Brasil tem papel importante no debate; a poluição plástica alimenta a tripla crise planetária e é ameaça à meta de 1,5C do Acordo de Paris.
O combate à poluição plástica é uma urgência dos tempos atuais. Estudos recentes têm mostrado quão profundo é o impacto do plástico no meio ambiente e na saúde humana: microplásticos são encontrados no cérebro, coração, placenta, esperma humanos e até mesmo em corpos de boto-cinzas mortos e praias brasileiras famosas, como Botafogo, no Rio de Janeiro, e Praia do Centro, em Florianópolis.
Ciente disto, a Coalizão Vida Sem Plástico avalia como criticamente insuficientes as propostas expostas no documento divulgado pelo Brasil pós-reunião em Nairóbi, que aconteceu de 30 de setembro a 1º de outubro. O texto não aborda um dos fatores fundamentais para a solução da crise: a redução da produção de plástico. Veja texto na íntegra mais abaixo.
Como pontuado pelo O Eco, pesquisadores da Coalizão de Cientistas por um Tratado dos Plásticos Efetivo mostram que mesmo aplicando todas as soluções para a circularidade do plástico no fim da cadeia, a redução das emissões seria de 79% em 20 anos. Cerca de 17,3 milhões de toneladas anuais de resíduos plásticos ainda seriam lançados no ambiente. Fica clara assim a necessidade urgente do Tratado Global de Plástico abordar de forma sistêmica e objetiva a eliminação progressiva de plásticos até 2040.
No documento divulgado pelo governo brasileiro, estão listados os seguintes direcionamentos: criação de uma Aliança Global para rios e oceanos mais limpos; programas para identificar riscos à saúde da sociedade; gestão de resíduos; empoderamento econômico e legal de catadores de materiais recicláveis; transição justa para trabalhadores do setor plástico; mecanismos financeiros e de cooperação robustos para apoiar o desenvolvimento da ciência e da pesquisa em países em desenvolvimento; envolvimento direto da comunidade científica em questões relevantes ao tratado; tomada de medidas transversais para um consumo e produção mais sustentáveis; conteúdo reciclado; e design de produtos e medidas para proteger os consumidores contra aditivos químicos em aplicações específicas.
“As propostas apresentadas pelo governo brasileiro são claramente insuficientes para a solução de uma das maiores crises enfrentadas pela humanidade e pelo meio ambiente. Nos espanta que o Dr. Alckmin, que além de ser vice-presidente e ministro da indústria é também médico, esteja dando mais ouvidos à indústria petroquímica que aos seus colegas de profissão”, comentou Delcio Rodrigues, diretor executivo do Instituto ClimaInfo.
Já a Coalizão Vida Sem Plástico elenca como prioridades: reduzir a produção de plástico na fonte; eliminar químicos que sejam perigosos para a saúde humana e para o meio ambiente; dar transparência a todo o ciclo de vida; definir regras globais, harmonizadas e juridicamente vinculantes em todo o ciclo de vida dos plásticos; estabelecer compromissos claros para fornecer financiamento multilateral e transição justa para as comunidades afetadas.
O ClimaInfo se juntou à Coalizão Vida Sem Plástico que é formada pela Aliança Resíduo Zero Brasil, Oceana Brasil, TOXISPHERA Associação de Saúde Ambiental, Projeto Hospitais Saudáveis, ACT Promoção da Saúde e Instituto de Defesa de Consumidores (Idec).
Leia aqui a carta da Coalizão na íntegra.