O estereótipo da universidade pública como uma torre de marfim, fechada em si mesma, está desmoronando. No lugar dele, começa a ganhar forma a imagem de uma nova construção, mais adaptada ao estilo coworking: um ambiente aberto e colaborativo, no qual a academia, indústria e poder público interagem com agilidade para resolver problemas de interesse comum.
Só nos últimos cinco anos, a USP firmou mais de 11 mil convênios com entidades públicas e privadas; incluindo cerca de 600 convênios com empresas para fins de pesquisa científica e inovação tecnológica. É o conhecimento produzido na universidade pública auxiliando o desenvolvimento de diferentes setores da economia.
Os dados são do Departamento de Convênios (DCON) da USP, criado há menos de um ano, justamente para organizar essas informações, consolidar processos e favorecer a interação da universidade com a sociedade. “Já fizemos muita coisa e vamos fazer muito mais”, diz o diretor do novo departamento, Igor Studart Medeiros, professor da Faculdade de Odontologia (FO). Como a gestão dos convênios, até então, era descentralizada, diz ele, era difícil até mesmo para a própria USP ter uma visão panorâmica, quantificada, de todas as suas interações com a sociedade. “Havia muito desconhecimento, tanto da comunidade interna quanto externa, do volume de convênios que a universidade tem com o setor produtivo”, avalia Medeiros.
Neste exato momento, segundo o DCON, há 133 convênios vigentes ou já aprovados entre a USP e empresas para fins de pesquisa e inovação. Há várias modalidades de interação: a empresa pode contratar a universidade para prestar um serviço específico (por exemplo, avaliar a eficácia de um teste de covid-19 já existente) ou juntar forças para iniciar um projeto de pesquisa colaborativo (por exemplo, para desenvolver um novo teste de covid-19).
A propriedade intelectual das descobertas é sempre compartilhada entre a empresa e a universidade, como no caso emblemático do Vonau Flash, um medicamento para controle de náuseas e vômitos desenvolvido pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP em parceria com a empresa Biolab Sanus.
Um dos maiores e mais recentes exemplos desse esforço de colaboração em pesquisa e inovação é o Centro de Inteligência Artificial (C4IA), inaugurado nesta semana, 13 de outubro, que vai agregar esforços da USP e da gigante IBM para a solução de questões estratégicas no campo da inteligência artificial (IA) no Brasil. “Não tenho dúvida de que em poucos anos vamos dar grandes saltos nessa área”, disse o pró-reitor de Pesquisa da USP, Sylvio Canuto, que integra o Comitê Estratégico do centro. “Esse é um projeto estratégico da USP, que considera a área de inteligência artificial essencial para o desenvolvimento da sociedade moderna, e a interação com a indústria nos dá um alcance ainda maior nesse contexto.”
Abrigado no Centro de Pesquisa e Inovação InovaUSP, com mais de 60 pesquisadores envolvidos, o C4IA é a quinta unidade do Programa Centros de Pesquisa em Engenharia (CPEs) da Fapesp com sede na USP, de um total de 11 unidades já implementadas (veja a lista abaixo).