CoV-2 viável muda a programação anti-inflamatória e resolutiva [da inflamação] em direção a um fenótipo inflamatório. A exacerbada produção de citocinas observada em resposta à internalização de células mortas infectadas pode contribuir para a hiperinflamação associada à covid-19”, afirmam os autores no artigo