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CNPq e MCT: reunião para avaliar Projeto Genoma Brasileiro

Publicado em 15 agosto 2003

O programa que financiou a Rede Nacional de Seqüenciamento de DNA acaba em novembro, mas a reunião de avaliação final da Rede, que foi o primeiro passo do Projeto Genoma Brasileiro, está sendo realizada também como uma oportunidade para pensar a continuidade das ações de fomento brasileiro à pesquisa em genômica. 'Procuramos não ter descontinuidade nas ações, e um primeiro anúncio é que vamos continuar com esse projeto, porque ele já mostrou ser importante, ainda mais para a visibilidade da ciência brasileira', disse Jorge Guimarães, Secretário de Políticas Estratégicas do MCT, ao abrir a reunião que acontece nesta semana em Brasília. Próximo passo natural será uma rede de proteoma e, segundo Guimarães, é preciso buscar mais recursos além do que pode ser disponibilizado pelo CNPq e pelos fundos setoriais. Principalmente empresas que possam explorar a competência dos pesquisadores do grupo, assim como apoiar empresas que venham a surgir dentro da rede. 'Para isso, vamos ouvir quem tem de ser ouvido, e não inventar as coisas', concluiu ao ressaltar a importância da participação dos próprios cientistas nesse processo. Para o diretor de Programas Temáticos e Setoriais do CNPq, Manoel Barral Netto, essa é a hora de criatividade e inovação, novas idéias precisam surgir porque a seleção de um novo genoma a ser seqüenciado não seria solução para a continuação da rede. Vencida essa etapa, ela precisa de desafios maiores. 'Mais do mesmo não seria adequado, esperamos novas idéias dos pesquisadores aqui reunidos, saber onde avançamos mais e onde temos deficiências para otimizarmos o uso de recursos', acrescentou. Segundo os representantes do governo, este ano tanto os fundos setoriais quanto o CNPq saldaram dívidas, mas há uma boa perspectiva para o ano que vem. Disseram que há compromisso do Congresso de não contingenciar recursos de C&T, e Jorge Guimarães anunciou que o MCT conseguiu garantir com a área de planejamento do Governo Federal um aumento de cerca de 10% ao ano no orçamento para bolsas do CNPq, que sinaliza o compromisso de expansão do investimento no setor prometido por este governo. CONTINUAR A REDE A rede foi montada para o seqüenciamento da Chromobacterium violaceum, uma bactéria abundante no País, que tem potencial socioeconômico importante, mas poucos estudos realizados. O financiamento se deu desde a implantação dos laboratórios, material de consumo, até a compra dos seqüenciadores de DNA. Também foram implementadas bolsas para treinamento, bolsas DTI e ITI do CNPq para cada laboratório para garantir pessoal necessário para o funcionamento do projeto. Após a conclusão do primeiro seqüenciamento, um segundo organismo, a Mycoplasma synoviae, foi escolhido em 2002. Ao fim do projeto ela está praticamente descrita, e se desenvolveu em um trabalho de genômica comparativa, ao formar uma cooperação com a Rede Genoma Sul, que estuda outra bactéria Mycoplasma. Essa ação reforçou mais uma vez a idéia de que o trabalho em rede pode funcionar. Findo o projeto, a proposta do grupo é começar os ensaios biológicos complementares para os dois organismos com genoma seqüenciado. Foram 29 patentes requeridas no primeiro projeto, que precisam de estudos de modelagem e pós-genômica. Essa iniciativa levaria a rede a trabalhar com genomas funcionais. Mas as propostas realmente inovadoras e que podem ampliar a capacidade da rede foram três projetos para pesquisas ambiciosas. Salientando que são apenas idéias e sugestões para novas ações, os pesquisadores demonstraram o desejo de seus laboratórios de continuarem trabalhando em rede. Seriam estudos da biodiversidade microbiana de solos brasileiros, da interação patógeno-hospedeiro ou a genômica funcional de um eucarionto de relevância em saúde humana ou animal. Áreas muito vastas, mas que envolveriam a rede em questões de importância para o país. AVALIAÇÕES A primeira avaliação veio do coordenador inicial da rede, Andrew Simpson, do Instituto Ludwig de Combate ao Câncer. Para ele, é preciso mostrar as conquistas práticas do trabalho da rede, que são os genomas executados com competência reconhecida, provando que é possível fazer uma rede de pesquisas num espaço grande como o brasileiro, mas também se deve chamar atenção para o desenvolvimento científico local. 'A presença do Projeto Genoma estimulou diversas áreas próximas nas instituições e Estados onde estão os laboratórios, mostrando um caminho para o desenvolvimento organizado da pesquisa', disse. 'É bom lembrar que a capacidade instalada, tanto em laboratórios, quanto em recursos humanos, também está sendo usada pelos Genomas Regionais', acrescentou Ana Tereza Vasconcelos, atual coordenadora da rede. Para ela, que coordena desde o início a parte de bioinformática no LNCC, os objetivos da proposta de criação da rede foram atingidos. Todos os grupos realizaram os objetivos, tanto em número quanto em qualidade de seqüenciamentos. Os genes seqüenciados foram depositados em bancos internacionais de genomas, houve requerimento de patentes para as seqüências de interesse comercial, e um artigo com os resultados totais da pesquisa já está aceito para publicação. Os avaliadores foram unânimes ao parabenizar a rede. Com um investimento de R$11.990.074,84, a rede foi espalhada por 25 laboratórios de seqüenciamento distribuídos entre Manaus e Porto Alegre, além de um centro de montagem das bibliotecas genômicas e um centro de bioinformática. Este era um dos objetivos - instalar e complementar laboratórios de forma a contemplar uma distribuição regional. Um segundo objetivo ligado a esse foi o desenvolvimento de trabalhos multi-institucionais. 'Hoje se temos um problema podemos contar com ajuda de pessoas das mais diferentes áreas e formações dentro da rede', afirmou Edmundo Grizard, pesquisador de Santa Catarina. Outra avaliação positiva foi a evolução dos bolsistas de DTI e ITI, e também bolsistas de iniciação científica, mestrado e doutorado, envolvidos no projeto. 'Eles foram fundamentais para o cumprimento das metas, e expressaram o ganho real que obtiveram', disse Lucymara Lima, pesquisadora da UFRN, para quem o projeto foi muito importante porque recrutou recursos humanos para atuação na área biotecnológica. Os alunos e pesquisadores que passaram pelo projeto foram absorvidos pelo mercado de trabalho, gerando massa crítica e competência. Eles são hoje professores universitários, a maioria ingressou em programas de pós-graduação, ou foram contratados por empresas privadas e pela Embrapa.