Hidrogênio tem aparecido cada vez mais como vetor energético importante para descarbonização de diferentes setores
Um dos painéis mais aguardados da 23a. Conferência DATAGRO foi realizado nesta terça-feira (24), na capital paulista, e tratou do potencial para fabricação de hidrogênio verde a partir do etanol ou da biomassa da cana-de-açúcar. O que há de mais avançado no Brasil nesta temática até o momento é o projeto desenvolvido pelo Centro de Pesquisa e Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI) em parceria com a USP, Fapesp, fabricantes de veículos, empresas de tecnologias e grupos do setor sucroenergético. Esta iniciativa prevê a produção de hidrogênio verde a partir do etanol e da biomassa da cana em uma planta que está sendo instalada no campus da USP em São Paulo (SP).
Na Conferência, o diretor científico do RCGI, professor Julio Romano Meneghini, discorreu sobre a inciativa que mapeará o potencial de produção de hidrogênio no setor sucroenergético. Os pesquisadores vão analisar os dados de todas as usinas de etanol no Brasil – há 358 de cana-de-açúcar e 21 de milho, segundo números atualizados em dezembro de 2022 – para calcular a quantidade de hidrogênio que poderiam produzir.
“O hidrogênio tem aparecido cada vez mais como vetor energético importante para a descarbonização de diferentes setores, incluindo o da aviação. O mais divulgado é o hidrogênio produzido a partir da eletrólise da água usando-se energia solar ou eólica, mas há também as rotas desenvolvidas a partir da biomassa, que são bastante competitivas”, afirmou a engenharia química Suani Teixeira Coelho, professora do Programa de Pós-Graduação em Energia da USP e coordenadora do projeto, também presente no painel.
“Vamos analisar as usinas que temos no Brasil -- o quanto produzem de cana-de-açúcar, de etanol e o potencial que pode ser produzido de biogás a partir dos subprodutos do processo. A partir destes dados, vamos estimar a quantidade de hidrogênio que poderíamos produzir a partir de diferentes rotas: fazendo a reforma do etanol e do biogás, além da eletrólise da água utilizando a eletricidade excedente local”, disse a professora.
O estudo trabalhará com diferentes cenários, abrangendo a demanda por etanol pelo transporte rodoviário e incluindo na análise o etanol de segunda geração, considerado ainda mais sustentável que o de primeira geração por ser produzido a partir do bagaço de cana. “Sempre que se usa um resíduo de biomassa, como o bagaço da cana, para gerar energia, se tem um sistema mais sustentável”, salientou Suani Coelho. “Primeiro, porque se dá um destino adequado a esse resíduo. E, segundo, porque não há necessidade de expansão de área. É um conceito que se enquadra no que chamamos de bioeconomia circular.”
Toyota
Também presente no painel, Roberto Matarazzo, diretor de assuntos governamentais e regulatórios da Toyota, destacou que para a fabricante de automóveis o inimigo é o carbono, e não o motor à combustão. "Para nós, a descarbonização, a busca pela mobilidade sustentável passa por diversas rotas tecnológicas, de acordo com as características de cada país e/ou região."
No Brasil, ressaltou o executivo, o etanol é item-chave, sendo o híbrido-flex, que combina o veículo elétrico com o biocombustível a melhor opção. Segundo pontuou Matarazzo, pesquisas mostram que motores flex e híbridos-flex abastecidos com etanol têm emissão de CO2 mais baixas do que o elétrico puro europeu, considerando o conceito de poço à roda.
Ao mesmo tempo, frisou o executivo, o Brasil já conta com uma ampla infraestrutura de distribuição de biocombustíveis, o que torna a tecnologia híbrido-flex mais acessível. Ademais, na avaliação de Matarazzo, a solução da célula de combustível a hidrogênio com uso de etanol é uma aposta promissora.
Fonte: Uagro