Depois de três anos de pesquisa e utilização de técnicas de clonagem, um laboratório de micropropagação de Holambra conseguiu desenvolver copos-de-leite coloridos. Três produtores - um de Holambra, outro de Minas e um do Ceará - já estão plantando copos-de-leite amarelo, rosa, laranja com rosa e branco e, aos poucos, as novas flores começam a chegar ao mercado.
A multiplicação clonal de plantas de interesse econômico, explica a bióloga Monique Segeren, da empresa de biotecnologia Proclone, tem inúmeras vantagens em relação à propagação vegetativa tradicional e é uma grande aliada do produtor para alcançar um mercado que, apenas em flores, movimenta US$ 1,3 bilhão ao ano - e que cresce 20% neste período.
O mercado brasileiro ainda é pequeno (oconsumo per capita de US$ 2,60, contra US$ 180 no Japão, por exemplo) e funciona movido a novidades. "A produção de flores tem enorme potencial no Brasil, mas é preciso vencer várias barreiras, como a fraca produção de mudas sadias e as próprias novidades para o consumidor" , diz a bióloga.
Os copos-de-leite coloridos são nativos da Nova Zelândia e África do Sul. A introdução dessa planta (chamada Zantedeschia aethiopica) no Brasil está sendo possível a partir da produção de clones de matrizes trazidas da Holanda. Monique conta que eles serão o principal produto da empresa. "Estamos apostando nesta for, e vamos aperfeiçoá-la, buscando espécies resistentes a vírus e bactérias e também tentando conseguir novas cores" , afirma.
Uniformidade é vantagem
A clonagem de plantas tem a vantagem de proporcionar a uniformidade do produto final, porque a partir de parte da planta matriz selecionada é possível a produção de inúmeros indivíduos idênticos, o que facilita sua condução posterior em casa-de-vegetação e a comercialização final.
Outra vantagem é a rapidez de multiplicação. "É possível a obtenção, em um único ano, de até um milhão de plantas-filhas idênticas à planta original, desde que todas as fases do processo tenham sido previamente bem definidas" , avalia a bióloga Monique Inês Segeren, Proclone.
O projeto dos copos-de-leite foi financiado pelo Conselho nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Devido à necessidade constante do mercado de novas cores e formas de plantas e flores, comercialmente o projeto tem tudo para dar certo, acredita a diretora da empresa especializada na produção de mudas de espécies hortícolas e ornamentais em Holambra.
Monique obteve as mudas a partir da cultura de meristemas, ou seja, de tecidos constituídos por células com características embrionárias.
Um minúsculo pedaço de meristema pode produzir até 5 mil pequenas mudas no processo de micropagação em laboratório. Todo o processo leva muito tempo, entre 18 e 24 meses, até que as mudas possam ser plantadas em vasos e finalmente transferidas para as estufas dos floricultores.
A partir de parte do meristema, novas plantas vão surgindo, formando pequena touceira, com brotações laterais. Essas brotações são separadas e plantadas novamente em vidros com meio de cultura e assim sucessivamente, por no máximo sete vezes (além desse limite, as mudas podem sofrer deformação).
A Fazenda Terra Viva, em Holambra, é parceira da ProClone nesse projeto. A produção, por enquanto, é pequena, porque é necessário um determinado tempo para que a planta produza flores em quantidade. Em dois ou três meses, as plantas que estão na estufa começarão a florir. A Proclone vem produzindo 200 mil mudas por ano de copo-de-leite.
Notícia
Correio Popular (Campinas, SP)