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Consumo de ultraprocessados por bebês de até um ano favorece bactérias prejudiciais no intestino, diz estudo (65 notícias)

Publicado em 28 de fevereiro de 2025

Não é nenhum segredo que os alimentos ultraprocessadas fazem mal. Um novo estudo reforçou os impactos que essas comidas podem ter em crianças pequenas. Uma pesquisa realizada com 728 crianças de até um ano de idade aponta que o consumo de alimentos ultraprocessados pode favorecer a proliferação de bactérias prejudiciais no intestino, com um efeito mais pronunciado em crianças que não são amamentadas.

Os resultados foram publicados na revista Clinical Nutrition, como parte do Estudo MINA – Materno-Infantil no Acre: coorte de nascimentos da Amazônia ocidental brasileira, que acompanha um grupo de crianças nascidas entre 2015 e 2016 em Cruzeiro do Sul (AC), com financiamento da FAPESP.

Os pesquisadores observaram que crianças que ainda eram amamentadas apresentaram uma maior presença de Bifidobacterium, um gênero de bactérias associado a uma boa saúde intestinal.

Por outro lado, aquelas que não recebiam leite materno e consumiam produtos ultraprocessados – como salgadinhos, biscoitos recheados, bebidas achocolatadas, refrigerantes, sucos artificiais, sorvetes e macarrão instantâneo – tiveram uma maior abundância de gêneros como Selimonas e Finegoldia. Essas bactérias eram menos frequentes no grupo de crianças amamentadas e estão frequentemente relacionadas à obesidade e a doenças gastrointestinais na adolescência e na vida adulta.

“Identificamos ainda que o aleitamento materno atenuou os efeitos prejudiciais do consumo de ultraprocessados na composição da microbiota intestinal. O grupo de crianças que recebia o leite materno e não consumia produtos ultraprocessados apresentou uma microbiota mais estável e com melhores marcadores de saúde, principalmente pela maior abundância de Bifidobacterium”, conta o primeiro autor do estudo, Lucas Faggiani.

“Não existia, até hoje, um estudo com tantos participantes que analisasse, ao longo do primeiro ano de vida, a composição da microbiota intestinal em relação ao consumo de produtos ultraprocessados, justamente quando o sistema imune está se formando. Ainda que a região seja de difícil acesso, esses produtos podem ser obtidos facilmente e acabam substituindo alimentos tradicionais e mesmo o aleitamento materno”, explica Marly Cardoso, professora da FSP-USP e coordenadora do projeto.

Além do tamanho amostral, destaca Faggiani, o estudo se diferencia por ser uma coorte de base populacional realizada em uma região amazônica com grande vulnerabilidade social, permitindo a análise de variáveis pouco exploradas na literatura sobre o tema.

Como o estudo foi feito?

Entre 2016 e 2017, os pesquisadores coletaram amostras quando as crianças da coorte completaram um ano de idade. O procedimento seguiu um protocolo desenvolvido no Instituto de Medicina Tropical (IMT) da Faculdade de Medicina da USP. Os swabs anais contendo as amostras de fezes foram armazenados a baixas temperaturas e enviados para São Paulo. Também foram registrados dados como peso, altura das crianças e as mães responderam a um questionário que incluía a ocorrência ou não de amamentação e os hábitos alimentares da família e da criança.

Além das diferenças nos níveis de Bifidobacterium (elevado em crianças amamentadas e reduzido nas desmamadas) e dos gêneros Selimonas e Finegoldia (mais abundantes naquelas que não mamavam e consumiam ultraprocessados), os pesquisadores também observaram um aumento do gênero Firmicutes no grupo que não recebia mais leite materno, mesmo entre as que não ingeriam ultraprocessados. Esse gênero é um potencial marcador de microbiota adulta, indicando uma maturidade precoce.

“Havíamos notado que o consumo de produtos ultraprocessados ocorria em mais de 80% das crianças participantes do estudo já no primeiro ano de vida, quando a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é não oferecer esses produtos antes dos dois anos de idade. Diante desses resultados, seguimos acompanhando essas crianças para monitorar os possíveis desfechos adversos à saúde em longo prazo”, conclui Cardoso.

Com informações da Agência FAPESP