O Governo brasileiro, a exemplo de outros países em desenvolvimento, tem buscado instituir um ambiente político legal no contexto da Modernização Ecológica, que prega a coexistência entre desenvolvimento econômico e ambiental. Como consequência, foi promulgada em 2010, com data de definitiva efetivação em 2014, a Nova Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que propõe, dentre outros aspectos, a responsabilidade estendida entre produtores, distribuidores, varejistas e consumidores finais com o pós-consumo dos produtos e embalagens.
Em função desse novo contexto institucional, as organizações tendem a buscar práticas operacionais ambientalmente mais adequadas. Como a responsabilidade ambiental será cobrada dos vários elos de uma cadeia produtiva, práticas de green supply chain management (GSCM) emergem como uma oportunidade de melhorar a competitividade e o desempenho ambiental organizacional.
Projeto de pesquisa financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), investigou junto a empresas certificadas pela ISO 14001 e localizadas no Brasil se a adoção de práticas de cooperação com cliente e de compras verdes (tipos de práticas de GSCM) afetam na melhoria do desempenho ambiental organizacional. Os resultados da pesquisa apontam que: tanto práticas de compras verdes como de cooperação com cliente são benéficas para a melhoria do desempenho ambiental organizacional, mas a influência da cooperação com cliente é mais significativa; e,em particular, fornecer aos fornecedores especificações de projeto dos itens comprados que incluam requisitos ambientais, e a cooperação com cliente para o desenvolvimento e o uso de embalagens verdes são ações de maior destaque para melhorar o desempenho ambiental no que tange as dimensões reputação ambiental e melhoria geral do desempenho ambiental.
A fim de propor guidelines ao setor produtivo para responder aos desafios da PNRS, investigamos adicionalmente como empresas brasileiras líderes em seus segmentos de mercado consideram os papéis dos clientes e dos fornecedores para a melhoria do desempenho ambiental organizacional, tendo-se os seguintes resultados: os papéis dos fornecedores podem ser: cumprir especificações ambientais técnicas e contratuais e serem proativos e inovadores ao oferecerem novas soluções ou melhorarem seus processos; e os papéis dos clientes podem ser: indutores da melhoria ambiental da organização (por exemplo, comunicando uma demanda e colaborando na busca de novas soluções tecnológicas, e sendo envolvidos no processo de "stakeholders engagement"); e/ou difusores da solução ambiental da organização (por exemplo, uso de embalagem refil ou retornável, e uso de selo verde na embalagem do produto para incentivar o consumo de um produto ambientalmente adequado).
Fornecedores e clientes são muito importantes, cada um possui um papel para suportar as organizações a melhorarem o desempenho ambiental, mas, em função da responsabilidade estendida dos produtores, a cooperação com o cliente, em particular com o olhar para as embalagens e o pós-consumo delas, é importante, pois as organizações tendem a depender dos clientes para que seus produtos não sejam alvo da legislação ambiental brasileira.
Portanto, a pesquisa, resultado de um estágio de pós-doutorado no exterior desenvolvido em colaboração junto a pesquisador da University of London, aponta que as organizações que atuam no Brasil ou pretendem fazer negócios com empresas no Brasil precisam considerar o cliente como um stakeholder que pode exercer um papel diferente ao de um elo de pressão. Os clientes podem ser indutores e difusores da solução ambiental, então, criar mecanismos de comunicação e troca de know how com eles, como por exemplo: (a) uso de ações de open innovation, (b) mapeamento de redes sociais para identificar demandas e comportamentos de consumo, (c) intensificar o uso da ferramenta "stakeholders engagement", (d) ampliar canais de marketing verde, entre outros, são relevantes para a busca da melhoria ambiental das organizações e para responder a PNRS.
Sobre a autora
Ana Beatriz Lopes de Sousa Jabbour: Graduada, Mestre e Doutora em Engenharia de Produção. É Professora do Departamento de Engenharia de Produção da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Engenharia de Bauru. É Pesquisadora do CNPq e da FAPESP para temas de Green Supply Chain Management no Brasil. E-mail: abjabbour@feb.unesp.br
Fonte/Autoria: UNESP