Um estudo realizado pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) fez uma grande descoberta sobre o coronavírus. Segundo pesquisadores, o vírus se aloja nas glândulas salivares e utiliza suas células como "incubadoras" para se multiplicar.
O estudo publicado no Journal of Pathology foi realizado com apoio da Fapesp, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. A ideia de investigar estas células partiu de cientistas que analisaram e encontraram altas concentrações do vírus na saliva humana.
As glândulas salivares analisadas no estudo vieram de 24 pacientes que faleceram pela doença no Hospital das Clínicas da FMUSP, todos com média de 53 anos de idade. A conclusão foi de que glândulas como a parótida, submandibular e menores são utilizadas como incubadoras para multiplicação do coronavírus no organismo.
Além da alta concentração de vírus na saliva, cientistas já suspeitavam dessa relação entre o vírus e as glândulas, pois o ducto salivar possui o receptor ACE-2, que é pelo qual a proteína Spyke se liga à célula para infectá-la.
Uma análise molecular via RT-PCR mostrou que mais de dois terços das glândulas salivares destes pacientes estavam infectadas pelo coronavírus, evidenciando o potencial dela em infectar estes tecidos.
"Observamos vários vírus aglomerados nas células das glândulas salivares — um indicativo de que estão se replicando em seu interior. Não estavam presentes nessas células passivamente", disse Bruno Fernandes Matuck, primeiro autor do estudo e doutorando na Faculdade de Odontologia da USP.
O estudo será replicado em outras instituições, primeiro na Universidade da Carolina do Norte, dos Estados Unidos, onde será analisado se idosos possuem mais receptores ACE-2, bem como se a boca pode ser a grande porta de entrada para o coronavírus no organismo, afinal ela tem maior área exposta de tecido com estes receptores em comparação com o nariz.
Por fim, este estudo pode ajudar a colaborar ainda mais na prevenção e ressaltar a importância do uso de máscara para evitar a contaminação, afinal a Covid-19 pode causar síndromes graves mesmo em crianças, que anteriormente se acreditava serem mais resistentes à doença.