Além de garantir a sanidade das lavouras, a linha de pesquisas do Instituto Biológico tem a preocupação de reduzir custos de produção para o agricultor, melhorar a qualidade e agregar valor ao produto brasileiro, e preservar o meio ambiente. De acordo com o diretor do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Vegetal, Benedito de Camargo Barros, o que se busca, em suma, é melhor qualidade de vida. "Estudamos o controle de plantas daninhas, pragas e doenças, tentando fazer com que se usem menos produtos químicos e mais controle biológico", afirma. "Trabalhamos com melhoramento genético, técnicas de solarização, onde o calor provoca uma série de benefícios ao solo, além de pesquisas em agricultura orgânica."
Além de trabalhos sobre uso de nematóides e fungos para controlar a cigarrinha da cana, o IB procura levantar e armazenar dados sobre outras mazelas que preocupam agricultores de todo o País, sobretudo do Estado de São Paulo.
A citricultura é um exemplo. Doenças como o cancro cítrico, o amarelinho e a morte súbita são objetos de estudo dos pesquisadores do Biológico há anos.
O Brasil tem mais de 300 municípios produtores, que anualmente fazem chegar ao mercado cerca de 400 milhões de caixas de 40,8 quilos de laranja cada uma. Na safra 2002/2003, só o Estado de São Paulo - o maior produtor da fruta - produziu 361,7 milhões de caixas e enviou praticamente a totalidade para o mercado internacional.
Os agricultores têm, portanto, de estar informados sobre as doenças e saber como controlá-las. Por meio de um projeto temático financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o Instituto Biológico vem estudando a bactéria Xanthomonas axonopodis pv. citri, causadora do cancro cítrico. A doença, disseminada pelo vento, provoca lesões nas folhas, frutos e ramos das plantas de citros e, conseqüentemente a queda dos frutos, folhas e da produção, tornando o produto inadequado para exportação.
De acordo com o pesquisador Júlio Rodrigues Neto, do Laboratório de Bacteriologia Vegetal do IB, o objetivo é formar um banco de linhagens da bactéria; estudar sua diversidade genética e a agressividade das linhagens encontradas; identificar o tempo de sobrevivência da bactéria em solo, restos de vegetais e frutos; desenvolver técnicas de detecção e diagnósticos mais rápidos; e estudar as partículas de DNA, na tentativa de garantir maior resistência às plantas. "Temos que estudar para ter um produto de qualidade a um custo menor e para não sermos vítimas das barreiras fitossanitárias impostas pelos Estados Unidos e Europa, principalmente", diz Rodrigues Neto.
São parceiros nessa empreitada a Universidade Estadual Paulista, a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz (Esalq), o Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus) e o Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (Cirad), uma entidade francesa.
Hoje o cancro cítrico é controlado com a erradicação das lavouras contaminadas. "No Estado de São Paulo, depois de várias campanhas de detecção dos focos e erradicação das plantações contaminadas chegamos a um nível de controle que beira os 100% de sanidade", diz o pesquisador.
O IB também foi a primeira instituição a detectar a bactéria Xylella fastidiosa, causadora da clorose variegada dos citros, doença mais conhecida como amarelinho, que leva à redução do tamanho do fruto e, portanto, à impotência comercial do produto. Diferente do cancro, o amarelinho é transmitido por um inseto que carrega a bactéria até a planta. "Depois de vários testes feitos aqui no IB, foi possível delinear melhor o perfil da bactéria. Isso foi importante porque, quanto mais rápida a detecção da presença desse organismo, maior a chance de se fazer um controle satisfatório", diz o pesquisador Ricardo Harakawa, do Laboratório de Bioquímica Fitopatológica. Segundo ele, a Xylella foi a primeira bactéria de plantas a ter seu genoma seqüenciado no mundo e objeto de estudo do primeiro projeto genoma do Brasil.
Pesquisadores do Biológico estão trabalhando, ainda, na apuração de informações para um banco de dados sobre as principais plantas hospedeiras da mosca-das-frutas, pragas conhecida em todo o mundo, cujas larvas se desenvolvem dentro dos frutos e os deteriora, tornando-os imprestáveis para comercialização. De acordo com o pesquisador Aldalton Raga, do Laboratório de Entomologia Econômica, os estágios mais suscetíveis de cada fruteira também estão sendo estudados, para que o produtor possa tomar as medidas preventivas no momento certo. "Ele pode usar frascos com substâncias atrativas, ensacar os frutos ou usar iscas tóxicas, mas não adianta fazer isso depois que a cultura foi atacada", diz.
Raga afirma que estão sendo pesquisados novos inseticidas, mais seletivos, como os feitos com extratos de plantas. "Em alguns casos, o produtor é obrigado a fazer pulverização do produto com cobertura total da lavoura. Isso agride o meio ambiente, portanto, pesquisamos inseticidas alternativos." O Estado de São Paulo tem mais de 30 espécies de moscas-das-frutas, que atacam culturas comerciais como citros, goiaba, pêssego, manga, entre outras. "Perder a fruta é mais que perder o investimento: é perder mercado."(TF)
Notícia
Correio Popular (Campinas, SP)