Crianças e adolescentes são os mais afetados pela pobreza no Brasil, o dobro em comparação aos adultos, segundo revela relatório do Unicef divulgado em março deste ano.
Pesquisa realizada no Brasil e publicada na revista Scientific Reports comprova que menos pobreza na infância equivale a menos criminalidade na fase adulta. Cientistas concluíram que em um cenário sem pobreza, 22,5% dos casos criminais de jovens poderiam ter sido evitados.
Reportagem de Luciana Constantino, da Fapesp, para o site Poder 360, mostra detalhes do recente estudo que inova no método adotado ao analisar 22 fatores de risco que podem ter impacto no desenvolvimento humano. Mais de 1.900 crianças foram acompanhadas por um período de sete anos, até chegarem à juventude. Outro diferencial desse trabalho é o uso de uma medida complexa da pobreza para além da renda das famílias.
Ao final da pesquisa, os cientistas concluíram que uma medida ampla de pobreza, envolvendo baixa escolaridade do chefe da família, baixo poder de compra e limitado acesso a serviços básicos, foi o único fator relacionado à criminalidade que poderia ser prevenido. O cálculo usou o chamado PARF (sigla em inglês para fator de risco atribuível à população), que aponta possível redução de envolvimento com crime, caso haja uma intervenção precoce bem-sucedida nos indicadores de risco detectados na infância.
A pesquisadora Carolina Ziebold, do Departamento de Psiquiatria da Unifesp e primeira autora do artigo, afirma que é necessária uma visão integral do jovem que entra na criminalidade para entender as circunstâncias que o levaram a essa situação. Daí a importância de considerar vários fatores que podem ser prevenidos. Para o professor da Unifesp Ary Gadelha, coautor do artigo, a análise das condições de moradia e de acesso a políticas públicas é uma maneira mais completa para entender a pobreza. Dessa forma, a solução não passa apenas pela melhoria da renda. “Uma série de adversidades enfrentadas por essas crianças vai se traduzir na vida adulta em maior dificuldade de acesso a um emprego, nível educacional mais baixo, entre outros”, explica Gadelha.
Texto: Estação do Autor com Poder360 / Agência Fapesp
Edição: Scriptum