A ciência confirma e explica como a atividade física pode trazer benefícios para a vida de quem a pratica.
Todo tipo de atividade física possui seus benefícios para a saúde, até porque o sedentarismo traz riscos de doenças. O importante, na verdade, é não ficar parado e se movimentar fazendo aquilo que mais gosta, seja academia, luta, dança, futebol ou a nossa preferida: a corrida de rua.
No caso específico da corrida de rua, que é a nossa queridinha, existem alguns estudos científicos que realmente comprovam os benefícios que esta modalidade pode trazer para sua vida, nos mais diversos âmbitos, para a saúde física, mental, na vida profissional e até mesmo financeiramente.
Separamos abaixo alguns estudos e descobertas onde a ciência responde a pergunta: por que correr pode te trazer tantos benefícios? Confira!
Inatividade física causa gastos de R$ 300 milhões ao SUS
Um estudo realizado pela Universidade Federal Fluminense (UFF) mostrou quanto custa o prejuízo do sedentarismo dos brasileiros para o Sistema Único de Saúde (SUS). São cerca de R$ 300 milhões somente com internações, em valores de 2019.
Marco Antonio Vargas, subchefe do Departamento de Economia da UFF e coordenador executivo da pesquisa, que se chama: "Implicações socioeconômicas da inatividade física: panorama nacional e implicações para políticas públicas", explicou em entrevista para a Agência Brasil que estes gastos poderiam sim ser evitados: "Esse custo seria evitável na medida em que você ampliasse o acesso da população a programas de promoção de atividade física".
Além disso, seria necessário direcionar estes programas para os mais diversos segmentos da população, principalmente as que se encontram em estado mais vulnerável. Aí entram ações que devem ser promovidas pelos municípios.
Este estudo possui o objetivo de contribuir para a formulação e implementação de políticas em saúde preventiva, assim como ao estímulo à prática de atividade física no país. O foco foi pesquisar sobre pessoas maiores de 40 anos de idade, em função do volume de dados existentes. Para isso, foi necessário fazer um cruzamento de dados com os custos de tratamento no SUS, isto é, custos de hospitalização.
O levantamento envolveu uma equipe interdisciplinar de pesquisadores, coordenada pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia - (In) Atividade Física e Exercício da UFF - e foi feito em 2019, ou seja, antes da pandemia do novo coronavírus. No momento, estão sendo feitas atualizações dos dados de 2020 para cá, por pesquisadores do Laboratório de Ciências do Exercício (Lace) e do Núcleo de Pesquisa em Indústria, Energia, Território e Inovação (Neiti) da UFF.
Inatividade física e doenças crônicas
O responsável pela pesquisa explicou que o sedentarismo está associado à incidência de diversas doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), como por exemplo: hipertensão, diabetes, neoplasias de cólon e mama e doenças isquêmicas do coração, entre outras. A inatividade física constitui um dos principais fatores de risco associados à mortalidade causadas por doenças crônicas não transmissíveis no mundo e no Brasil.
Dentro do conjunto de custos no SUS que tinham ligação com o tratamento de doenças crônicas não transmissíveis, a pesquisa buscou a parte que pode ser atribuída à inatividade física.
O coordenador informou que o nível de escolaridade e de renda está associado à prevalência maior de inatividade física. A partir de dados da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério de Saúde, de 2017, foi possível observar, por exemplo:
O sedentarismo é maior entre os indivíduos com sete anos ou menos de escolaridade (57,92%) em comparação com aqueles que possuem 12 anos ou mais de escolaridade (41,18%).
O nível de inatividade física é maior entre mulheres do que entre homens e, quanto menor for o nível de escolaridade, maior o nível de inatividade.
Vargas afirmou que a promoção da atividade física deve ser realizada como parte da política de saúde. "Ela não está separada e, portanto, deve ter uma atenção bastante especial do ponto de vista de programas voltados à prevenção", salientou.
O estudo cita também dados da Base de Informações Municipais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (BIM-IBGE). Eles mostram que 88% dos municípios brasileiros desenvolvem algum tipo de ação, projeto ou programa permanente na área de esporte e lazer.
