O espaço pode ser a última fronteira, mas não tem sido exatamente uma mina de ouro. Com a exceção de um único grande sucesso - as comunicações por satélite - ganhar dinheiro no cosmo tem sido tão difícil como encontrar vida em Marte. Fracassaram os planos de produzir drogas superpuras, ou outros materiais, em ambiente de microgravidade. Não decolaram os planos ousados para levar turistas à órbita. Até o mercado de lançamento de foguetes, na melhor das hipóteses, é marginal. A história de empresas no espaço mostra que "a melhor maneira de ganhar uma pequena fortuna é começar com uma grande fortuna", afirma John E. Pike, diretor do Projeto de Política Espacial da Federação de Cientistas Americanos.
Agora, no entanto, as empresas estão apostando que encontraram, finalmente, uma forma de ganhar dinheiro: tirar fotografias da Terra a partir do espaço. Hoje, as imagens feitas do espaço produzem uma receita anual de apenas uns US$ 100 milhões. Mas, usando máquinas fotográficas mais precisas e obtendo fotos para clientes em poucas horas, em vez de semanas, essas novas empresas esperam arrecadar, em conjunto, entre US$ 2 bilhões e US$ 10 bilhões por ano. "O futuro desse negócio é enorme", garante William Folchi, vice-presidente de marketing e vendas da Space Imaging de Thornton, no Colorado.
Folchi e seus concorrentes esperam conquistar agentes imobiliários, prefeituras, empresas concessionárias de serviços, governos estrangeiros, agricultores e outros que agora usam fotografias tiradas de aviões, imagens espaciais de baixa resolução, ou fotos comuns - como esperam, também, criar um vasto mercado de consumo, vendendo imagens para usuários diversos, desde jogos de computador até o planejamento de férias. "As imagens poderão tornar-se tão comuns quanto são, hoje, os mapas rodoviários", prevê Douglas B. Gerull, co-fundador e executivo-chefe da EarthWatch Inc., uma nova empresa sediada em Longmont, Colorado. "Antes de viajar de férias para esquiar em Vail, você ligaria seu computador pessoal e pediria uma foto da neve nas pistas."
Dentro de três a quatro meses, a empresa de Gerull planeja lançar o primeiro satélite de imagens do mundo que não é financiado por nenhum governo. Sua resolução será de 3 metros: cada ponto da imagem representará um quadrado de 3 metros de lado, na Terra. Dentro de dois anos, a EarthWatch, Space Imaging e Orbital Imaging em Fairfax, Virgínia, pretendem colocar em órbita um olho ainda mais penetrante, com uma visão da Terra antes obtida apenas por satélites de espionagem. Suas máquinas fotográficas terão uma resolução de 1 metro, com nitidez suficiente para enxergar um carro de uma altura de 640 quilômetros. A maioria desses satélites orbitará em torno do planeta no sentido norte-sul, tirando fotos enquanto a Terra gira.
A nova corrida espacial promete ser dispendiosa. A Lockheed Martin Corp, e outros parceiros que apóiam o plano Space Imaging pretendem investir mais de US$ 500 milhões para construir e lançar seu satélite de 800 quilos e processar os dados obtidos pelo satélite. A EarthWatch espera criar satélites de dimensões e custos menores, aproveitando a experiência da "Guerra de Estrelas" do fundador Walter Scott, que ajudou a criar o programa Brilliant Pebbles ("Seixos Brilhantes") para abater mísseis vindos do espaço. A EarthWatch tem US$ 50 milhões de capitalistas e sócios de empreendimento de risco, incluindo a Hitachi Ltd, e a Bali Corp. Está procurando levantar US$ 150 milhões adicionais para lançar um segundo satélite com resolução de 3 metros, a ser seguido por outros dois, mais sensíveis, com resolução de 1 metro.
