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Composto produzido por corais invasores mata o parasita da doença de Chagas (48 notícias)

Publicado em 06 de fevereiro de 2023

Elton Alisson | Agência FAPESP – Da década de 1980, um animal marinho conhecido popularmente como coral-sol (tubastraea tagusensis) começaram a ser observados na costa brasileira, ancorados em plataformas de petróleo na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro. Hoje, essa espécie invasora, originária do Indo-Pacífico, já se espalhou por mais de 3.500 quilômetros (km) da costa brasileira e é considerada uma 4m3aç4 à diversidade biológica por destruir outras espécies de corais, reproduzir-se rapidamente e não possuir predador natural.

Ao analisar as toxinas produzidas pelo coral-sol para se defender da predação de peixes e outros organismos e competir por espaço e substratos, pesquisadores do Instituto Adolfo Lutz, da Universidade Federal do ABC (UFABC) e do Centro de Biologia Marinha da Universidade de São Paulo (Cebimar-USP) descobriu que uma das substâncias secretadas pelo animal é capaz de combater tripanosoma cruzi o parasita que causa a doença de Chagas.

Os resultados do estudo, suportado pela FAPESP, foram descritos em artigo Publicados na revista ACS Omega da American Chemical Society.

“Se, por um lado, o coral-sol é um vilão para a biodiversidade marinha, por outro ele tem potencial para ser benéfico à vida humana ao produzir uma substância química com potencial farmacológico para combater uma doença que atinge 7 milhões de pessoas e requer tratamentos. eficaz”, diz Agência FAPESP André Gustavo Tempone Cardoso pesquisadora do laboratório de novos medicamentos para doenças negligenciadas do Instituto Adolfo Lutz e coordenadora do projeto.

O cientista teve seu primeiro contato com o coral-sol na década de 1990, ao mergulhar na Ilha Grande, em Angra dos Reis (RJ).

“Na época, eu não sabia que esse coral, que é muito bonito, era uma espécie invasora”, diz Tempone.

Ao falar sobre suas impressões sobre o coral-sol com Álvaro Esteves Migotto o pesquisador do Cebimar e coautor do estudo comentou que o animal produzia toxinas que matavam outros corais encontrados na costa brasileira, como o coral cérebro (mussimilia hispídica), e que dominava as marinhas.

A partir dessa observação, eles começaram a coletar amostras do coral-sol no canal de São Sebastião, litoral norte de São Paulo, onde fica o Cebimar, para analisar os compostos químicos produzidos pelo animal.

O estudo foi realizado durante o doutorado de Maiara Romanelli Silva, primeira autora do artigo e orientadora da Tempone.

“Existem muitos estudos sobre a biologia do coral-sol, mas ainda não havia pesquisas relacionadas à atividade farmacológica dos compostos que ele produz”, diz Tempone.

composto candidato

Por meio do fracionamento guiado pela bioatividade, os pesquisadores identificaram compostos químicos produzidos pelo coral-sol com potencial ação antiparasitária. Usando técnicas de ressonância magnética nuclear e espectrometria de massa de alta resolução, eles conseguiram isolar e caracterizar quimicamente uma substância candidata para combater o tripanosoma cruzi.

Estudos conduzidos pelo pesquisador João Henrique Ghilardi Lago professor da UFABC, permitiu elucidar a estrutura da molécula e identificá-la como um alcaloide indólico 6-bromo-2 da metilaplisoposina.

“Essa substância pertence a uma classe de compostos muito interessante do ponto de vista farmacêutico porque apresenta atividades biológicas de interesse para o tratamento de doenças humanas”, explica Tempone.

Os pesquisadores testaram o composto químico puro contra o T. cruzi em células de mamíferos (em vitro) nas fases extracelular (tripomastigota) – presente na fase inicial da doença de Chagas, em que o parasita ainda circula no sangue – e intracelular (amastigota), presente na fase crônica da doença, quando o parasita desaparece da circulação porque já invadiu células, principalmente as do coração e dos músculos digestivos.

Os resultados dos testes indicaram que o composto foi capaz de eliminar o parasita nessas duas fases, sem apresentar efeitos tóxicos nas células mesmo na maior concentração testada.

Por outro lado, os resultados dos estudos sobre os mecanismos de ação do composto em T. cruzi mostraram que a substância afeta os níveis de cálcio do parasita, reduzindo a geração de ATP na mitocôndria [adenosina trifosfato] – a fonte de energia celular.

“O composto danifica a única mitocôndria que o parasita possui e que fabrica ATP”, explica Tempone.

Através de um estudo computacional (em sílico), também foi avaliada a similaridade do composto químico com drogas disponíveis no mercado para o tratamento da doença de Chagas, com base em suas propriedades físico-químicas e parâmetros farmacodinâmicos.

As análises indicaram que o composto possui propriedades semelhantes a vários medicamentos aprovados no mercado. Uma das únicas drogas disponíveis hoje para o tratamento da doença é o benznidazol, que, apesar de reduzir a carga de T. cruzi em pacientes crônicos, não previne danos cardíacos causados ​​pela doença ou outros sintomas, como aumento do cólon, além de causar efeitos colaterais graves.

“Agora estamos empenhados em poder fazer a síntese total de compostos derivados dessa molécula, com maior potência, e testá-los em modelo animal”, diz Tempone.

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