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Copaíba vira pele artificial

Publicado em 14 janeiro 2015

Uma equipe de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) provou em ensaios laboratoriais a eficácia de um substituto cutâneo tridimensional tendo na composição uma substância extraída de uma árvore nativa do País: a copaibeira (Copaifera langsdorffii). Desenvolvido ao longo do doutorado da bióloga Ana Luiza Garcia Millás, do Departamento de Engenharia de Materiais e Bioprocessos da Faculdade de Engenharia Química da Unicamp, com bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o estudo ganhou em setembro o primeiro lugar no prêmio de inovação do 8º Encontro Nacional de Inovação em Fármacos e Medicamentos promovido pelo Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento em Fármacos e Medicamentos em conjunto com a Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica. As informações são da edição on-line da revista “Pesquisa Fapesp”.

“O tratamento de queimaduras e lesões cutâneas extensas e graves é um desafio para a medicina regenerativa. Existem algumas alternativas para a substituição da pele, mas nenhuma delas atende a 100% da demanda e das necessidades para uma boa cicatrização. Nosso objetivo é criar uma pele artificial que possa ser absorvível pelo organismo e solucionar problemas crônicos como úlceras, escaras profundas e queimaduras de terceiro grau”, diz Ana Luiza. “Queremos desenvolver um substituto cutâneo 3D, que, além do papel reparador, tenha também função regenerativa, estética e facilite a cicatrização”. O projeto “Desenvolvimento de scaffolds bioativos incorporados com óleos vegetais para regeneração de tecido cutâneo a partir da tecnologia de eletrofiação” tem investimento de R$ 116.615,19 da Fapesp.

Cerca de um milhão de pessoas com queimaduras são registradas por ano no País. Desse total, 10% buscam atendimento hospitalar e 2.500 pacientes morrem. São os acidentes com fogo a segunda causa de morte na infância no Brasil e nos Estados Unidos. Por isso, a criação em laboratório de substitutos de pele para uso como enxerto tem sido um importante foco de pesquisa nos últimos 30 anos. Em vários países cientistas tentam desenvolver uma espécie de pele artificial que possa ser aplicada com sucesso em pessoas com lesões graves.

Polímero - A nova pele artificial será produzida a partir de uma solução feita com polímero absorvível PLGA – sigla para poli (ácido láctico-co-glicólico) –, óleo-resina de copaíba e um solvente. Muito usado na fabricação de implantes, o PLGA é gradualmente degradado e absorvido pelo organismo do paciente. Depois de pronta, a solução de polímero é transformada em uma fibra por uma técnica conhecida como eletrofiação. A estrutura resultante desse processo, também chamado de scaffold, servirá de suporte ou de uma armação celular tridimensional, mimetizando a arquitetura da pele. Paralelamente, fibroblastos, que são tipos de células da derme, a parte mais profunda da pele, são retirados por biopsia do paciente queimado. Essas células são cultivadas sobre a estrutura fibrosa que, após alguns dias, é implantada no paciente.

Resultados com a planta têm sido promissores, dizem cientistas

De acordo com Benedicto de Campos Vidal, professor emérito do Instituto de Biologia da Unicamp e especialista em colágeno, os resultados in vitro alcançados até o momento são bem promissores e permitiram chegar a uma importante constatação: as células estão aderindo, proliferando, se diferenciando e, aparentemente, produzindo colágeno, proteína fundamental no processo de cicatrização. “Tudo indica que os fibroblastos (células da derme) estão resultando em uma matriz de colágeno. Isso é fundamental para o sucesso da pesquisa”, diz Vidal. A nova estrutura celular tem como função dar suporte para que a epiderme, a parte mais superficial da pele, possa proliferar. Além de trabalhar com células do próprio paciente, Ana Luiza pretende utilizar também fibroblastos provenientes de terceiros. “A vantagem de usar células retiradas de outras pessoas é a possibilidade de produzir em larga escala para um banco de pele. O ponto negativo é que aumentam as chances de rejeição.”

Um aspecto relevante da pesquisa é o emprego da técnica de eletrofiação, conhecida em inglês como electrospinning, que tem atraído interesse no campo da engenharia de tecidos pela facilidade em produzir fibras ultrafinas e com alta diferença entre superfície e volume sem a necessidade de uma instrumentação cara e complexa. A técnica, aplicável a uma grande variedade de polímeros naturais ou sintéticos, também se destaca por permitir o controle de diâmetro, porosidade e topografia dos filamentos. Ela também aumenta a eficiência no transporte de nutrientes entre a matriz de fibras e o ambiente externo.