O Projeto Genoma Cana-de-Açúcar, iniciado há quinze meses, será concluído em julho de 2001, um ano antes do prazo previsto pelos pesquisadores envolvidos no mapeamento da planta. "Dentro de quinze dias, estaremos divulgando o mapa genético da cana", diz Isaías de Carvalho Macedo, gerente de tecnologia da Cooperativa dos Produtores de Açúcar e Álcool (Copersucar), que financia o projeto em parceira com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Orçado em R$ 8 milhões, o seqüenciamento dos genes da cana coloca o Brasil na vanguarda mundial da pesquisa, em melhoramento genético da cana-de-açúcar e também nos estudos de genética de plantas.
A meta do projeto é seqüenciar 50 mil genes responsáveis por todo o "funcionamento" da planta, como desenvolvimento, crescimento, produtividade, teor de açúcar e resistências a doenças. "Já foram seqüenciados 80 mil grupos diferentes de genes, alguns dos quais devem ser repetidos", estima William Lee Burnquist, coordenador de cooperação internacional do projeto e gerente de Fitotécnica da Copersucar.
O mapeamento da cana fornecerá subsídios a todas as pesquisas de melhoramento genético da planta, e tem grande significado econômico - embora ainda não avaliado - para o Brasil, maior exportador mundial de açúcar no ano passado. Em São Paulo, estado que concentra 60% da produção nacional, a cadeia da cana movimenta anualmente R$ 8 bilhões e emprega 600 mil trabalhadores. "A importância da cana deve crescer devido ao seu potencial para produção de energia renovável", diz Burnquist.
A partir da identificação dos genes, é feita uma análise criteriosa dos fragmentos numa etapa nomeada de "mineração dos dados". O seqüenciamento foi feito em três etapas. A coordenadoria geral da pesquisa produziu 290 mil fragmentos de DNA, enviados aos 21 laboratórios credenciados que realizaram a leitura das expressões e identificaram 80 mil genes. "Aproveitamos a equipe que decodificou a bactéria Xyllela fastidiosa" (amarelinho), diz Macedo.
Em seguida, o material genético foi enviado à coordenadoria de bioinformática, que mantém 50 grupos de pesquisadores espalhados pelo País, responsáveis pela análise dos genes. "São 200 pesquisadores envolvidos na análise, a partir de temas específicos, como por exemplo, genes relacionados com produção de açúcar na cana, genes de resistência à doenças, de resistência ao estresse hídrico, entre outros", diz Burnquist. O grupo de pesquisadores da Copersucar, por exemplo, busca genes relacionados ao metabolismo de carboidratos, com o objetivo de utilizá-los no futuro para manipular geneticamente o teor de açúcar de novas variedades.
O seqüenciamento dos genes da cana vai alavancar projetos de melhoramento genético, possibilitando o desenvolvimento de novas variedades mais resistentes a doenças, a seca e mais absorventes ao solo. Um importante usuário dessa pesquisa, o Centro de Tecnologia da Copersucar (CTC), investe anualmente R$ 8 milhões em melhoramento genético. "Em 25 anos, obtivemos aumento de produtividade de 33% e de sacarose de 8%", diz Macedo.
Segundo Burnquist, o avanço do projeto se deu com a participação dos 200 pesquisadores e de suas aplicações práticas e acadêmicas na manipulação dos genes - resultado dos convênios firmados entre a Fapesp e fundações de amparo à pesquisa de diversos estados.
O repasse de recursos à pesquisa é função de cada fundação envolvida, cabendo à Fapesp a avaliação do projeto e a liberação do acesso ao banco de dados do projeto. Mesmo antes de estar pronto, o mapa da cana se tomou o centro das conversas com Austrália, Cuba e África do Sul, que propõem cooperação tecnológica com o Brasil.
"A Fapesp avalia o material e garante a propriedade intelectual da pesquisa." Convênios com Austrália e África do Sul, com a finalidade de _ financiar projetos de seqüenciamento genético de fungos que causam doenças nas lavouras de cana, também estão sendo discutidos.
ARGENTINA PESQUISA ÁLCOOL
Representantes da Argentina e do Brasil vão para explorar, em 60 dias, a conveniência técnico-econômica e ambiental de substituir o composto oxigenado MTBE por álcool anidro adicionado na gasolina argentina. Esta foi a principal conclusão do Seminário sobre a situação e as perspectivas do setor sulcroalcooleiro no Mercosul realizado nos últimos dois dias em Piracicaba (SP).
No encontro também foi constatado que a matriz energética do Brasil e da Argentina são diferentes, com forte substituição de derivados de petróleo por gás natural na indústria, geração elétrica e transporte na Argentina.
No Brasil, 90% da energia elétrica é de origem hidráulica. No transporte 40% da energia provém de fontes renováveis (álcool anidro e hidratado) e 12% da energia primária é proveniente do bagaço da cana. "A proposta é de cooperação mútua entre os dois países, buscando a complementariedade das matrizes energéticas", diz Paulo César de Freitas Samico, secretário de comercialização do Ministério da Agricultura.
Discutir a matriz energética de cada país foi a estratégia adotada pela federação brasileira para integrar o açúcar no regime aduaneiro do Mercosul, que vem sendo negociada sem sucesso desde 1992. O próximo encontro entre representantes do grupo será realizado em dezembro. (LF.)
Notícia
Gazeta Mercantil