Porém, para o coordenador da pesquisa, o percentual ainda é muito baixo quando se trata de programas na área de esporte voltados à inclusão social em comunidades carentes (26,4%) ou para pessoas com deficiência (16,8%).
Quando se fala em inclusão social de idosos e de mulheres, por exemplo, apenas 30% dos municípios apresentam.
Ações para jovens e adultos já contam com um percentual maior: 50% das cidades têm iniciativas de inclusão social voltadas à educação física.
O coordenador destacou que esses dados necessitam de um olhar mais minucioso para identificar o que está ocorrendo nas cidades e como estão acontecendo esses programas de esporte nas escolas. A pesquisa também observou que, ao longo dos últimos anos, houve uma queda significativa de gastos com desporto e lazer na esfera federal, que representam, em média, apenas 0,024% do total de gastos federais.
Sedentarismo no cenário mundial
Dados recentes da Organização Mundial de Saúde (OMS) revelam que a inatividade física é um fenômeno que envolve mais de 20% da população mundial de adultos e mais de 80% da população mundial de adolescentes.
O que isso significa? De quatro adultos, um não faz nenhuma atividade física regular e de cinco adolescentes, apenas um realiza algum esporte.
Ainda segundo a OMS, 27,5% da população global não atingem níveis mínimos desejáveis de atividade física durante a semana. Na América Latina e no Caribe, 39,1% da população são fisicamente inativos. E o alerta para o nosso país é ainda mais grave, pois a maior prevalência de inatividade física na região é encontrada no Brasil, onde 47% da população não atingem os níveis mínimos recomendados.
Combinar exercícios de força e aeróbicos pode reduzir 28% a mortalidade por câncer
A prática regular de exercícios de força muscular combinados a atividades aeróbicas pode reduzir significativamente a mortalidade por câncer, indica estudo publicado no International Journal of Behavioral Nutrition and Physical Activity.
Após realizarem uma revisão sistemática de estudos epidemiológicos sobre o tema, os pesquisadores concluíram que fazer exercícios como prancha, agachamento e remada diminui em 14% a mortalidade pela doença. Já quando esses exercícios são combinados com outros do tipo aeróbico, o benefício é ainda melhor: 28% menos mortes.
"A atividade física tem sido relacionada à redução do risco de vários tipos de câncer. No entanto, ainda não estava muito claro qual tipo de exercício teria melhor resultado. Neste estudo, encontramos evidências de que atividades de fortalecimento muscular não só podem reduzir a incidência e a mortalidade por câncer como têm um efeito ainda melhor quando associadas a atividades aeróbicas, como corrida, caminhada, natação ou ciclismo", diz Leandro Rezende , professor da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp).
O estudo é fruto de uma Bolsa de Iniciação Científica concedida a Wilson Nascimento e contou com a colaboração de pesquisadores da Universidade Harvard (Estados Unidos), Universidade Internacional de Valência (Espanha), Universidade Pública de Navarra (Espanha) e Universidade de Santiago (Chile).
Estudos epidemiológicos baseados em dados populacionais têm mostrado que a atividade física em geral reduz o risco de sete tipos de câncer: mama, cólon, endométrio, estômago, esôfago, rim e bexiga. A análise da Unifesp identificou que a prática de exercício de força muscular também pode reduzir em 26% o risco de câncer de rim.
Já a associação entre exercício de força muscular e os demais tipos de câncer (cólon, próstata, pulmão, linfoma, pâncreas, mieloma múltiplo, bexiga, esôfago, reto, melanoma, leucemia e cânceres do sistema digestivo) foi inconclusiva devido ao número limitado de estudos.
Prática regular de atividade física no combate de doenças
A pesquisa da Unifesp confirma a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que propõe para adultos a prática de 150 a 300 minutos de atividade física aeróbica moderada por semana, ou de 75 a 150 minutos de atividade física aeróbica vigorosa (ou uma combinação equivalente de intensidades). Também são recomendados exercícios de fortalecimento duas vezes por semana.
