SÃO PAULO - A Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) anunciou nesta manhã a criação de um banco de dados com informações médicas sobre 75 mil pacientes de Covid-19 no Brasil, o primeiro do gênero no país. A ferramenta, batizada de COVID-19 Data Sharing/BR, tem inicialmente dados de pacientes atendidos pelos hospitais Albert Einstein e Sírio-Libanês e pela rede Fleury de exames clínicos.
As informações disponíveis, que incluem detalhes do prontuário médico de pacientes e resultados de diagnósticos, receberam tratamento para garantir o anonimato dos indivíduos descritos, e podem ser acessadas por qualquer instituição de pesquisa.
A Fapesp diz que o repositório de dados vai abrigar 1,6 milhão de exames clínicos e laboratoriais e 6.500 "dados de desfecho de pacientes", com a progressão da doença até a morte ou recuperação, para subsidiar pesquisas científicas. A intenção é cobrir a lacuna de disponibilidade de dados públicos que atrapalha muitas pesquisas no Brasil. Fiocruz e UFRJ também prometem iniciativa do tipo no Rio.
Segundo Luiz Eugênio Mello, diretor científico da Fapesp, a ideia do repositório é subsidiar estudos como aqueles que buscam entender eficácia de diferentes tratamentos para a doença, ou medir a taxa de risco para diferentes tipos de paciente.
Informações sobre histórico anterior de saúde dos pacientes também poderão ser acessadas.
— Digamos que a gente use a informação sobre se o sujeito foi ou não imunizado com a vacina BCG, que era uma forma de imunização para tuberculose. Existiu em algum momento um grupo de pesquisadores que supôs que a epidemia pode estar sendo 'menos pior' nas populações imunizadas com BCG. Se essa informação estiver na nossa base de dados, alguém pode pesquisar isso — diz Mello.
— Mesmo que a informação não esteja na base de dados, a gente poderia regressar aos parceiros do projeto e buscar agregar a informação — explica.
Perfil da doença
Como os dados também reúnem informações sobre idade, sexo, comorbidades e outros parâmetros, será possível usar a base para traçar melhor um perfil da epidemia no país, mostrando o prognóstico típico de cada grupo, dizem os pesquisadores. Também serão incluídos dados como a movimentação do paciente. Em uma segunda etapa, será aberto acesso a dados de exames de imagem, como radiografias e tomografias.
O projeto da Fapesp é similar a outro sendo articulado no Rio, reunindo Fiocruz, UFRJ e UniRio, com piloto nos Hospitais Gaffree Guinle (UniRio) e São José (Duque de Caxias), vinculado ao projeto Vodan (vírus Outbreak Data Network), internacional. O anúncio oficial dessa outra iniciativa ainda não ocorreu.
O repósitório de dados da Fapesp entrou no ar nesta quarta-feira (17) em modo piloto no site repositoriodatasharingfapesp.uspdigital.usp.br, exibindo apenas parte das informações, para receber opiniões de usuários. O acesso deve ser aberto de forma total a partir de 1º de julho. Segundo Mello, a ideia é que dados clínicos de pacientes em hospitais públicos, como o Hospital das Clínicas, da própria USP, também sejam incorporados ao projeto no futuro.