O acordo vai apoiar a realização conjunta de projetos de pesquisa entre pesquisadores de instituições de ensino e a indústria
A Dedini Indústrias de Base e a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) assinaram ontem em Piracicaba um acordo de cooperação no total de R$ 100 milhões, que apoiará projetos conjuntos entre pesquisadores de instituições de ensino e pesquisa no Estado de São Paulo e na indústria de base. A formalização do convênio aconteceu durante a abertura do 5º Simtec (Simpósio Internacional e Mostra de Tecnologia da Agroindústria Sucroalcooleira) e teve a participação do governador do Estado de São Paulo, José Serra (PSDB).
"O século 20 foi do ouro negro, do petróleo. No que depender do governo do Estado e da Fapesp, o século 21 será o século do ouro verde em matéria de combustíveis, menos daninho e muito mais saudável ambientalmente", disse Serra. Durante a assinatura ele sugeriu que parte dos recursos seja destinada a pesquisas para o desenvolvimento de máquinas para a colheita de cana em áreas de declive, o que pode ajudar na antecipação do fim das queimadas.
Com duração de cinco anos, o convênio vai apoiar a realização conjunta de projetos de pesquisa entre pesquisadores de instituições de ensino superior e pesquisa no Estado de São Paulo e da indústria, todos voltados para o desenvolvimento de processos industriais competitivos de transformação de cana-de-açúcar em etanol.
Para Carlos Vogt, presidente da Fapesp, "o convênio é da maior importância do ponto de vista do financiamento das atividades no país voltadas para pesquisa científica e tecnológica sobre um tema que tem uma relevância econômica, social e política muito grande".
Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp, destacou a importância da pesquisa para o avanço do conhecimento e, no caso da pesquisa tecnológica aplicada, afirmou que "mais do que as universidades e instituições de pesquisa, as empresas são capazes de identificar oportunidades de mercado e aplicações.
"A Dedini é um parceiro natural porque é a principal empresa brasileira, e uma das principais no mundo, em tecnologia industrial para produção de etanol, além de ter um expressivo esforço interno de pesquisa e desenvolvimento", disse.
"O Brasil é líder mundial em cana-de-açúcar e seus derivados, produzindo o etanol mais competitivo. O custo desse produto teve uma redução da ordem de 60% nas últimas décadas, devido ao aumento da escala de produção, da maior experiência e, principalmente, pelo expressivo desenvolvimento tecnológico do setor sucroalcooleiro. O espetacular interesse global que hoje existe pela bioenergia tornou o etanol um dos centros de atenção da ciência e da tecnologia mundiais. O Brasil precisa intensificar suas ações nessa área para garantir a sua posição", afirmou José Luiz Olivério, vice-presidente de Tecnologia e Desenvolvimento da Dedini.
O aproveitamento total da cana, assim como o domínio e a possibilidade de aplicação em larga escala de técnicas de processamento, manterão o Brasil entre os grandes produtores e exportadores de álcool combustível.
O convênio assinado ontem no Simtec entre a iniciativa privada e a Fapesp prevê investimentos de R$ 50 milhões para cada entidade em pesquisas de tecnologias industriais para a obtenção de etanol de cana, para os próximos cinco anos. Elas devem alcançar aproximadamente 35 projetos que utilizam a cana-de-açúcar como estudo, entre universidades públicas e privadas do Estado de São Paulo, além de institutos de pesquisa. O convênio prevê também o aperfeiçoamento e descobertas de tecnologias de processamento de biomassa da planta.
Serão incentivadas propostas de pesquisa que proponham processos mais eficientes de hidrólise ácida e enzimática, métodos analíticos internacionalmente reconhecidos para definir parâmetros da hidrólise e avaliar resíduos, caracterização e tratamento de bagaço, dissolução e remoção da lignina da fibra (polímero que compõe o "esqueleto" da cana) e estudo de alternativas em hidrossolventes e ácidos, entre outros.
Esperam-se também pesquisas que avaliem compostos orgânicos derivados da vinhaça aplicada à lavoura, estudos sobre a queima de vinhaça (incluindo impacto ambiental e geração de créditos de carbono), uso da palha da cana como combustível em caldeiras e queima da glicerina em caldeiras para eliminar impactos ambientais.
Pesquisas que explorem novos processos de destilação para a obtenção de diversos tipos de álcool, dinâmica de fluídos e estudos sobre a eficiência energética em plantas industriais produtoras de etanol, por exemplo. Serão incentivados estudos de processos de fermentação com levedura floculante, fermentação de alto teor alcoólico e de alta eficiência, novos materiais que reduzam o desgaste mecânico, aumentem a eficiência do processo e diminuam os custos de manutenção, além de softwares que avaliem o desempenho das operações agrícolas e industriais no que diz respeito a eficiência energética. (colaborou Camila Ancona)