“Completam-se dois meses desde que deixei minha terra. Penso com expectativa no Brasil que se aproxima e na terra natal que se distancia.”
Uma semana depois de fazer essa anotação em seu diário, no dia 10 de agosto de 1917, o jovem Eiji Matsumura, saído da província de Nagano, na região central do Japão, finalmente atracou em Santos, no litoral paulista.
Mais de 100 anos, depois, Keila Keiko Matsumura Kayatt – bisneta de Eiji – é empreendedora no Brasil. Ela é a fundadora da VR Monkey, uma startup dedicada a projetos de realidade virtual.
Em depoimento a PEGN, Keila fala sobre como a coragem de seu bisavô e os ensinamentos de sua família a inspiraram a empreender.
“Um dos maiores incentivos que tive para deixar o emprego de desenvolvedora e abrir uma startup especializada em realidade virtual foi ver a grande quantidade de familiares que decidiram se arriscar e partir do zero.
A começar pelo meu bisavô materno, que saiu do Japão rumo ao Brasil em 1917. Ele veio trabalhar no campo e se fixou em Registro, no interior de São Paulo.
A infraestrutura lá era precária. Por isso, além de cultivar a terra, ele ajudava a organizar os colonos para que tivessem uma vida melhor.
Dessa maneira, acabou se tornando fundador de pelo menos quatro cooperativas de produção agrícola. Ele gostava muito de escrever e registrou essas experiências em diários, que a minha família guarda como relíquias.
Quando minha mãe ainda estava grávida, ele deixou um pouco de dinheiro e um bilhete de presente para mim, me orientando a poupar aquelas notas para o futuro, em vez de gastá-las à toa.
Guardar para conquistar algo maior é uma das lições que ele me deixou. Meu pai, também um descendente de japoneses, foi empreendedor no ramo da construção civil — ele tinha uma empreiteira.
Com ele, aprendi o que é ter fé inabalável. Meu pai passou por momentos realmente difíceis nos negócios, em que chegou a perder praticamente tudo, e conseguiu se reerguer.
A persistência, o trabalho duro e a honestidade, que costumam ser identificadas com a cultura japonesa, são valores que meu pai preza e fez questão de me ensinar.
Isso foi fundamental nos primeiros tempos da VR Monkey, quando criamos soluções que usam a realidade virtual em simuladores e treinamentos corporativos.
Quando os clientes não chegam e parece que nada vai dar certo, é preciso resiliência. A espera trouxe recompensas: hoje estamos incubados na Cietec, recebemos R$ 860 mil da Fapesp e conquistamos clientes como Intel, Ambev e Gerdau.”