Dois terços da superfície terrestre são ocupados pela água. Dá até a impressão de que a humanidade jamais vai enfrentar a falta do líquido imprescindível para a preservação da vida. Ledo engano. A ameaça existe de fato. Acontece que apenas 2,5% de toda a reserva hídrica do planeta é apropriada para o consumo humano. Ou seja, 97,5% dos 1,4 bilhão de metros cúbicos disponíveis estão confinados nas calotas polares e no gelo eterno das montanhas. Portanto, conhecer a ameaça e investir contra o desperdício são as únicas formas de evitarmos que, um dia, as torneiras sequem.
As imagens alarmantes da situação estão muito próximas de nós. A Represa de Salto Grande, em Americana, formada com as águas represadas do Rio Atibaia, recebem cerca de 40 toneladas de esgoto a cada dia, a maior parte proveniente dos municípios próximos de Campinas, que tratam uma parcela pequena de seus dejetos industriais e residenciais. O Rio Piracicaba, formado após o encontro dos rios Atibaia e Jaguari, vai entrar em colapso até 2005, pelas previsões pessimistas de Francisco Carlos Lahoz do Comitê Intermunicipal das Bacias dos Rio Piracicaba, Capivari e Jundiaí.
O quadro será revertido se os efluentes domésticos forem tratados, com a expansão das estações de tratamento de esgoto (ETEs) e a adaptação tecnológica das fábricas.
Pelas estimativas de Lahoz, só 20% de todo o esgoto lançado pela Região Metropolitana de Campinas (RMC) chega tratado ao Rio Piracicaba.
E há outras ameaças. Lahoz prevê que, em 40 anos, o assoreamento estará comprometendo 80% da Represa de Santo Grande. É imprescindível a recomposição da mata ciliar nas margens. Cuidado que começou a ser tomado a partir de uma iniciativa da CPFL.
CIDADÃO
Os brasileiros, no entanto, não devem permanecer acomodados, à espera de iniciativas das empresas e do Poder Público para socorrer nossos rios. A preservação do patrimônio hídrico é um dever de cada cidadão. E a gente sabe que muita gente despreza este compromisso.
Um passeio rápido pela periferia de Campinas é suficiente para que o visitante observe, chocado, que as margens dos córregos, ribeirões e rios se transformam, muitas vezes, em imensos depósitos de lixo.
Há também os casos em que as áreas ribeirinhas são usadas para a construção de barracos. E é muito séria, e absolutamente descontrolada, a emissão clandestina de esgoto nas águas. Mais que nunca, é necessário que o brasileiro assuma o compromisso de cuidar dos recursos hídricos. Sem cuidados cotidianos, a rede hospitalar vai continuar repleta de pacientes que adoeceram por causa do contato com a água suja. E, no futuro, pode faltar até água para beber.
CRIANÇAS AJUDAM A LIMPAR O ANHUMAS
Juntos, técnicos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Prefeitura e Unicamp coordenaram, em junho, uma campanha simbólica para a limpeza do maltratado Ribeirão Anhumas, em Campinas.
Durante um dia inteiro, dezenas de crianças residentes na favela da Rua Moscou trabalharam no mutirão para a remoção do lixo das margens.
A partir de agora, os técnicos estarão dedicados nas pesquisas sobre o solo, a vegetação ribeirinha e a qualidade da água. De acordo com Rosely Torres, pesquisadora do IAC que integrava a equipe organizadora do evento, a partir da educação ambiental será possível traçar um diagnóstico socioambiental daquela região.
O próximo objetivo é submeter à Fapesp alternativas para a recuperação da qualidade de vida na área. Para atrair a atenção da garotada, foi organizada uma caminhada ecológica, para o recolhimento do lixo armazenado em recipientes de madeira. Para animar a festa, estiveram presentes grupos de dança, violeiros, atores de teatro e cantores de rap.
O evento procurou conscientizar os moradores da área sobre os riscos constantes de inundação na favela, provocados principalmente pelo lixo acumulado. Foi um exemplo simples de que a salvação da água precisa da mobilização de todos os brasileiros.
FAÇA SUA PARTE
O cidadão comum precisa colaborar com a recuperação dos recursos hídricos. Para isso, basta não jogar o lixo no córrego. "Mesmo nas áreas de ocupação, onde o caminhão da coleta é impossibilitado de trafegar por todas as ruas, existem pontos montados para o recolhimento dos detritos" explica Valdir Bizzo, diretor do Departamento de Limpeza Urbana (DLU).
Existe gente capacitada até para recolher peças grandes, como os sofás e pneus velhos. Para pedir informações sobre como funciona a coleta, em qualquer ponto do município, basta telefonar para (19) 3272-4405 ou 3273-8202, no DLU. (RV)
Notícia
Correio Popular (Campinas, SP)