O afrouxamento das restrições ao comércio em São Paulo – arriscado, segundo especialistas – parece seguir razões eleitoreiras
– e se contrapôs ao negacionismo criminoso de Jair Bolsonaro. Cacifou-se assim para se apresentar como a voz da ciência no mundo político brasileiro. Mas vem sendo acusado de hipócrita por cientistas ligados às universidades, que criticam as tentativas do governo paulista de realizar cortes no orçamento da Fapesp, uma das maiores agências de financiamento à pesquisa no Brasil. E é difícil encontrar amparo científico para medidas que agora relaxam o distanciamento social, prática cuja adesão já era baixa no estado.
A pandemia traz dilemas difíceis para os gestores públicos. Quais são os negócios realmente essenciais, que devem permanecer em atividade mesmo no ápice do contágio? Como se deve penalizar aqueles que transgridem as proibições e assim colocam a saúde pública em perigo – multa, prisão, fechamento do negócio? Em que momento se devem afrouxar as restrições, e em que circunstâncias elas devem ser retomadas? Não há uma resposta científica universal para essas perguntas. A ação dos governantes precisa considerar fatores sociais, econômicos, culturais, que variam conforme o lugar e as circunstâncias.
Mas isso não autoriza o vale-tudo: todas as decisões têm de se amparar no melhor e mais atualizado conhecimento científico à disposição do governante. O governo federal fez o contrário disso, como atestam a insistência em medicamentos cuja eficácia foi desmentida por pesquisas e a campanha irresponsável do presidente para liberar todas as atividades econômicas (e sociais, recreativas, esportivas, religiosas…). headtopics.com
As medidas perigosas que Doria tomou agora não são comparáveis à condução lastimável da pandemia pelo governo federal. Mas Bolsonaro é um patamar muito baixo… O fato é que a decisão de abrir o comércio do estado de São Paulo nesse momento crítico já não autoriza o governador a falar em Ciência, com maiúscula.
Afinal, a preocupação maior é conter a disseminação do vírus ou agradar comerciantes às vésperas do Dia das Mães?Não se agradou apenas a comerciantes e consumidores, mas também a pastores e fiéis. O governo estadual permitiu a reabertura de templos e igrejas, espaços onde
o risco de contágio é grande. O julgamento em que o STF autorizou estados e municípios a suspenderem cultos religiosos foi feito a partir de uma ação movida pelo PSD contra um decreto do governo de São Paulo. De olho na campanha eleitoral de 2022, Doria decerto quer evitar que se cole nele a pecha de político que proíbe cultos.