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“Como transformar uma ideia em negócio” é tema de painel no Innovation Fair (1 notícias)

Publicado em 13 de agosto de 2015

A Dow, empresa do setor químico, realizou nesta terça-feira (11) o Innovation Fair, evento de inovação que busca impulsionar projetos voltados à tecnologia e sustentabilidade.

A Dow estava buscando projetos e iniciativas de universidades, pequenas empresas e startups com foco em seis categorias: Alimentos Frescos, Agricultura, Segurança Hídrica, Construção e Infraestrutura, Produtos Químicos Renováveis, e Materiais Processos. No total foram 85 projetos inscritos e 33 selecionados.

O Startupi acompanhou o evento durante o período da manhã e compartilha com vocês alguns assuntos abordados durante um dos painéis da programação.

Com o tema “Como transformar uma ideia em um negócio”, o painel contou com mediação de André Argenton, Líder de Pesquisa e Desenvolvimento da Dow e os convidados, Carlos Arruda (Fundação Dom Cabral), Francisco Perez (Inseed Investimentos), Guillaume Sagez (Performa Investimentos) e Naldo Dantas (ANPEI).

Para iniciar a rodada, André pediu para que os convidados se apresentassem e comentassem de onde vem a paixão pela inovação ou destacassem alguns pontos atuais do ecossistema. Guillaume explicou que sua paixão pela inovação vem da curiosidade, tanto pelas pessoas, empresas e produtos, já Francisco destacou que seu grande desafio hoje é incorporar grande parte das pequenas empresas no mercado através dos fundos. Para Carlos, o que faz um país ser mais competitivo é a inovação e a capacidade de criar. Naldo resolveu dar uma dica para os empreendedores “Bom empreendedor é aquele que não reclama, mas aquele que vai e faz”. Após as apresentações, André pediu para que os convidados destacassem algo positivo do Brasil e também as principais falhas que eles enxergam no país.

Para Naldo, os brasileiros têm criatividade e diversidade, porém, usam essa potencialidade para uma ambição muito curta, ou seja, é raro ver um empreendedor que nasce com a vontade de conquistar o mercado da China. Também é raro ver um empreendedor com a perspectiva de ser fornecedor da cadeia produtiva da Airbus ou da Embraer. “Existem muitos empreendedores com alta capacidade de planejar negócios, mas eu raramente vejo esse sentimento, essa visão de participação de mundo” Afirma Naldo, que convive diariamente com várias startups.

Para ele o grande desafio é como criar essa visão de mundo para o empreendedor.

Sobre as falhas do Brasil, Naldo destaca a falta de estrutura de incentivo. “Como trabalhamos garantia de crédito para pessoas que ainda tem o intangível como capital?” Como construímos essa cultura de inovação na pequena empresa com sistema de garantia que alavanque o capital numa aplicação de negócio, é outro desafio que está em aberto.

Isso ainda não está muito claro no Brasil, ainda estão surgindo movimentos e os bancos estão aprendendo a fazer isso agora. Naldo cita o exemplo da FAPESP que utiliza mecanismos importantes como o Pipe, grande mecanismo de apoio não reembolsáveis. Ele comenta que os fundos garantidores do Brasil são novos, muitos estão no limite e o custo ainda é elevado. Segundo Naldo, a realidade é que antes de acessar a garantia você precisa ter crédito. “A garantia numa análise clássica vem depois da sua análise de crédito, então como conseguiremos criar um modelo para remodelar essa estrutura para que o capital se torne acessível?”.

Outro elemento destacado é o acesso a laboratórios e instalações. “Estamos criando agora no Brasil a cabala de ciências aplicáveis, as startups ainda pouco usam dessas estruturas, pois ainda estamos aprendendo a fazer esse mecanismo” garante Naldo.

Um ponto muito importante a ser trabalhado é a mentalidade da população brasileira. Segundo Naldo, existe um papel ainda não exercido pelas grandes empresas que é orientar a entrada das startups dentro do melhor ponto de competitividade dela, orientar o mecanismo de multisetorial e crescimento para que ela possa de fato ter um impacto positivo no sistema. “Como é que nós, empresas de grande porte, fazemos uma mentoria para orientar o melhor ponto de contato de entrada dessas startups, como eu preparo essa startup para trabalhar na camada 4 multisetorial?”.

Para Franciso, no Brasil ainda não existe a aceitação de uma questão regulatória específica para uma startup. “Hoje ela é tratada exatamente igual como uma grande empresa”. Precisamos de velocidade, mas o que acontece é exatamente ao contrário. Por exemplo, quando olhamos para uma inovação disruptiva, quando você dá entrada em qualquer agente regulatório, se aquela determinada inovação não está dentro dos critérios estabelecidos, o processo vai para o fim da fila, por que muitas vezes a pessoa desconhece como tratar aquele caso. Por isso, para Francisco um fast tracking para melhorar a questão regulatória é mandatória nos dias de hoje. “Muitas vezes a startup precisa parar durante meses, ela não pode vender seu produto ou serviço por ter essa questão regulatória. Por isso é imprescindível que tenhamos uma mudança nesse ambiente regulatório para que tenhamos o chamado de fast tracking para empresas de base tecnológica”.

