A Unesp estabeleceu iniciativas de cooperação em pesquisa com a Universidade de Keele, da Inglaterra. A ação foi realizada durante encontro nos dias 13 e 14 de julho, no Instituto de Biotecnologia (Ibtec), Câmpus de Botucatu. O evento consolida a parceria entre o Ibtec e a Universidade de Keele, iniciada em 2014 no âmbito do acordo de cooperação Fapesp-Keele. Entre os temas de pesquisa estão doenças tropicais como dengue, leishmaniose e malária.
Na abertura do evento, a pró-reitora de Pesquisa Maria José Giannini destacou o aumento no número de artigos científicos e de formação de doutores na Unesp, além do incremento de parcerias com instituições estrangeiras. “É um crescimento sustentado porque vem acompanhado de investimentos e de ampliação da infraestrutura de pesquisa, como é o caso deste Instituto de Biotecnologia”, disse Giannini.
O Ibtec é uma unidade auxiliar interdisciplinar que dispõe de equipamentos de alto desempenho, como sequenciadores genéticos e microscópios de precisão. “O instituto já vem tendo um papel fundamental na interlocução entre os cientistas da Universidade, impedindo, por exemplo, que a instituição adquira equipamentos em duplicidade”, afirmou o biólogo Celso Marino, professor do Instituto de Biociências de Botucatu e coordenador do Ibtec.
Jayme Souza Neto, pesquisador do Ibtec e professor associado da Universidade de Keele, destacou a configuração do prédio, com um laboratório central cercado por diversos laboratórios auxiliares ou específicos. “É uma instalação moderna com todo o potencial para ser um centro de referência em inovação, cooperação em pesquisa e transferência tecnológica”, afirmou.
Gordon Hamilton, por sua vez, descreveu as potencialidades do centro que dirige na Universidade de Keele: o CAEP (Centre for Applied Entomology and Parasitology, ou Centro de Entomologia e Parasitologia Aplicadas), voltado a estudos sobre doenças tropicais, pragas agrícolas e ciência básica sobre organismos de insetos e de parasitas. “A chave para o funcionamento dos nossos projetos é a intensa cooperação internacional que mantemos”, ressaltou.
Outra parceria celebrada foi a inclusão formal da Faculdade de Medicina (FM) nos programas de intercâmbio da Universidade de Keele. Em visita ao hospital da FM, a neurocientista Divya Chari, professora e diretora de Internacionalização da faculdade de medicina da instituição britânica, avaliou as vantagens para que os futuros médicos britânicos façam estágio na unidade. “Eles terão a oportunidade de lidar com problemas menos comuns no Reino Unido, como HIV, leishmaniose e picadas de animais peçonhentos, por exemplo”, explica.
O estudante de Medicina em Keele Owen Davis, relatou o estágio de um mês realizado por ele na FMB. “Aprofundei meus conhecimentos em traumatologia lidando com pessoas acidentadas e tive muito apoio dos médicos e professores do hospital”, declara.
MOSQUITOS
Souza-Neto esteve em Keele para desenvolver parte de um estudo sobre o Aedes aegypti, o mosquito que transmite a dengue e outros males. O professor quer descobrir por que alguns mosquitos são resistentes ao vírus da dengue e para isso analisa bactérias presentes na flora intestinal dos insetos. “O entendimento dessas interações nos levará a uma nova categoria de insetos modificados, que terão imunidade antiviral ativada e não serão hospedeiros da doença”, argumentou.
Um de seus parceiros de pesquisa é o biólogo Julien Pelletier, da Keele, que está no Ibtec até setembro. Ele busca entender por que algumas pessoas não atraem o Aedes aegypti. “Estamos investigando o sistema olfativo dos mosquitos para estabelecer estratégias mais eficazes de controle, como, por exemplo, a criação de comprimidos e óleos repelentes específicos.”
A leishmaniose é o tema de estudo de muitos dos palestrantes presentes. A doença afeta cães e humanos e é muito prevalente no Brasil. Hamilton apresentou no encontro resultados de seus estudos sobre a reprodução dos flebotomíneos, também conhecidos como mosquitos-palha, responsáveis pela transmissão da doença. “Desenvolvemos feromônios sexuais sintéticos a partir de uma planta que podem interromper o estímulo reprodutivo dos insetos e abrir um caminho para uma nova abordagem na prevenção”, esclareceu.
Já a médica Silvia Uliana, professora da USP, expôs os resultados promissores do uso de quimioterapia para o tratamento da patologia, especificamente o fármaco Tamoxifen, usado para combater o câncer de mama. Helen Price, da Keele, quer unir as respostas terapêuticas para a leishmaniose com as de uma outra doença que também não tem cura: a tripanossomíase africana, ou doença do sono. “Avaliamos o uso de uma enzima que tem forte ação sobre o ciclo de vida dos protozoários que causam cada uma das moléstias”, explicou.
O Anopheles gambiae, o mosquito que transmite a malária, é o alvo da pesquisa do biólogo Frédéric Tripet, também da Keele. “Nossa estratégia é entender a assinatura genômica do inseto para fazer intervenções no seu mecanismo sexual”, disse. Segundo o estudioso, o sequenciamento genético da espécie será fundamental para confirmar a importância de determinadas áreas do DNA para o seu processo reprodutivo.
O foco de Paul Horrocks está no parasita que vive dentro do mosquito transmissor da malária, o Plasmodium falciparum. O bioquímico de Keele apresentou um estudo de ensaios bioluminescentes em que drogas foram testadas e tiveram suas taxas de eficácia comparadas, criando uma base para subsidiar a busca por medicamentos antimalariais.
A lista completa dos palestrantes do encontro inclui, ainda, os cientistas Silvana Schielini (FMB/ Unesp), Silke Weber (FMB/Unesp), Catherine Merrick (Keele University), Mark Skidmore (Keele); Mara Pinto (Unesp em Araraquara), Marcelo Ferreira (USP), Paulo Ribolla (Ibtec), Deílson Elgui de Oliveira (Ibtec), Cláudia Saad (Upeclin/Unesp), Patrícia Pintor (Unipex/Unesp) e Rui Seabra (Cevap/Unesp).