LONDRES - Os primeiros monstros de laboratório já saíram da ficção científica para o mundo real. E o pior é que os cientistas responsáveis tentaram esconder as aberrações.
As experiências de engenharia genética que criaram dois cordeiros exatamente iguais produziram também uma série de aberrações não- reveladas pelos cientistas britânicos que as realizaram, afirmou ontem o jornal The Sunday Times.
Os resultados da clonagem foram apresentados na quarta-feira passada como um grande avanço da ciência e da tecnologia, capaz de ser aplicado em seres humanos no futuro. Mas as aberrações indicam que talvez nunca possam ser usadas comercialmente nem mesmo em animais.
Uma investigação do jornal descobriu vários problemas omitidos na revista Nature, onde as experiências foram divulgadas. Só foram mostrados publicamente os dois cordeiros que sobreviveram à manipulação genética. Três morreram logo depois do nascimento por causa de malformações dos órgãos internos.
Pelo menos um feto cresceu duas vezes mais do que o normal dentro do útero onde o embrião foi implantado. Foi preciso fazer uma cesariana para que pudesse nascer. A maioria dos cordeiros de laboratórios nasceu com peso 35% acima do normal.
Diante das acusações, o geneticista Ian Wilmut, chefe da equipe de pesquisadores do Instituto Roslin, na Escócia, disse que o peso dos animais ao nascer foi omitido porque não tinha maior relevância científica. Ele está investigando por que alguns cordeiros nasceram excepcionalmente grandes. Se o problema se repetir, promete suspender as experiências com animais vivos. "Não vamos autorizar o uso comercial da tecnologia até que este problema esteja resolvido", diz.
Os cientistas implantaram cinco embriões clonados de ovelhas das montanhas do País de Gales em ovelhas negras escocesas, um pouco maiores que as galesas. Os pesquisadores esperavam que os embriões desenvolvidos em seus úteros fossem maiores, mas não tanto.
Nos anos 80, a Granada Biosciences, uma empresa de bioctecnologia americana, implantou centenas de embriões clonados em vacas. A pesquisa foi suspensa porque 20% dos bezerros nasceram maiores do que o esperado e 5% eram gigantes.
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Jornal do Brasil