Quem não já ouviu falar do duelo entre o guerreiro Davi e o gigante Golias? Em tempos modernos, parece que a batalha bíblica ganhou a sua versão on-line e, dessa vez, é protagonizada pelo consumidor Maritônio Barreto e a gigante automobilística Fiat Automóveis, numa briga que se arrasta desde o ano passado. As armas também são outras: o estilingue do guerreiro foi substituído pela home-page e a espada do gigante por ações judiciais.
Após registrar mais de 391 mil acessos, o duelo que ganhou destaque nacional na Internet brasileira caminhava para uma solução amigável. A Fiat contatou o consumidor e enviou à Capital, no dia 21 de janeiro, um diretor para propor um acordo. "Disse a eles que estaria disposto a fazer as pazes se a empresa aceitasse o meu pedido de trazer a Campo Grande um dos seus programas sociais, além de me ressarcir dos prejuízos que tive para bancar essa briga", conta Maritônio. A empresa aceitou, mas quando tudo parecia certo, uma reviravolta jogou os personagens de volta à arena virtual. Por conta disso, a partir de hoje, o protesto do consumidor voltou ao ar, novamente, no endereço www.maritonio.com.br.
Segundo Maritônio, a negociação fracassou porque a Fiat quis proibi-lo de prestar qualquer esclarecimento, a quem quer que fosse, sobre o protesto e os termos, do acordo. O descumprimento resultaria em multa diária de R$ 10 mil. "Enviei um fax ao presidente da Fiat explicando a ele que tenho um compromisso moral e ético com a parcela da sociedade que foi solidária a mim, a quem não podia deixar de dar uma resposta esclarecedora", explica.
A empresa recusou os argumentos de Barreto. "Diante disso, preferi honrar as minhas convicções. Além do mais, sou um jornalista e não posso aceitar mordaça", completa.
A Fiat chegou a enviar, inclusive, um veículo Stilo Abhart de R$ 65 mil para Maritônio, o qual se encontra em exposição na concessionária Matosul. O carro seria dado em troca do seu Peugeot 307, que vale R$ 34 mil, como forma de ressarcimento. "Eles não entenderam o meu protesto. Se eu estivesse a fim de tirar vantagem, eu ficava com esse carro sob qualquer condição, mas há coisas que para mim têm mais valor", ressalta.
Com a homepage de protesto criada para reclamar do mau atendimento da montadora, no final do ano passado, o consumidor deu um tiro certeiro na empresa. Atingida nos brios, a gigante muniu-se de armas jurídicas e disparou uma ação judicial contra Maritônio. No dia 26/12/02, uma liminar concedida pela Justiça mineira tirou a página do ar alegando que ela se tratava de um plágio do site da Fiat. No despacho, o juiz ainda mandou cancelar o domínio www.maritonio.com.br junto à Fundação de Amparo e Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), órgão responsável pelos registros no Brasil.
A fim de contornar o problema, Maritônio criou novos domínios nos EUA e trouxe a sua homepage à tona dois dias depois. Isso permitiu que o protesto ficasse por mais 25 dias no ar, até que a Fiat conseguisse outra liminar, no dia 20-01-2003, suspendendo os novos endereços. "O consumidor foi tolhido em seu protesto, no direito à liberdade de expressão amparado constitucionalmente", atesta Kaminski.
Por conta do fracasso do acordo, Maritônio volta com seu protesto no endereço www.maritonio.com.br, desta vez com visual totalmente diferente do site da Fiat.
O Correio Informática entrou em contato com a Fiat e, até o fechamento desta edição, a empresa não deu sua versão.
Notícia
Correio do Estado (Campo Grande, MS)