Uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo apontou que o combate à pobreza durante a infância pode reduzir em quase um quarto o risco de um jovem cometer algum crime.
Em entrevista, a pesquisadora da Unifesp Carolina Ziebold explicou que o estudo buscou investigar quais fatores relativos à infância poderiam estar associados mais tarde a crimes.
“Usamos uma medida ampla de pobreza para avaliar se estava na família de baixa escolaridade, baixo poder de compra, condições ruins de moradia”.
Foram analisadas 1.905 crianças de São Paulo e Porto Alegre ao longo de 7 anos que começaram a ser acompanhadas quando tinham aproximadamente 10 anos de idade.
Mais tarde, foram levantados os históricos deles, para saber se passaram por medidas socioeducativas ou condenação criminal.
Ziebold afirmou que a conclusão é de que “o único fator da criminalidade foi a pobreza.”
Foram analisados 22 fatores de risco que podem ter impacto no desenvolvimento humano.
“Tínhamos dados sobre exposição a diferentes fatores de risco durante a infância, desde baixo peso ao nascer até problemas na escola, como bullying e baixo rendimento escolar, ou se apresentaram, ao início da vida adulta, alguma condenação criminal ou medida socioeducativa”.
Ela destaca, no entanto, que o estudo “não quer estigmatizar a pobreza.”
90% das crianças do levantamento não cometeram crime, mas, das que tiveram contato com a criminalidade, o único fator associado foi exatamente a pobreza.
Outros fatores como exposições perinatais, como gravidez não planejada, prematuridade, filhos de mães fumantes ou de usuárias de álcool não apresentaram nenhuma relação com crimes no futuro.
“Com políticas efetivas, se nenhuma delas tivesse sido exposta à pobreza na infância, um quarto dessas crianças não teria cometido crime depois”.
O questionário proposto pela pesquisa analisou o nível de educação dos pais, de renda e qual o nível de acesso a serviços básicos como água.