Trancity, da empresa paulista Scipopulis, é utilizada em cidades da América Latina, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte no Brasil e Santiago no Chile
Mais uma solução para o setor de transportes foi destaque na COP26, a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, realizada em Glasgow, na Escócia.
A solução é a Trancity, ferramenta que transforma bases de dados operacionais reais da rede de transporte público das cidades em mapas e gráficos de fácil visualização para auxiliar na gestão pública da mobilidade urbana.
Por meio da solução, é possível avaliar o impacto ambiental e os efeitos na redução do tempo de viagem com a implementação de corredores exclusivos para ônibus e estimar a quantidade de energia necessária para operar uma frota totalmente elétrica, por exemplo.
A plataforma foi desenvolvida pela startup paulista Scipopulis, por meio de projetos apoiados pelo Programa Pesquisa Inovativa em PIPE (Pequenas Empresas), da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa Do Estado de São Paulo).
“A plataforma também permite fazer o planejamento operacional da transição de linhas de ônibus a diesel para elétricos ao fornecer estimativas dos investimentos necessários, indicar o número de veículos que serão necessários e quais garagens deverão ser eletrificadas e avaliar se haverá energia suficiente para abastecer a frota, entre outras questões”, detalhou o cofundador e sócio da Scipopulis, Roberto Speicys.
O Trancity já foi implementado em grandes cidades da América Latina, como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Santiago, no Chile.
Nas últimas semanas, a plataforma foi apresentada para representantes de órgãos responsáveis pela gestão do transporte público de diversos países. Na última quarta-feira, 03 de novembro de 2021, para líderes da sociedade civil, políticos e grandes investidores presentes na COP26, que vai até sexta (12).
“Já tivemos a oportunidade de conversar e apresentar o Trancity para representantes de órgãos responsáveis pela descarbonização do transporte público de países como Escócia, Polônia, Estados Unidos, Austrália, Dinamarca, Alemanha, Espanha, Estônia e Lituânia, onde iremos iniciar nas próximas semanas um projeto-piloto”, disse Speicys.
STARTUP
Em nota, o Governo do Estado informou que a Scipopulis foi uma das cinco startups brasileiras selecionadas para participar do CivTech Alliance COP26 Global Scale-up Programme. As outras quatro são a Eco Panplas, Tesouro Verde, Um Grau e Meio e a Lemobs.
Idealizado pela CivTech Alliance, uma rede de organizações criada para trocar experiências de gestão pública, o programa tem o objetivo de dar visibilidade a scale-ups (startups de crescimento acelerado no longo prazo) com soluções para o combate às mudanças climáticas.
MUDANÇAS
A plataforma começou a ser desenvolvida em 2014 com o propósito original de permitir melhorar o planejamento das rotas de ônibus, além da fiscalização pelo poder público das empresas concessionárias. À medida em que começou a ser implementada nas cidades, os gestores da rede de transporte começaram a apontar novas necessidades que foram integradas à ferramenta.
“Fomos entendendo mais todas as dificuldades que o gestor público tem no planejamento de transporte e passamos a agregar novas funcionalidades à plataforma para atender às demandas”, contou Speicys, em nota.
Em parceria com gestores da rede de transporte de Santiago, os cientistas de dados da empresa desenvolveram um painel sinótico, por meio do qual é possível visualizar, em tempo real, a posição dos ônibus em operação na cidade por pontos de parada, em uma linha reta, e verificar a velocidade deles. Dessa forma, é possível controlar a distância entre os veículos, a fim de manter a regularidade da operação.
“A operação da rede de transporte público das cidades tem que funcionar como um carrossel. É preciso ter um ônibus separado do outro em um determinado intervalo de tempo, de forma regular, para que os passageiros saibam quanto tempo vão ter que esperar e que não irão embarcar em um ônibus lotado”, explicou também Speicys.
Já em parceria com gestores do transporte de Belo Horizonte e do Rio de Janeiro, a empresa empregou a plataforma para estimar o impacto ambiental do transporte público e o efeito de medidas para aumentar a fluidez da rede de ônibus, como a implementação de corredores exclusivos.
Além do ganho na operação, com o aumento da velocidade dos ônibus, a redução do tempo de viagem e melhoria na qualidade do serviço, uma vez que é possível aumentar a frequência dos veículos, sem expandir a frota, a implantação de corredores exclusivos diminui as emissões de GEE por esse setor, segundo Speicys.
“Um ônibus operando em uma velocidade maior, em um corredor exclusivo, emite menos gases de efeito estufa”, detalha.
Também foram mapeadas as áreas de alagamento em linhas de ônibus dessas duas cidades a fim de possibilitar aos gestores públicos operar melhor a rede em condição de chuva.
A cidade de Belo Horizonte, por exemplo, foi fortemente afetada por chuvas no verão anterior à pandemia de covid-19, que causou alagamentos em áreas da cidade até então sem registro de acúmulo de água.
“Os gestores da cidade foram surpreendidos com avenidas que até então nunca tinham sofrido alagamento e que, com as fortes chuvas, ficaram completamente alagadas. Essas vias são eixos importantes do transporte na cidade”, disse Speicys.
“Estamos estabelecendo uma parceria com a Climatempo para gerar alertas de tempestade. Com isso, será possível identificar as linhas de ônibus que apresentam maior risco de serem afetadas nas cidades, em tempo real”, finalizou.
Jessica Marques para o Diário do Transporte