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Brasil Medicina

Combate à degradação capilar

Publicado em 20 junho 2007

Por Thiago Romero, Agência FAPESP

Agência FAPESP — Pesquisadores do Centro Multidisciplinar para o Desenvolvimento de Materiais Cerâmicos (CMDMC), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) da FAPESP, desenvolveram uma nova metodologia para a definição do fator de proteção solar ideal para cada tipo de fibra capilar.

Com objetivos semelhantes aos dos bloqueadores solares para pele, a novidade se destina a xampus e condicionadores para o tratamento de cabelos degradados pela radiação ultravioleta.

O trabalho foi desenvolvido nos laboratórios da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Araraquara, e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), no interior paulista, em parceria com a KosmoScience Ciência & Tecnologia Cosmética, empresa spin off do CMDMC.

"Existem inúmeros produtos para a proteção dos cabelos expostos à luz solar, mas o mercado nacional é carente de alternativas que especifiquem os números dos fatores de proteção", disse Adriano Pinheiro, diretor da Kosmoscience, à Agência FAPESP. "Com essa nova metodologia, a indústria será capaz de mensurar mais precisamente o nível de proteção desses cosméticos para comunicar melhor aos consumidores."

Segundo Pinheiro, percebe-se que o sol está agredindo a pele quando há uma vermelhidão por conta da inflamação das células. Como no cabelo é bem mais difícil identificar essa degradação fotoquímica, os pesquisadores elegeram o aminoácido triptofano — um marcador protéico das fibras capilares bastante sensível à radiação ultravioleta — para a função de indicador.

A nova metodologia de fotoproteção quantifica nas fibras capilares o teor desse aminoácido, que é um dos principais componentes da melanina — responsável pela coloração dos fios de cabelo. Do mesmo modo que cada tipo de pele humana, das mais claras às mais escuras, absorve uma quantidade diferente de radiação solar, as fibras capilares contam com intensidades de fotoluminescência distintas.

Para o estudo, foram utilizadas fibras capilares caucasianas com tempos variados de exposição à luz solar. De acordo com Pinheiro, uma fibra capilar caucasiana, que contempla mais da metade da população brasileira, tem cerca de 30 mil intensidades de fotoluminescência.

"Sabemos que, por meio da quantidade de aminoácido triptofano, se for exposto a mais de 90 horas de radiação solar, esse mesmo fio de cabelo caucasiano passará a ter uma intensidade de fotoluminescência de 18 mil. Ao compararmos as características dos fios expostos com as dos não expostos ao sol, definimos o fator de proteção que deve constar nos rótulos dos produtos", explicou.

Para Pinheiro, que foi pesquisador do Laboratório Interdisciplinar de Eletroquímica e Cerâmica (Liec), do CMDMC, uma vez que o excesso de luz solar promove a desidratação das fibras e a perda de coloração dos fios, a exposição à radiação ultravioleta não deve ser uma preocupação apenas das mulheres.

"A oxidação das ligações dissulfídicas que leva à fragilização dos fios de cabelo também deve ser observada pelos homens. Há estudos que sugerem que o excesso de radiação solar pode contribuir para a calvície", disse.

A metodologia está sendo transferida para a indústria e, segundo Pinheiro, os primeiros produtos capilares com fator de proteção deverão estar disponíveis no mercado no início de 2008.

O estudo, intitulado Estudo comparativo da fotodegradação de fibras capilares caucasianas pelas técnicas de espectroscopia de excitação/emissão e DSC, foi eleito o melhor trabalho técnico-científico apresentado no 21º Congresso Brasileiro de Cosmetologia, que ocorreu de 15 a 17 de maio, em São Paulo.