Estudo Revela Percepções de Justiça entre Adolescentes em Ambientes Violentos
Adolescentes que vivem em bairros com altos índices de violência e infraestrutura precária tendem a perceber o mundo como mais injusto do que os outros. Esta conclusão é resultado de uma pesquisa realizada com jovens na cidade de São Paulo, realizada pelo Núcleo de Estudos da Violência (NEV), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) da FAPESP.
A pesquisa analisou as trajetórias da "crença no mundo justo" (BJW) de 659 adolescentes entre 12 e 14 anos ao longo de três anos. O conceito de BJW refere-se à percepção de que o mundo é, de maneira geral, um lugar justo, onde as pessoas "colhem o que plantam". Essa crença é crucial para a formação de expectativas e engajamento social. No entanto, essas percepções são moldadas por experiências concretas em ambientes físicos e sociais.
Os pesquisadores descobriram que os adolescentes de bairros marcados por abandono e violência não apenas apresentam um nível mais baixo de BJW pessoal, mas também desenvolvem uma trajetória de afastamento dessa crença ao longo do tempo. Essa percepção de injustiça pode afetar negativamente o bem-estar psicológico, a motivação, a autoestima e a confiança nas instituições.
Em contraste, os jovens de bairros mais favorecidos mantêm um nível mais alto de BJW. Embora reconheçam a injustiça social ao redor, sentem-se menos vulneráveis e acreditam que suas vidas serão justas devido a um melhor acesso a serviços e oportunidades.
O estudo ressalta a importância de considerar fatores urbanísticos e estruturais, como infraestrutura e coesão comunitária, no debate sobre cidadania e fortalecimento democrático. Ambientes degradados não afetam apenas o bem-estar físico e mental, mas também corroem a confiança nas instituições.
Além disso, as escolas desempenham um papel essencial na formação das percepções de justiça entre crianças e adolescentes. O ambiente escolar pode promover uma experiência de cidadania em contraste com as injustiças percebidas nas comunidades.
As mídias sociais também têm um papel relevante na formação de crenças e valores. A disseminação de conteúdos é frequentemente mediada por algoritmos que amplificam narrativas sensacionalistas, dificultando o acesso dos jovens a informações equilibradas sobre desigualdades sociais.
Intervenções urbanas, como a requalificação de espaços públicos, podem restaurar o senso de justiça entre adolescentes em áreas vulneráveis. Essas iniciativas devem ser acompanhadas de processos participativos que fortaleçam a percepção de pertencimento e agência entre os jovens.
A pesquisa, intitulada "The effect of the physical environment on adolescents' sense of justice," está disponível para consulta no Journal of Environmental Psychology
Palavras-chave: Crença no Mundo Justo, Adolescência, Violência Urbana, Justiça Social, Educação, Mídias Sociais, Intervenções Urbanas, Bem-Estar Psicológico.
Informações da Agência FAPESP