Carlos afirma que o Brasil tem algo muito positivo e pouco explorado, a diversidade, que pode ser um fator diferenciador para inovação e empreendedorismo. O Brasil não é só um país grande como também com grande diversidade de setores com grandes oportunidades de negócios não só com água, agricultura como também em TI. “Se soubermos usar essa diversidade do Brasil sobre todos os aspectos: demanda, conhecimento, informação e utilizar em favor da inovação, teremos um grande diferencial”.

André coloca mais uma discussão em pauta para os convidados: Uma das dificuldades que não só as startups, mas os acadêmicos e a indústria enfrentam é a dificuldade na introdução de um produto novo quando você está competindo com uma tecnologia já estabelecida. Você compete em ordem de escala e grandeza completamente diferentes. Na indústria de materiais, escala faz a diferença.  Então qual a saída para esse problema?

Para Guillaume uma das soluções é o quanto disruptivo é o produto final e quanto valor agregado tem para o cliente  o produto que está sendo produzido. Para ilustrar o argumento Guillaume usou o exemplo: Se você está investindo em uma fábrica que faz um produto que agrega só um pouco em relação ao produto concorrente, você nunca vai conseguir ter os ganhos em escala que são necessários para o seu novo produto ir para o mercado. Você precisa ter um produto que tenha um preço diferenciado, que é justificado por atributos que o cliente final está disposto a pagar por ele.

Essa análise é extremamente importante por estar relacionada também com a estratégia de comercialização do produto. “Acho que um dos grandes desafios que existe é que muitas empresas que fizeram o desenvolvimento de tecnologia muito bem e que tem um produto que consegue ser produzido com um preço competível, não conseguem colocar o produto no mercado através dos canais de distribuição que são convenientes para uma startup”. Por exemplo, um canal de distribuição B2C do varejo, tem um custo muito elevado e em muitos casos uma empresa que acabou de desenvolver um produto interessante, não tem nem de longe a capacidade de fazer isso, de esperar todo o processo de colocar esse produto no mercado para começar a ganhar dinheiro.

Outro desafio é que esses novos produtos são elaborados por uma equipe que tem uma cabeça estreitamente científica e essa equipe não necessariamente pensa em como colocar o produto no mercado, do ponto de vista de como esse produto vai ser recebido pelos clientes finais. Isso é um aprendizado muito importante para o empreendedor brasileiro.

Francisco concorda e afirma que o capital de risco, os fundos, possuem uma estratégia para linkar com essa questão de forma bem peculiar. As vezes é impossível conseguir o ganho de escala necessário para que a startup se torne uma empresa competitível e fazer frente no mercado de tecnologia hoje. Uma das estratégias é ao avançar com o seu projeto se conectar com grandes empresas e começar a desenvolver parcerias com as grandes empresas. O mundo da biotecnologia tem isso como uma premissa, você desenvolve sua molécula e em determinado ponto você não tem canal de distribuição para chegar mais longe com aquela molécula. Se você não se conectar nesse momento com uma grande farmacêutica você não terá seu produto espalhado pelo mundo. “Uma das estratégias que faz parte do nosso dia-a-dia no capital de risco é fazer essas conexões entre as grandes empresas, que possuem grandes canais de distribuição com as tecnologias disruptivas. Fazendo com que isso torne o produto global” afirma Francisco.

André afirma que o ecossistema evoluiu e questiona os convidados sobre qual é a mágica do timing de entrada da tecnologia no ecossistema para que ela seja verdade, aconteça e seja útil para a população.

Guillaume conta que é preciso ter muita sorte para se tornar acertivo nesse mercado. O principal desafio do ponto de vista do investidor financeiro é que nesse universo de investimento existe no tempo o início, meio e fim. Guillaume, por exemplo, é responsável por fundos que tenham uma vida de mais ou menos dez anos.

Se pensarmos hoje nas tecnologias e nas tendências que em algum momento serão tecnologias disruptivas existe uma lista muito fácil de buzzwords que estão na cabeça de todos, como por exemplo, agricultura digital, internet das coisas, medicina genética, energia solar e gás natural. A grande pergunta é “quando?” e aí que entra o quesito sorte, pois pode ser entre 2015 – 2020 ou 2020 – 2025 e segundo Guillaume, atrasos são muito comuns, portanto é importante acompanhar as tendências.

Quando o gás natural irá se tornar uma fonte relevante na matriz energética do Brasil? Isso depende de inúmeros parâmetros que não controlamos. “A única maneira que temos de exercer essa mágica e reduzir o risco é tentar identificar os setores onde temos um pouco mais de controle do que os outros, mas continua sendo sorte” finaliza.

Na parte da tarde o evento foi fechado para que os 33 projetos selecionados pela Dow se apresentassem para um grupo composto por representantes das áreas técnicas e de negócios da Dow, parceiros, clientes e agências de fomento.

“O objetivo da Dow com este evento é fomentar a inovação em áreas prioritárias, proporcionando oportunidade de visibilidade para projetos que precisam de apoio tanto intelectual quanto financeiro”, diz John Biggs, Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Dow.

Os participantes do Innovation Fair tiveram a oportunidade de interagir com importantes players da indústria, do Governo, de instituições voltadas para a inovação e de Venture Capital.