A expansão da pecuária na floresta amazônica brasileira foi a principal razão do desmatamento nesta região com maior biodiversidade do mundo nas últimas seis décadas, segundo um estudo da Universidade de São Paulo. Paulo (USP) divulgado nesta sexta-feira.
Na opinião dos cientistas brasileiros, esse cenário foi forjado mais sob a pressão da demanda por carne do mercado interno do que das exportações. “A demanda externa por matérias-primas é muitas vezes considerada a principal causa do desmatamento, mas embora seja muito relevante, os mercados internos de outras regiões do Brasil exercem maior pressão”, disse o coordenador do estudo Eduardo Haddad, professor da Faculdade de Economia da USP.
O estudo da equipe brasileira foi publicado na revista Nature Sustainability e divulgado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). A pecuária, em primeiro lugar, e a agricultura, em segundo, foram as principais razões para o desmatamento registrado desde o século 20 na Amazônia brasileira, um bioma do qual 23% foi degradado, indicou o relatório.
“Nosso estudo mostra que 83,17% do desmatamento foi causado por demandas externas à Região Amazônica e apenas 16,83% à própria região. Dentro dos 83,17%, descobrimos que 58,68% foram devido a demandas de outras regiões do Brasil, e 23,49%, a comércio internacional”, disse Haddad.
O cientista explicou que, diferentemente da carne, os grãos cultivados na Amazônia brasileira têm como destino principal o mercado externo.
Segundo Haddad, a expansão da pecuária respondeu principalmente ao crescimento do consumo de carnes, laticínios e couro em outras regiões do país. O consumo de carne no Brasil aumentou acima da média mundial a partir da década de 1960.
O estudo destaca que, com base em dados de 2015, a Amazônia foi responsável por 65% do desmatamento em todo o Brasil, e a pecuária, incluindo a praticada em terras públicas ocupadas ilegalmente, foi a principal causa do desmatamento florestal em 93,4%.
“A demanda econômica originada nas regiões mais desenvolvidas do Brasil impõe uma pressão ainda maior sobre o desmatamento na Amazônia do que as exportações internacionais. Esse conhecimento é muito relevante para orientar políticas públicas e ações da sociedade civil voltadas à preservação ou regeneração”, sublinha a análise.