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Comidas ultraprocessadas são prejudiciais para crianças (65 notícias)

Publicado em 04 de março de 2025

Um estudo, publicado na revista Clinical Nutritioncomo , mostrou que alimentos ricos em açúcar , gordura saturada, sal e aditivos químicos favorecem bactérias prejudiciais ao intestino infantil . A pesquisa também aponta que a amamentação materna é um fator de proteção às crianças, amenizando os problemas que esses tipos de comida causam.

O artigo faz parte do Estudo MINA – Materno-Infantil no Acre: coorte de nascimentos da Amazônia ocidental brasileira , que acompanha um grupo de crianças nascidas entre 2015 e 2016 em Cruzeiro do Sul (AC) , com financiamento da FAPESP.

Como detalha a , o estudo mostra que crianças amamentadas tiveram abundância do microorganismo benigno Bifidobacterium , gênero de bactérias famosamente associado à boa saúde intestinal.

Por sua vez, as que não eram amamentadas e comiam ultraprocessados tiveram abundância de bactérias Selimonas e Finegoldia , que são pouco encontradas nas crianças amamentadas e típicas em pessoas obesas ou com doenças gastrointestinais

“Identificamos, ainda, que o aleitamento materno atenuou os efeitos prejudiciais do consumo de ultraprocessados na composição da microbiota intestinal. O grupo de crianças que recebia o leite materno e não consumia produtos ultraprocessados apresentou microbiota mais estável e com melhores marcadores de saúde , principalmente pela maior abundância de Bifidobacterium”, conta o primeiro autor do estudo, Lucas Faggiani.

“Não existia, até hoje, um estudo com tantos participantes que analisasse, ao longo do primeiro ano de vida, a composição da microbiota intestinal em relação ao consumo de produtos ultraprocessados, justamente quando o sistema imune está se formando . Ainda que a região seja de difícil acesso, esses produtos podem ser obtidos facilmente e acabam substituindo alimentos tradicionais e, até mesmo, o aleitamento materno”, explica Marly Cardoso, professora e coordenadora do projeto.

Além da quantidade de bebês pesquisados, Faggiani explica que o estudo também se destaca pela população estudada , na região amazônica, pessoas com vulnerabilidade social, o que contribui para a investigação de problemas pouco conhecidos dessa população anteriormente.

As coletas foram feitas entre 2016 e 2017 e foram armazenadas seguindo protocolo do Instituto de Medicina Tropical da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), coordenado pela professora da instituição, Ester Sabino;

Os cotonetes com amostras de fezes foram guardados em temperaturas baixas e enviados para a capital paulista;

Foram coletados, além das amostras fecais, dados, como peso e altura das crianças , se eram amamentadas ou não e um questionário, respondido pela mãe, sobre os hábitos alimentares do bebê e da família

As amostras foram enviadas para uma empresa sul-coreana especializada para o sequenciamento automatizado dos genomas , método mais rápido que o normal;

E, com os dados em mãos aqui no Brasil, os pesquisadores fizeram suas análises.

Resultados e conclusões

Além dos níveis de Bifidobacterium Selimonas e Finegoldia , os pesquisadores detectaram a ocorrência maior de bactérias do gênero Firmicutes nas crianças que não amamentavam, mas, também, não comiam ultraprocessados . Esse gênero é um marcador de uma microbiota adulta , o que sugere maturidade precoce do sistema digestivo devido à falta de leite materno

Bactérias do gênero Blautia também foram muito encontradas nas crianças desmamadas e consumidoras de ultraprocessados . Porém, ainda não há consenso sobre um potencial benéfico ou prejudicial desse tipo de microorganismo, segundo Faggiani.

“Havíamos notado que o consumo de produtos ultraprocessados ocorria em mais de 80% das crianças participantes do estudo já no primeiro ano de vida , quando a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é não oferecer esses produtos antes dos dois anos de idade. Diante desses resultados, seguimos acompanhando essas crianças para monitorar os possíveis desfechos adversos à saúde a longo prazo ”, conclui Cardoso.