Não deveria ser assim. A gente não deveria recorrer às efemérides para manter vivo na nossa memória coletiva a importância de valorizar um elemento tão essencial. Sem água não tem indústria, não tem agricultura. Sem água não tem saúde. Sem água não há vida. Ainda assim, todos os anos, é preciso lembrar o nível do nosso atraso. No Brasil, 40% da água potável que é distribuída se perde pelo caminho, apontou pesquisa da CNI divulgada ontem à noite pelo Jornal Nacional . O estudo indica que é preciso investir mais de R$ 42 bilhões para reduzir pela metade até 2033 o desperdício de água na distribuição.
Todo ano é assim. Não fosse uma pesquisa da CNI desta vez, seria um estudo do Instituto Trata Brasil a ganhar visibilidade no telejornal de maior audiência do país com dados que mostram o tamanho do buraco em que estamos metidos há muito tempo quando se fala sobre acesso à água e esgoto tratados. Nesse aspecto, informa o Trata Brasil, cerca de 100 milhões de pessoas não têm acesso à coleta de esgoto adequada e somente 50% do volume de esgotos gerados no país são tratados. Vou repetir: 100 milhões de pessoas!
Como se vê o buraco é bem mais embaixo. O governo federal estima que seriam necessários investimentos de R$ 70 bilhões por ano até 2033 para virar esse jogo. Em 2020, o investimento foi de R$ 13,7 bilhões. Ano passado o marco legal do saneamento básico permitiu ampliar a participação do setor privado nos serviços de distribuição de água e de coleta e tratamento de esgoto, mas ainda estamos a quilômetros de distância do ponto de virada.
Nosso copo parece estar ainda meio vazio, embora essa não seja uma questão exclusiva do Brasil. Em Dacar, no Senegal, onde o mundo se reúne esta semana para buscar soluções para a segurança hídrica global, há pesquisas que mostram o copo meio cheio. Estudo da ONU divulgado ontem, na abertura do 9º Fórum Mundial da Água, aponta que 99% das reservas de água doce no mundo estão debaixo da terra. E o Brasil tem os dois maiores aquíferos do mundo: Amazonas (162,5 mil km cúbicos de água armazenada) e o Guarani (37 mil km cúbicos de água), que também se estende pela Argentina, Paraguai e Uruguai.
Embora seja um dado realmente animador, não deve nos levar à acomodação frente aos atuais desafios de gestão da água na indústria, na agricultura e nas cidades. Ao menos, não deveria ser assim!
#DESTAQUES
Água ruim – A Mata Atlântica tem apenas 7% dos rios e corpos d´água considerados de boa qualidade, de acordo com levantamento da SOS Mata Atlântica. 20% têm água ruim ou péssima.
Água – Suplemento especial do Valor de hoje sobre a Água mostrou iniciativas para estimular o uso racional da água com tecnologia e eficiência . O especial traz também a atual situação hídrica do país, com secas em diversas regiões, como no Nordeste .
Saneamento – Os municípios com os melhores índices de saneamento e acesso à água potável investem quase três vezes mais no setor do que aqueles com os piores indicadores, mostra um ranking feito anualmente pelo Instituto Trata Brasil.
#ARTIGOS
Sarah Lima, Renato Régis e Mikaelle Farias – Como a transição energética pode ajudar o Nordeste
#EMPRESAS
Neo Future está considerando fatores ESG nos processos de investimento
Ambipar anunciou a compra da Flyone, especializada em serviços aéreos de atendimento emergencial de combate a incêndios florestais
MetLife aportou R$ 1 milhão em projeto para jovens negros em universidades
Coca-Cola, Ambev e Votorantim estão entre as empresas que têm programas de reflorestamento ou conservação para o resgate de nascentes
Localiza vai convidar cliente a compensar carbono de carro alugado
Cesp iniciou a operação da 1ª usina termossolar do Brasil
#ENTREVISTAS
Transição ESG – Iara Poppe, da área de pesquisa da Globo, e Tadeu Assad, do IABS, falam hoje sobre como as empresas e marcas vivem a transição da sustentabilidade ao ESG, às 15h30, na Live do Valor.
#EVENTOS
Educação – O I Seminário FASES de Educação Ambiental, online e gratuito, está com inscrições abertas até hoje.
Rio de Janeiro – Planetapontocom e Prefeitura do Rio de Janeiro realizam hoje, a partir das 10h30, ações do projeto Esse Rio é Meu com alunos do Ciep Presidente Agostinho Neto, no Humaitá.
#CLIMA
Amazônia – O Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI), sediado na USP com financiamento da Shell e da Fapesp, está desenvolvendo um banco de dados sobre as emissões de gases de efeito estufa (GEEs) na região amazônica.
Chuvas – O padrão de chuvas no Brasil está mudando e veio para ficar. Tempestades concentradas em algumas regiões num curto período de tempo serão cada vez mais comuns, assim como secas prolongadas, resultado das mudanças climáticas causadas pelo desmatamento.
#DIVERSIDADE
Índice racial – A Associação Pacto de Promoção da Equidade Racial lançou ontem, Dia Internacional contra a Discriminação Racial, o Índice ESG de Equidade Racial Setorial.
#ENERGIA
Guerra – O secretário-geral das ONU, António Guterres, qualificou de ‘’loucura’’ a corrida pelo uso de combustíveis fósseis para reduzir a dependência energética em relação à Rússia. Segudo ele, isso ameaça as já combalidas metas de combate as mudanças climáticas.
#FINANÇAS
Novas regras – A SEC (Securities and Exchange Commission), órgão que regula os mercados de capitais americanos, aprovou uma proposta para exigir a divulgação padronizada das informações sobre as emissões de gases de efeito-estufa pelas companhias listadas nas bolsas americanas – inclusive as brasileiras.
Investimentos ESG – O volume de investimentos e perfil ESG tem aumentado no mercado de capitais, especialmente no setor de saneamento. A água é considerada ouro azul.
#MEIO AMBIENTE
Novo parque – Após a assinatura do acordo de posse com o governo federal, a Prefeitura de São Paulo pretende instalar um parque e um museu aeroespacial na área municipal do aeroporto Campo de Marte.
#POLÍTICA
Biometano – O governo federal lançou ontem um programa com medidas de incentivo à produção e ao uso sustentável de biometano.
#SOCIAL
Oportunidades – Com 47 empresas, o Mover vai reunir vagas para profissionais negros. O movimento foi criado após o assassinato de João Alberto Silveira Freitas por seguranças no estacionamento do Carrefour em 2020.