Uma pesquisa divulgada pelo Ministério da Saúde mostrou que 54,6% da população jovem brasileira está infectada com HPV (papilomavírus humano), vírus que pode causar câncer do colo do útero, entre outros. A pesquisa foi realizada em todas as capitais do Brasil e teve participação de 7.586 pessoas, com idades entre 16 e 25 anos. Destas, 2.669 foram testadas para HPV, e mais da metade apresentou infecção pelo vírus. Entre os participantes, 38,4% apresentaram tipos de HPV que podem causar câncer.
A alta prevalência de infecções por HPV na população não é exclusividade do Brasil. Nos Estados Unidos, estima-se que a incidência seja semelhante. Isso ocorre porque o vírus do HPV é muito contagioso e, além disso, não pode ser prevenido apenas com o uso de preservativo.
O infectologista Juvêncio Furtado, professor de Infectologia da Faculdade de Medicina do ABC e Chefe do Departamento de Infectologia do Hospital Heliópolis, explica que a situação não pode ser considerada uma epidemia, porque não há mudança expressiva na incidência. Mesmo assim, diz ser preocupante. “É um problema de saúde pública. A população precisa saber que é prevenível e curável. Mas, se avançar, a situação pode complicar. É importante ficar atento à detecção precoce e à prevenção.”
De acordo com o Ministério da Saúde, esta é a primeira pesquisa que analisa os dados de prevalência do vírus no Brasil. A informação é importante para monitorar o impacto da vacina, oferecida pela pasta, contra o HPV. A pesquisa mostrou ainda que 16,1% dos jovens tinham uma infecção sexualmente transmissível prévia ou apresentaram resultado positivo para HIV ou sífilis.
Por conta disso, uma ação do Ministério da Saúde oferecendo a vacina contra o HPV visa atingir 10 milhões de meninas entre 9 e 14 anos e meninos entre 11 e 14 anos.
A vacina já fazia parte do calendário obrigatório do Programa Nacional de Imunizações do Sistema Único de Saúde e seu alcance deve ser expandido até 2020, para ampliar a cobertura vacinal.
GRAVIDADE
A gravidade do vírus motivou a pesquisadora Luisa Lina Vila a elaborar um amplo estudo que mediu a resposta imunológica de 500 adolescentes vacinados contra o HPV. O estudo foi reconhecido com o terceiro lugar no Prêmio Péter Murányi 2018, que será entregue no mês de abril. A pesquisadora foi uma das responsáveis pelo primeiro estudo clínico que comprovou a eficácia da vacina no combate contra alguns tipos de cânceres.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a vacina contra o HPV poderia evitar a morte de mais de 250 mil mulheres, por ano, diagnosticadas com câncer de colo de útero. E no Brasil, estima-se que ocorram 16 mil casos de câncer de colo de útero por ano, com 5 mil óbitos, de acordo com o Ministério da Saúde. O Governo brasileiro também destaca que mais de 90% dos casos de câncer anal e 63% dos casos de tumores de pênis estão relacionados ao HPV.
Presidente da Fundação Péter Murányi, organizadora da premiação, Vera Murányi Kiss avalia a importância de iniciativas como a realizada porLuisa Lina para conter o avanço de doenças que podem colocar em risco a vida das populações mais jovens.
"Estudos como o conduzido pela Dra. Luisa deixam claro o compromisso dos pesquisadores brasileiro em garantir o bem-estar das atuais e futuras gerações. O trabalho conduzido por ela também reforçou a participação da mulher na Ciência, além de projetar o alcance e a importância dos estudos clínicos produzidos em nosso país", ressalta.
Indicada pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e coordenada pela pesquisadora, a análise integrou levantamentos com voluntárias residentes em nações como Estados Unidos, Finlândia, Noruega e Suécia.