Notícia

Summit Agro Estadão

Com internet no campo, renda de pequenos produtores cresceu 30% (1 notícias)

Publicado em 07 de fevereiro de 2024

Por Fernanda Farias | fernanda.farias@estadao.com

A chegada da internet no campo representou o início de uma verdadeira revolução na forma de produzir de duas mil e trezentas pequenas propriedades rurais do interior de São Paulo. “Não foi só inclusão digital, foi uma inclusão social muito grande”, afirma o produtor de café Ademar Pereira, de Caconde, na Serra da Mantiqueira, a 290km da capital paulista.

Hoje, os produtores conseguem se comunicar entre eles e criaram uma unidade de torrefação coletiva movida a energia fotovoltaica. Além disso, eles vendem diretamente para cafeterias por plataformas de internet.

Ademar comemora: “A renda aumentou 30% e todos ganharam em qualidade de vida. Porque o meio rural vivia isolado e hoje, novas possibilidades surgem a cada dia”.

Caconde fica numa região montanhosa onde a maior parte ainda não tem energia elétrica. Todas as experiências vividas pelos produtores de café do município foram possíveis com um projeto ousado da Embrapa Digital, em parceria com a FAPESP e outras sete instituições.

Para começar, a internet chega ao campo por meio de 73 antenas acopladas a placas solares. De 200 propriedades com internet no município, o número saltou para 1.350 em um ano. A conectividade é o primeiro grande objetivo do projeto Semear Digital.

“A internet impacta muito. A gente percebe uma mudança de comportamento já quando a internet chega. O produtor começa a ter acesso à informação e interagir de dentro da propriedade, assim as possibilidades só crescem.”

Luciana Alvim – pesquisadora da Embrapa Digital

A pesquisadora que coordena o projeto Semear Digital fala com empolgação sobre o impacto que a internet causa quando chega no meio rural. “Esses municípios até têm internet na cidade, mas o agricultor não consegue se comunicar quando está no campo. Então, só a chegada da internet abre portas para todas as possibilidades”, afirma Luciana Alvim.

O investimento para cinco anos de projeto é de R$ 25 milhões e o potencial é alcançar 14 mil pequenas e médias propriedades rurais no país. Luciana Alvim explica que a primeira ação foi mapear a situação das regiões antes da tecnologia chegar e, em seguida, estudou-se ferramentas e tecnologias mais apropriadas para o tipo de produção local. Inicialmente, os dois municípios atendidos foram Caconde e São Miguel Arcanjo, no interior de São Paulo.

84% dos agricultores brasileiros usam internet e algum tipo de tecnologia na propriedade.

Um dos mais recentes levantamentos sobre o acesso à internet no campo é uma pesquisa de 2022 da Embrapa, em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

O resultado mostra que 84% dos agricultores brasileiros já usam algum tipo de tecnologia na propriedade, desde aplicativos de mensagens a drones para monitoramento da lavoura e softwares de gestão.

A pesquisadora Maira de Souza Regis, da Universidade de Brasília (Unb), estudou o implemento de tecnologias no campo e concluiu que o Brasil tem todos os estágios da agricultura acontecendo ao mesmo tempo.

“Já temos muitos agricultores vivendo a quinta revolução e adotando as tecnologias da agricultura 5.0, com inteligência artificial e robótica. Ao mesmo tempo, vemos agricultores que ainda estão na segunda e terceira fases, marcadas pelo uso de biotecnologia, genética, agricultura de precisão”, diz a pesquisa.

Nas entrevistas feitas com produtores rurais de todo o país, Maira descobriu a forma como eles usam a tecnologia. 27% deles já adotaram drones para mapear as lavouras e mais de 90% usam a internet para operações simples, como transações bancárias.

Mais oito municípios integram o projeto a partir de 2024

Essa diversidade é o desafio para iniciativas como a Semear Digital, afirma a pesquisadora Luciana Alvim. Por isso, mais oito municípios foram integrados ao projeto em 2024. “A intenção é oferecer capacitação e tecnologias digitais focadas em automação, robótica, aplicativos e sistemas que possibilitem ao produtor ter menos perdas e gerar um produto de maior valor agregado”, explica..

Os locais são escolhidos pelas suas características econômicas e pelo potencial de desenvolvimento. Tiveram prioridade os que já tinham algum tipo de conectividade, onde seria possível fazer o diagnóstico do tipo de tecnologia necessária. Em Vacaria, no Rio Grande do Sul, por exemplo, já existe a ideia de implantar um robô para mapear a produção de maçãs e fazer a estimativa de safra.