"A OMS se baseia em uma série de benefícios à saúde proporcionados pela atividade física. E nós vimos, entre os estudos analisados, que a redução do risco de câncer é mais um desses benefícios", diz Rezende à Agência FAPESP.
A análise mostrou a existência de um efeito protetor contra o câncer por meio da realização de exercícios de força duas vezes por semana.
Os pesquisadores analisaram ao todo 12 estudos, sendo 11 coortes (pesquisas de longo prazo que envolvem grandes grupos de voluntários seguidos por período predeterminado) e um caso-controle (estudo que analisa registros passados), com a participação de um total de 1.297.620 indivíduos, que foram acompanhados em projetos com duração de seis a 25 anos.
Rezende, que foi bolsista da FAPESP na pesquisa de doutorado e de pós-doutorado, tem realizado análises com base em dados populacionais para identificar associações entre atividade física, nutrição e redução de doenças crônicas, especialmente o câncer, bem como estudos de modelagem do impacto de intervenções e políticas públicas voltadas à alimentação saudável e à promoção de atividade física na redução de doenças e gastos com saúde.
O pesquisador explica que a maioria dos estudos sobre atividade física e prevenção do câncer costuma se concentrar em exercícios aeróbicos. Já as pesquisas relacionadas a exercícios de força avaliam, normalmente, ganho de massa muscular ou fatores específicos, como regulação da pressão arterial e desfechos cardiovasculares.
"Há quatro anos fizemos um estudo que associava exercício de força à redução do risco de câncer. Nesse meio tempo foram sendo publicados outros estudos e achamos interessante fazer uma revisão sistemática dessa literatura para avaliarmos a totalidade de evidências sobre essa relação. Com a análise, no entanto, conseguimos ir além e mostrar que os benefícios do exercício de força muscular na redução da incidência e mortalidade de câncer podem ser ampliados quando associado à prática de atividades físicas aeróbicas", afirma.
Você pode conferir aqui a pesquisa na íntegra.
Metabolismo envelhece? A capacidade de transformar alimentos em energia não diminui com o tempo
Todo mundo já escutou que o metabolismo vai ficando lento com o tempo, não é? Mas um grande estudo sobre o metabolismo dos seres humanos, envolvendo cientistas de 29 países, chegou a um resultado surpreendente. Ao contrário do que se imaginava e era amplamente divulgado, eles concluíram que a nossa capacidade de transformar alimentos em energia não diminui com o passar dos anos.
O consórcio de pesquisadores avaliou 6,6 mil pessoas - de recém-nascidos a nonagenários - e descobriu que entre os 20 e 60 anos não há uma mudança significativa no ritmo com que nosso corpo queima as calorias.
A pesquisa mostrou que bebês queimam calorias 50% mais rápido do que adultos. Depois do primeiro ano de vida isso vai se reduzindo até atingirmos um patamar aos 20 anos. Dali não saímos até os 60, quando o metabolismo começa a desacelerar, e a necessidade de energia vinda dos alimentos diminui.
Mas isso não significa que é possível evitar o envelhecimento. A passagem do tempo vai deixando outras marcas, como a diminuição de circulação de alguns hormônios ou perda gradativa de massa muscular.
Cientistas descobriram qual o melhor horário para treinar
Que fazer atividade física ajuda a perder peso, já sabemos. Mas agora, os pesquisadores descobriram o melhor horário para treinar. Os treinos da tarde levam a melhores resultados para algumas pessoas, de acordo com um estudo publicado este ano.
O estudo, que analisou homens em risco ou com diagnóstico de diabetes tipo 2, descobriu que os participantes que se exercitavam à tarde tiveram mais benefícios metabólicos, bem como efeitos mais positivos em seu desempenho nos exercícios e perda de massa gorda em comparação com os participantes que se exercitavam pela manhã.
Os pesquisadores dizem que não sabem exatamente por que o treinamento à tarde pode levar a melhores resultados provavelmente devido a uma combinação de fatores e mais pesquisas são necessárias , mas eles podem especular com base no que se sabe sobre a fisiologia humana e o tempo biológico.