SERVIÇOS DE ESPIONAGEM
A terceira grande concorrente norte-americana, a Orbital Imaging Corp., já encontrou dificuldades de financiamento, tendo perdido seus dois parceiros iniciais, a Litton Industries Inc, e a GDE Systems, subsidiária da Tracor Inc. Ela ainda espera levar adiante seu projeto com US$ 100 milhões fornecidos por sua controladora, a Orbital Sciences Corp. "Essa atividade não serve para os submissos", afirma Dick Fox, um consultor de Mansfield, Illinois, que está usando imagens remotas para atividades como a agricultura.
As empresas de satélites não são os únicos concorrentes. Os aviões, embora não sejam práticos para todas as atividades fotográficas, podem voar debaixo das nuvens, obtendo imagens de uma nitidez que satélite nenhum consegue igualar. Além disso, governos como os da França, Índia, Rússia e Canadá estão intensificando seus esforços para vender imagens por satélites. Em novembro, o Pentágono e a CIA divulgaram um plano de usar satélites de espionagem para monitoramento ambiental. Embora os executivos de empresas descartem a ameaça, isso significa que o governo norte-americano também poderá vir a ser um concorrente, pelo menos em um segmento do mercado. "Vai haver um tremendo excesso de capacidade", prevê Ted Nanz, presidente da subsidiária norte-americana da Spot Image, empresa francesa de imagens comerciais de satélites. "De todas as novas empresas, não mais de uma ou duas terão sucesso.
O governo Clinton ajudou a desencadear esse vale-tudo em março de 1994, ao permitir que as empresas vendessem imagens de satélite com resolução de 1 metro, em vez do limite anterior de 3 metros. A medida foi controvertida: os analistas supõem que alguns dos maiores clientes das novas empresas serão os serviços de espionagem de governos estrangeiros. Mas as empresas norte-americanas de imagens por satélite dizem que não há nenhum sentido em restringirem suas vendas de imagens de alta resolução, já que estas são disponíveis em outros lugares, em nações como a Rússia. "Já não há mais segredo", sustenta Gerull, da Earth-Watch. A única exceção é que o governo tem o direito de vetar a comercialização dos futuros sistemas norte-americanos, caso julgar que a segurança nacional está ameaçada.
Os novos satélites, que aguardam sua vez na plataforma de lançamento, incorporam uma série de avanços, desde chips de memória de grande capacidade que armazenam as imagens até que possam ser transmitidas por rádio à Terra, até a ótica telescópica de alta resolução. Um espelho de máquina fotográfica que a Eastman Kodak Co. está produzindo para a Space Imaging será tão liso que, se tivesse 8 quilômetros de diâmetro, a maior ondulação teria apenas um milímetro de altura. É fabricado com um novo vidro desenvolvido pela Corning Inc., conjuntamente com a Kodak, que reduzirá as distorções da expansão e contração à medida que o satélite sai da escuridão gelada para a luz escaldante do sol, e vice-versa. "Estamos chegando ao limiar da física", diz Phil Walker, gerente de sistemas comerciais de sensoramento remoto na Kodak. As imagens têm um mercado pronto no próspero campo da cartografia de alta tecnologia. Os fabricantes dos chamados sistemas de informações geográficas (GIS) faturam mais de US$ 2 bilhões por ano como seus equipamentos, programas e mapas para finalidades especiais que são capazes de mostrar, por exemplo, as tendências do escoamento da água pluvial durante uma tempestade numa cidade qualquer do Texas.
Essas perspectivas - e a multiplicidade de usos da imagem espacial - convenceram o executivo-chefe da Lockheed, Daniel M. Tellep. Depois de uma apresentação em dezembro de 1993, recorda-se um dos presentes, Tellep voltou-se para seu diretor financeiro, dizendo: "Você está com o talão de cheques? Estou pronto para assinar". Agora, a empresa projeta uma receita de US$ 300 milhões por ano, uma vez que o satélite esteja em órbita. Resta comprovar se a abordagem da Lockheed, na base dos investimentos de grande escala, é, de fato, a melhor - como, também, falta saber quantas empresas esse mercado incipiente conseguirá suportar. Mas parece que, pelo menos, uma ou duas delas terão lucros, aventurando-se em regiões onde poucas empresas foram antes.
Notícia
Gazeta Mercantil