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Jornal da Unicamp

Congresso de Iniciação Científica se consolida como celeiro de futuros pesquisadores

Publicado em 20 setembro 2004

Por MANUEL ALVES FILHO - RAQUEL DO CARMO SANTOS - JEVERSON BARBIERI
Com um incremento de 43% no número de trabalhos inscritos em relação à edição de 2003, o XII Congresso Interno de Iniciação Científica da Unicamp será realizado nos dias 22 e 23 de setembro, no Ginásio Multidisciplinar da Universidade. Este ano, o evento reunirá 905 estudos desenvolvidos por alunos de graduação, em cinco grandes áreas do conhecimento: Artes (32), Biomédicas (219), Exatas (161), Humanas (169) e Tecnológicas (324). As melhores pesquisas, selecionadas inicialmente por um Comitê Interno e em seguida por um Comitê Assessor representante do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), serão premiadas com certificados de Mérito Científico. O Congresso estará aberto ao público em geral. De acordo com as pró-reitorias de Pesquisa e Graduação da Unicamp, organizadoras do evento, os trabalhos de iniciação científica vêm aumentando em qualidade e quantidade de forma sistemática na Universidade, atraindo cada vez mais o interesse de alunos e professores. Os autores dos estudos contam com apoio financeiro do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC/CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Além disso, a Unicamp também financia as pesquisas por meio de um programa próprio, oferecido pelo Serviço de Apoio ao Estudante (SAE). Ao todo, foram concedidas 1.185 bolsas de estudos no ano passado. Na Unicamp, os projetos de iniciação científica estão sujeitos a um criterioso acompanhamento. Além de um rigoroso processo de seleção, durante a vigência da bolsa cada estudante deve apresentar dois relatórios, que são analisados por seu orientador e pelos integrantes do Comitê Assessor das pró-reitorias de Pesquisa e de Graduação. Esse tipo de atividade é considerado estratégico pela Universidade nas áreas de ensino e pesquisa, razão pela qual tem merecido total suporte e apoio por parte da administração. Abrangência - Os 905 trabalhos inscritos no XII Congresso Interno de Iniciação Científica da Unicamp abordam assuntos relativos a todas as áreas do conhecimento. Investigando temas específicos ou abrangentes, eles guardam uma semelhança entre si: resultam do esforço da Universidade em despertar no estudante, desde logo, o interesse pela ciência. Na área de Artes, por exemplo, os visitantes poderão tomar contato com estudos que tratam da interpretação popular de "O trenzinho caipira", obra de Heitor Villa-Lobos; da importância da dança como agente modificador da qualidade de vida dos idosos e das funções da harmonia e da melodia na bossa Nova e no jazz. No segmento das Ciências Biomédicas, há trabalhos sobre a associação entre depressão e infarto agudo do miocárdio, sobre o perfil das adolescentes mães de crianças de baixo peso no município de Campinas, acerca da prevalência do tabagismo entre os campineiros e em torno da busca de novos medicamentos potencializadores da secreção da insulina. Em Exatas, os estudantes trabalharam os mais variados temas, entre eles o desenvolvimento de um sistema mecânico para experiências de difração múltipla de raios-X a problemática da mineração nas áreas urbanas, a geração, transmissão e recepção das ondas acústicas e a determinação dos níveis de mercúrio em combustíveis veiculares. O papel dos cursinhos populares em Campinas, a importância da educação física na inclusão de crianças portadoras de Síndrome de Dow, os custos e benefícios da inflação e a análise dos discursos dos jornais "Folha de São Paulo" e "O Estado de São Paulo" em torno das questões sociais do governo Lula são alguns dos estudos na área de humanidades inscritos no Congresso. Já no campo das Ciências Tecnológicas, setor que apresenta o maior número de trabalhos produzidos, o público terá a chance de conhecer, entre outras, as seguintes pesquisas: simulação de uma casa inteligente, geração de mapas de índice de vegetação com o objetivo de estimar a produção de ca-na-de-açúcar no Estado de São Paulo, isolamento e seleção de microorganismos biotransformadores de carotenóides, guia de armazenamento, manuseio e caracterização de frutas e hortaliças e biomateriais para implantes buço-maxilo-crânio-facial. Informações adicionais e a programação completa do XE Congresso Interno de Iniciação Científica da Unicamp poderão ser encontradas no endereço eletrônico http://www.prp.unicamp.br/ pibic/xiicongresso. A importância dos primeiros passos Corri ao ano de 1973, quando Christiano Lyra, então