O código genético do vírus detectado no primeiro paciente com o Sars-Cov-2 no Brasil é diferente do que foi encontrado no segundo brasileiro com a doença confirmada. O trabalho também foi divulgado em 48 horas, mesmo tempo que demorou para a publicação dos dados do primeiro caso confirmado, na última sexta-feira (28).
O trabalho tem sido conduzido pelo Centro Conjunto Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (CADDE), coordenado pela diretora do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo, Ester Sabino, e pelo cientista Nuno Faria, da Universidade de Oxford. A pesquisa é financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de S. Paulo (Fapesp).
Sabino explica que o primeiro vírus isolado se parece mais com o vírus que foi sequenciado na Alemanha, com duas mutações similares. Já o segundo brasileiro infectado tem o coronavírus mais parecido com o detectado na Inglaterra.
"Ambos são diferentes das sequências chinesas. Isso sugere que a epidemia está ficando madura na Europa, ou seja, está ocorrendo transmissão interna entre países", disse Sabino.
Se todos os pacientes existentes na Europa tivessem vindo da China diretamente, a sequência genética do vírus seria mais parecida com a encontrada em Wuhan e na província de Hubei, de acordo com os pesquisadores. A cientista brasileira lembra que faz a mutação de vírus é uma coisa natural. O sequenciamente e a comparação servem para traçar um panorama e o um possível caminho das infecções.
Nuno Faria, pesquisador parceiro de Sabino, participou do sequenciamento do vírus da zika no Brasil. Ele viajou em um micro-ônibus pelo Nordeste e coloteu amostras. Ele explica que, em comparação com o vírus que atingiu o país em 2016, o sequenciamento do coronavírus é mais simples.
"Os conhecimentos do zika eram mais iniciantes. Em 2016, começamos a desenvolver as ferramentas. Agora nós temos mais experiência", disse.
"Fora isso, o vírus da zika tinha uma carga viral mais baixa. Era mais difícil deterctar o DNA viral no zika. A janela da oportunidade era bem mais curta, porque podíamos sequenciar dois três após o início dos sintomas e muitas vezes as amostras não eram coletadas".
De acordo com o pesquisador, desde maio de 2015, foram 500 genomas do zika sequenciados. No caso do Sars-CoV-2, desde janeiro já foram 150.
Os dois vírus do novo coronavírus isolados no Brasil foram sequenciados por grupo coordenado por Claudio Tavares Sacchi, responsável pelo laboratário do Instituto Adolfo Lutz, e por Jaqueline Goes de Jesus, pós-doutoranda em medicina pela USP.