Campinas é referência na América do Sul e um dos pontos de excelência no mundo quando o assunto é equipamento para portadores de deficiência física. Uma das provas é a premiação do professor do departamento de engenharia biomédica da faculdade de Engenharia Elétrica e Computação da Unicamp, Alberto Cliquet Júnior. Ele foi condecorado com o 2o lugar pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) na disputa do prêmio Jovem Cientista de 1996.
O prêmio, na verdade, é algo secundário em relação ao incentivo para pesquisa que Cliquet e o grupo que coordena receberam: R$ 1 milhão que, em dois anos, pode viabilizar que as "invenções" cheguem ao mercado e aos portadores de deficiência.
O prêmio jovem cientista (Cliqüet tem 40 anos) foi para o professor em função de seu grupo ter desenvolvido maneiras de controle do portador de deficiência sobre o equipamento que auxilia sua locomoção. O trabalho de Cliquet, pesquisador há 15 anos nessa área, foi desenvolvido em quatro partes que valeu ao grupo os dois primeiros lugares entre 130 trabalhos.
A primeira das técnicas foi produzida através de fonemas (sons das vogais - a, e, i, o, u) e possibilita ao portador de deficiência movimentar algum membro paralisado. "O som do fonema 'a' pode significar fechar a mão, ou dobrar o cotovelo", exemplifica.
Esse sistema funciona por meio de estimulação elétrica nos nervos e músculos aplicados na restauração de membros superiores ou inferiores paralisados. A paralisação pode ter sido causada por acidentes de trânsito, por exemplo, ou mesmo por acidentes vascular cerebral (derrames). Outro ponto de destaque do professor é para o trabalho desenvolvido por um de seus alunos, sob sua orientação - que também foi premiado. Trata-se de um equipamento destinado ao controle intestinal de pacientes com câncer no colo do intestino. "Essas pessoas não utilizam o intestino e as fezes são depositadas diretamente num saco plástico colocado numa abertura na lateral do corpo", explica Cliquet.
O trabalho premiado de Cliquet conta ainda com outras duas partes. A estimulação eletrotáctil e o desenvolvimento de mão acionado por polímeros. No primeiro caso, é possível criar sensação de movimento, que atualmente o deficiente não sente.
Com o trabalho do grupo, é possível criar um estímulo em alguma parte do corpo quando o movimento for executado. "Quando ele pisa, o equipamento pode causar um formigamento no ombro", explica. Por sua vez, o polímero (espécie de plástico) desenvolvido pelo grupo vai substituir motores que acionam a movimentação da mão. "O motor é pesado e grande. O próprio plástico passa a fazer o movimento de relaxamento e contração do membro", observa.
Os dois prêmios de Jovem Cientista são de R$ 7 mil e R$ 5 mil. Alberto Cliquet Júnior, entretanto, prefere dar destaque aos recursos da Fapesp (Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo). São R$ 1 milhão que, segundo ele, vão garantir um lugar para Campinas na pesquisa mundial sobre equipamento para portadores de deficiência física. "Nem em países desenvolvidos são comuns recursos desse porte", compara.
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Diário do Povo