Com a liberação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), os pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) já planejam o começo dos ensaios clínicos de sua candidata à vacina para Covid-19. A ideia é que os testes, com voluntários, sejam iniciados em novembro assim que algumas pontuações — mais ligadas ao protocolo de estudo — realizadas pela Anvisa sejam resolvidas.
Vão participar brasileiros com idades entre 18 e 85 anos. Neste primeiro momento, devem entrar nos testes somente os moradores de Belo Horizonte. As próximas fases, contudo, terão moradores de mais partes do país. O estudo da vacina foi desenhado para uma indicação que faz sentido à realidade brasileira: ela será utilizada como dose de reforço. Os voluntários poderão ter tomado uma ou duas doses extras, contanto que a pausa da última aplicação seja de seis meses.
O estudo contará com uma comparação. A ideia é que a proteção gerada pela vacina, de nome SpiN-Tec, tenha resultados avaliados ao lado dos pacientes que tomaram dose de reforço com a vacina da AstraZeneca.
Desenvolvida com a linhagem “original” do Coronavírus, a cepa da cidade de Wuhan — responsável por iniciar a disseminação globalmente — a vacina brasileira tem um trunfo contra variantes: o uso de uma proteína chamada “N”, da parte interna do vírus, que sofre menos mutações e, portanto, atinge mais cepas da doença. Nos laboratórios, a vacina mostrou resultados positivos contra as variantes Delta e Ômicron.
“Em animais, mostramos que a infecção (dos vacinados) é absolutamente leve, sem problemas pulmonares. O imunizante gera imunidade celular. Além disso, tem um pedaço da proteína “S” que também leva à produção de anticorpos, outra forma de defesa do corpo contra o coronavírus”, diz Helton Santiago, diretor clínico do desenvolvimento do imunizante e professor da UFMG. “As demais vacinas (em uso no Brasil) focam em evitar a infecção, a nossa é capaz de dar um reforço nos anticorpos e oferecer uma ativação forte da atividade celular contra o vírus.”
Neste momento, a Anvisa autorizou que os pesquisadores recrutem 432 voluntários em duas etapas. A primeira delas com 72 participantes, para verificar a segurança de seu uso. A ideia é que o estudo se torne nacional na última etapa de desenvolvimento, prevista para o ano que vem. Os testes são financiados pela UFMG, pelo Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação (MCTI), pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e pela Prefeitura de Belo Horizonte.
Fonte: O Globo