O urbanista brasileiro Luís Inácio de Anhaia Melo (1891-1974) – Professor Emérito da Escola Politécnica da USP – e o urbanista argentino Carlos María della Paolera (1890-1960) tinham ideias ousadas para as cidades de seus países. Eles consideravam que o urbanismo estava muito mais ligado à arquitetura e a questões sociológicas do que à engenharia e defendiam a participação e o interesse popular no planejamento urbano.
As ideias de Anhaia Melo e de Paolera serão um dos temas debatidos no colóquio São Paulo e Buenos Aires Intermídias – A História em Imagens, que será realizado nos dias 5 e 6 de maio no Auditório István Jancsó da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM) da USP. No evento, pesquisadores do Brasil e do exterior vão discutir a evolução urbanística de metrópoles da América Latina por meio de documentos textuais e iconográficos, como fotos, mapas e vídeos. “Esses recursos permitem analisar as representações figuradas da história”, afirma a professora Heliana Angotti Salgueiro, do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, uma das coordenadoras do colóquio, ao lado da professora Beatriz Bueno, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e de Design (FAU) da USP, e da professora Diane Davis, da Escola de Graduação em Design da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. “Vamos debater questões com as quais todos nós convivemos diariamente.”
Ao todo, serão três mesas de discussão com professores da USP, de Harvard e das Universidades de Buenos Aires, de La Plata e de General Sarmiento, na Argentina. Uma das mesas incluirá ainda debates sobre a Cidade do México. O formato do evento é híbrido, com alguns dos palestrantes participando presencialmente e outros, a distância.
Imagens, urbanismo e tecnologias digitais
Após a abertura oficial do evento, que acontecerá às 9 horas do dia 5, a primeira mesa de debates, Buenos Aires: Imagens e Representações do Crescimento de Uma Cidade Metropolitana, deve focar no desenvolvimento urbano da capital argentina. A professora Heliana Salgueiro explica como isso vai ser feito: “Os pesquisadores das universidades argentinas vão utilizar vários mapas, desde o mais rudimentar até os mais recentes, para mostrar esse desenvolvimento cronologicamente”. Ela destaca que o planejamento urbano de Buenos Aires segue o modelo espanhol de geometria regular ortogonal de arruamento, diferentemente do que aconteceu no Brasil, mas lembra que, em muitos casos, isso ficou na projeção, uma vez que, com o crescimento das cidades e das periferias em torno delas, aumentaram, também, as desigualdades sociais e urbanas.
Já a segunda mesa, Urbanização e Urbanidade em Questão nas Cidades Latino-Americanas, no dia 5, a partir das 14 horas, deve tratar da América Latina de forma mais abrangente. A abertura será feita pela professora Diane Davis, de Harvard, que vai abordar a urbanização na Cidade do México. A seguir, a pesquisadora Beatriz Bueno vai falar sobre São Paulo, com foco na região central da cidade. “Na sua tese de doutorado, Beatriz fez um amplo mapeamento sobre São Paulo, como ela cresceu, como ocorreram as demolições, os descartes da arquitetura e as substituições arquiteturais, e é isso o que ela vai mostrar”, antecipa Heliana. Beatriz vai abordar ainda os arranha-céus nas capitais sul-americanas, tópico que também fará parte da fala de Virginia Bonicatto, da Universidade de La Plata, sobre a verticalização na cidade. Nessa mesa é que serão analisadas as ideias de Anhaia Melo e de Paolera.
A terceira e última mesa acontecerá no dia 6 de maio, às 9 horas, e terá o nome de Cidade e Tecnologias Digitais – Imagens Geradas na Atualidade. A conferência de abertura será feita on-line pelo crítico de cinema e professor da Universidade da Cidade de Nova York Lev Manovich, nos Estados Unidos, que vai abordar o seu mais recente livro, ‘Make it New’: GenAI, Modernism, and Database Art (2024). A ideia, segundo o resumo do evento, é “demonstrar como as tecnologias digitais permitem a visualização de aspectos da história urbana fora das narrativas tradicionais”, o que motivou o convite a Manovich, que, segundo Heliana, é o maior especialista em cultura digital atualmente. O professor Artur Rozestraten, da FAU, participará presencialmente da mesa. Rozestraten coordena o projeto de pesquisa Experiência Arquigrafia 4.0 – Representações, Imaginários e Tecnologia nas Cidades, que investiga os formatos digitais e suas relações com a cidade. O pesquisador Sayed Abdul Basir Samimi vai mostrar uma maquete digital em três dimensões do centro histórico de São Paulo. A conferência de encerramento será proferida, a distância, por Antoine Picon, da Escola de Graduação em Design de Harvard. Na tarde do dia 6, haverá uma saída com a professora Beatriz Bueno ao centro de São Paulo, com o objetivo de conhecer a arquitetura e discutir os motivos por trás das construções da forma como foram feitas, por exemplo.
Origem da ideia
A professora Heliana conta que a ideia de fazer o colóquio surgiu quando, em 2019, ela visitou uma exposição em Harvard sobre quatro cidades — Boston, Berlim, Istambul e Mumbai –, também numa perspectiva intermídias. A partir dali, Heliana passou a se reunir com pesquisadores de Harvard e da Argentina para planejar um colóquio sobre cidades latino-americanas.
O colóquio conta com o apoio do David Rockfeller Center for Latin American Studies da Universidade de Harvard, da Fapesp, da FAU, do IEA, da Editora da USP (Edusp) e da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP.
O colóquio São Paulo e Buenos Aires Intermídias: A História em Imagens acontece nos próximos dias 5 de maio, das 9 às 18 horas, e 6 de maio, das 9 às 12 horas, no Auditório István Jancsó da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM) da USP, na Cidade Universitária, em São Paulo. Entrada grátis. Inscrições podem ser feitas no local.
Por Ricardo Thomé*
* Estagiário sob supervisão de Roberto C. G. Castro
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