O cenário da inovação baseado em pesquisa e desenvolvimento no Brasil, tanto no setor privado (maioria empresas) quanto no setor público (universidades e institutos do governo) está, infelizmente, muito abaixo do que vemos em países desenvolvidos. Em uma rápida comparação com os Estados Unidos, podemos ver alguns dados que demonstram essa diferença: segundo a National Science Foundation (NSF), em 2019 o investimento em PD nos EUA foi de cerca de US$581 bilhões, sendo aproximadamente US$129 bilhões provenientes do governo federal e US$452 bilhões do setor privado.
Já no Brasil, como apontam informações do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), esse valor foi de aproximadamente US$19 bilhões, sendo US$11 bilhões vindos do setor privado e US$8 bilhões do governo. No mesmo ano, os EUA registraram cerca de 333 mil patentes de acordo com a United States Patent and Trademark Office (USPTO), enquanto por aqui foram registradas somente 5 mil patentes, como aponta o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
Essa situação é consequência da baixa quantidade de pesquisadores no Brasil comparado com os EUA: enquanto eles contam com cerca de 1,4 milhão de pesquisadores em PD, aqui existem aproximadamente 230 mil profissionais com essa atuação. Além disso, as diferenças culturais também atrapalham, uma vez que as empresas aqui querem velocidade e encontrar soluções que possam ser comercializadas visando o lucro, ao passo que as universidades focam mais na produção de conhecimento e formação de recursos humanos, mesmo que, muitas vezes, eles não tenham aplicação prática ou retorno no curto prazo.
Além disso, há questões relacionadas à propriedade intelectual que devem estar claras desde o início da colaboração. As preocupações sobre quem terá o direito legal sobre o conhecimento produzido e suas aplicações não podem frear o desenvolvimento da inovação.
O fato de os recursos financeiros serem limitados em ambos os lados também dificultam a conclusão dos projetos de pesquisa – para isso, existem também fontes de financiamento vindas principalmente de institutos governamentais, que fomentam essas iniciativas com o objetivo de trazer avanços para a sociedade como um todo, como a Lei de Inovação Tecnológica (Lei nº 10.973/2004), o Programa Nacional de Apoio à Geração de Empreendimentos Inovadores (Programa Start-Up Brasil), o Programa de Apoio à Pesquisa em Empresas (PIPE) da FAPESP, e o Programa de Inovação Tecnológica em Empresas Estabelecidas (PITE) da FINEP.
Porém, diante de desafios tão significativos, como podemos melhorar o cenário de inovação no país e desenvolver o setor de pesquisa?
É fato que as universidades possuem um papel fundamental no ecossistema, começando pela formação dos recursos humanos, passando pela condução de pesquisas científicas e também assumindo um papel nas transferências de tecnologia que ocorrem entre as instituições de ensino em todo o mundo. Por isso, é preciso difundir como elas são capazes de apoiar as empresas na solução de desafios tecnológicos e de inovação em seus produtos e processos, além de promover a aplicação prática dos conhecimentos gerados internamente.
No Brasil, essa parceria universidade-empresa é bem mais limitada a algumas iniciativas isoladas e, por isso, as companhias aqui são forçadas a buscar conhecimentos científicos e tecnologias fora do país. Porém, os benefícios dessas parcerias são muitos, desde o intercâmbio entre conhecimentos acadêmicos e práticos entre os profissionais das organizações e alunos das universidades, até o aproveitamento da infraestrutura das instituições, como laboratórios, equipamentos especializados e bibliotecas.
Percebo que muitas empresas ainda não compreenderam o quanto podem se beneficiar desse acesso, economizando custos e tempo ao utilizar essas instalações para conduzir suas atividades de PD. Esse intercâmbio também pode resultar em soluções criativas e disruptivas, que agregam valor às companhias, aumentam a reputação das universidades e impulsionam o crescimento econômico do país.
*Flávio Guimarães é Presidente da Corning na América Latina e Caribe, uma das líderes mundiais em inovação da ciência de materiais