"Nosso corpo tem um relógio biológico e ele regula muitos processos no corpo e esses processos têm um ritmo", disse o autor do estudo, Patrick Schrauwen, professor de "Aspectos metabólicos do diabetes tipo 2" na Universidade de Maastricht, na Holanda. "Alguns deles são bem conhecidos, como sua temperatura corporal e sua pressão arterial", disse Schrauwen.
Nossos relógios biológicos também afetam nosso metabolismo e se nossos corpos queimam gordura ou carboidratos em determinados momentos, ele acrescentou.
Para os participantes do estudo que eram obesos ou em risco de diabetes tipo 2, os processos de queima de gordura eram mais adequados no período da tarde.
A ingestão de alimentos também provavelmente desempenha um papel, disse Shawn Arent, professor e chefe do departamento de ciência do exercício da Universidade da Carolina do Sul (EUA). "Você passou mais horas acordado durante o dia, ficou mais acordado, teve a chance de abastecer um pouco mais o sistema".
Temperaturas corporais mais altas à tarde também podem ajudar no desempenho muscular, quase como um aquecimento diário embutido. "Quando você começa a perceber o quão forte esse relógio biológico pode ser, e então se você faz coisas como ingerir alimentos na hora errada do dia, ou ficar inativo na hora errada do dia, ou ficar inativo nos momentos em que você deve ser ativo, isso pode ter um grande impacto", acrescentou Schrauwen.
A boa notícia é que você também pode usá-lo em seu benefício. Schrauwen disse que não comer lanches à tarde e evitar refeições noturnas pode ter um grande impacto no peso e na saúde geral de uma pessoa.
Outros estudos mostraram que os que comem tarde tendem a consumir mais calorias totais do que aqueles que comem no início do dia.
Arent também disse que é importante comer proteína após o treino, mas o momento exato da ingestão de nutrientes após o exercício pode ser flexível então não sinta a necessidade de engolir algo imediatamente após uma corrida.
Qualidade do exercício supera o tempo
Para muitas pessoas, fazer exercícios suficientes é muito mais importante do que se exercitar exatamente na hora certa. "A qualidade do seu treino e a qualidade da sua dieta geral irão muito mais longe, então o tempo começa a aumentar e o torna muito mais eficaz", disse Arent. "Existe um momento ideal? Sim, é o que você fará de forma consistente."
Arent também disse que os ritmos circadianos são ajustáveis, portanto, com alguma perseverança, uma coruja noturna pode se tornar um madrugador se exercitando, se isso fizer mais sentido para sua programação.
"Se você treinar de forma consistente em um determinado momento do dia, você começa a se adaptar a isso", comentou Arent. Mas ele alertou contra sacrificar o sono para treinar cedo porque a qualidade geral do sono é mais importante do que fazer um treino extra aqui e ali.
Felizmente, a pesquisa também mostra que os exercícios podem levar a um sono de melhor qualidade, e os exercícios à tarde ou à noite não comprometem os horários de sono, desde que sejam feitos pelo menos 90 minutos antes de dormir.
Treine no mesmo horário da competição
Pode ser especialmente útil para atletas de competição ou pessoas treinando para uma corrida se exercitar no mesmo horário do dia do evento. Por exemplo, Arent disse que trabalhou com um time de futebol que conseguiu melhorar seu desempenho com movimentações no mesmo horário dos jogos.
No entanto, a hora do dia pode ser menos importante para exercícios de resistência, como corrida de longa distância ou ciclismo.
Mas para aqueles que buscam alto desempenho, potência e força, os exercícios da tarde ainda estão em primeiro lugar. A melhor janela para atletismo explosivo parece ser entre 13h e 18 horas, disse Arent. Essa é uma boa notícia para os atletas profissionais que não precisam programar seus exercícios em torno de empregos das 9h às 17h.
Com essas informações, corredor, é possível entender como extrair o melhor da corrida de rua e seus benefícios. A ciência está sempre ao nosso favor, contribuindo para a melhora na nossa qualidade de vida e desempenho, por isso no ONRUN prezamos por buscar informações sempre baseadas em pesquisas e estudos, para entregar o melhor ao nosso leitor. Corrida não é só correr, também é pesquisa, estudo e ciência.