terceiro anista de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Pernambuco, iniciou sua carreira acadêmica. Na época, o estudante tinha sido "fisgado" pelo corpo docente do Instituto de Matemática daquela universidade para desenvolver programas de estudo em matemática pura com o apoio financeiro do CNPq. Lyra se encantou com as teorias do cálculo. Pensou até em mudar o curso de sua história. Muitos fatores foram colocados à mesa mas, aconselhado pelo tio Carlos Benigno Pereira de Lyra - então professor de Matemática da Universidade de São Paulo -, o estudante foi "resgatado" pela engenharia. "Meu tio era muito pondera do e me orientou a permanecer na carreira, pois faltava apenas um ano para a formatura". O atual diretor da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Unicamp (FEEC) não se arrependeu. Na Unicamp desde 1977, Lyra declara que o período entre 1973 a 1975, quando se dedicou aos primeiros passos na pesquisa científica, foi fundamental na opção pela carreira acadêmica. Mais tarde, porém, outro desvio viria a ocorrer na história do diretor. Formado em 1975, foi atraído por um emprego na iniciativa privada. Sonhava em vir para a Unicamp fazer mestrado e doutorado, mas o ambiente acolhedor e o salário oferecido pesaram na balança. Durante todo o ano de 1976, Lyra trabalhou na Companhia Hidrelétrica de São Francisco, o emprego sonhado pela maioria dos engenheiros do Nordeste. A determinação, no entanto, foi mais forte. "Quero fazer pós-graduação", decidiu. E assim, consolidou-se a carreira do professor titular de uma das escolas mais conceituadas na área de engenharia de elétrica e de computação do país. Bolsa - Na década de 80, a iniciação científica na área de Humanas, embora ainda incipiente, chamou a atenção do estudante de graduação do Instituto de Artes Claudinei Carrasco. Aos 20 anos de idade, com uma bolsa do Serviço de Apoio ao Estudante e muita vontade de fazer pesquisa, Carrasco fez um estudo sobre Sistema de Harmonia de Quartas. Tema extremamente técnico e importante para a época. "Já estava em uso o sistema, mas não era suficientemente estudado", lembra. Foi orientado pela professora Maria Lúcia Paschoal. Até hoje o compositor confessa que se beneficia do conteúdo de sua primeira pesquisa científica em suas obras. Ele se dedica, desde 1985, à composição de trilhas musicais para teatro e cinema, quando não está dando aulas no curso de graduação em Música da Unicamp. Carrasco destaca que o fato de ter participado de pesquisa na graduação teve importância na opção pelo mestrado e doutorado. Professor do Instituto de Artes desde 1989, já foi coordenador de curso e detém uma extensa experiência artística. Em maio de 2004 publicou o livro "Sygkhronos: a formação da poética musical do cinema". Resultado de sua tese de doutorado, a obra privilegia a história da música no cinema mudo até as produções sonoras da década de 1950. Aumenta o número de bolsas de iniciação O termômetro que registra o passo inicial no interesse pela pesquisa científica é, sem dúvida, o número de bolsas de iniciação científica concedidas pelas principais instituições de fomento. Dados fornecidos pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) mostram que em 2003 foram concedidas 281 bolsas para alunos da Unicamp, o que significa um aporte de recursos da ordem de R$ 1,1 milhão. Em agosto de 2004, com os dados atualizados, esse número de bolsas aumentou para 313, o que significa 11 % a mais. Já o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), do CNPq, atribuiu 516 bolsas a alunos da Unicamp em 2003, liberando recursos de aproximadamente R$ 1,5 milhão. O Serviço de Apoio ao Estudante (SAE), da Unicamp, disponibilizou R$ 660 mil para atender 226 bolsistas. Juntos, os programas PIBIC/ SAE, tiveram um aumento de 20% na oferta de bolsas para alunos de iniciação científica. Essa crescente procura pode ser verificada pelo número de inscrições de trabalhos efetuados no XII Congresso Interno de Iniciação Científica da Unicamp, que será realizado no período de 22 a 24 de setembro. Do total, 479 inscritos são bolsistas Pibic, 213 são bolsistas SAE/Unicamp e 114 possuem bolsa Fapesp. Apenas 99 não possuem bolsas. De acordo com as pró-reitorias de Pesquisa e Graduação, responsáveis pela coordenação do programa e pela organização dos congressos internos de iniciação científica da Unicamp, a atividade, considerada institucionalmente como estratégica nas áreas de ensino e pesquisa, tem mostrado sinais bem claros de aumento de qualidade e quantidade e isso se deve ao rigoroso processo de seleção e ao acompanhamento sistemático e criterioso dos bolsistas.