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Como a floresta amazônica se tornou uma máquina de fazer nuvens (55 notícias)

Publicado em 06 de dezembro de 2024

Pela primeira vez, uma equipe internacional de pesquisadores, incluindo membros da Universidade de São Paulo e do Instituto Max Planck (Alemanha), descobriu como a floresta amazônica se transforma em uma espécie de máquina de fazer nuvens , importante para o equilíbrio hidrológico do mundo. O mecanismo físico-químico era, até então, desconhecido.

O complexo sistema de formação de chuvas na Amazônia envolve uma série de fatores, como a produção de nanopartículas de aerossóis descargas elétricas de raios e reações químicas em altitudes elevadas . É o que indica o estudo recém-publicado na revista Nature

Para compreender e destrinchar a relação entre esses fatores na maior floresta tropical do mundo, a equipe de pesquisa realizou 136 horas de voo sobre a bacia amazônica entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023, chegando a uma altitude máxima de 14 km . Esta altura é duas vezes maior que a montanha Aconcágua, ponto mais alto da América do Sul.

Amazônia: uma máquina de fazer nuvens

Para além do oxigênio, as árvores da floresta amazônica liberam outros gases conhecidos como compostos orgânicos voláteis (VOCs, em inglês). É o caso do isopreno , que culminará na produção de sementes de nuvens.

Curiosidade: as florestas em todo o mundo liberam mais de 500 milhões de toneladas de isopreno na atmosfera por ano. O “detalhe” é que praticamente um quarto dessa emissão vem apenas da Amazônia.

Parte do isopreno é destruído em poucas horas, mas a outra parte acaba sendo transportada para camadas mais altas da atmosfera (perto do tropopausa), auxiliada por tempestades noturnas.

Desencadeada pela radiação solar, uma série de reações químicas dá origem a uma grande quantidade de novas nanopartículas de aerossóis, os nitratos orgânicos . Inclusive, essa produção de partículas é impactada por reações com óxidos de nitrogênio (que são produzidos por descargas elétricas na alta atmosfera).

Segundo os autores, essas partículas podem crescer e são transportadas por longas distâncias, atuando como núcleos de condensação de nuvens — também podem ser chamados de “sementes de nuvens”. Assim, conseguem influenciar o ciclo hidrológico global

Delicado equilíbrio global

Embora o mecanismo incrível que permite a Amazônia se tornar uma máquina de fazer nuvens e chuvas tenha sido descoberto apenas agora, ele já está em risco . Isso porque é somente viável enquanto a floresta for preservada

“As emissões de isopreno dependem da floresta em pé. Elas não ocorrem se a vegetação nativa for substituída por pastagem ou cultura de soja [o que vai acelerar o seu colpaso]”, explica Paulo Artaxo, coordenador do Centro de Estudos Amazônia Sustentável (CEAS) da USP e coautor do artigo, para Agência FAPESP

“Com o desmatamento, esse mecanismo de produção de partículas é destruído, reduzindo a formação de nuvens e de precipitação”, acrescenta. “É o que chamamos de realimentação negativa no sistema climático total , pois o desmatamento traz redução de precipitação de maneira significativa por diminuir a evapotranspiração e a produção de partículas, que dependem das emissões de isopreno”, complementa o cientista.