Treino supervisionado de força e aeróbico surtiu efeito protetor sobre a massa óssea de mulheres avaliadas em estudo
As severas perdas de massa óssea que pacientes sofrem após se submeterem a cirurgias bariátricas podem ser atenuadas com exercícios físicos. A constatação é de uma pesquisa feita na USP com mulheres que passaram pela intervenção cirúrgica no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina (FM) da USP.
Após a recuperação do pós-operatório, as pacientes foram acompanhadas durante seis meses em um programa de treinamento físico, incluindo exercícios aeróbicos e de força. Os dados foram compilados recentemente e um artigo sobre o assunto foi publicado, em julho, no The Journal of Clinical Endocrinoloy & Metabolism.
Segundo Hamilton Roschel, coordenador do Grupo de Pesquisa em Fisiologia Aplicada e Nutrição da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) e da Faculdade de Medicina (FM) – um dos autores do artigo –, a pesquisa procurou investigar o possível papel terapêutico do exercício físico como estratégia para mitigar a redução da densidade mineral óssea, um dos efeitos adversos clássicos advindos da cirurgia bariátrica.
Dessa forma, após três meses do procedimento cirúrgico, o tempo considerado de recuperação, as pacientes foram divididas em dois grupos: para um deles, foi indicado um programa de treinamento estruturado com exercícios físicos de força (musculação) e aeróbico (caminhada), três vezes por semana; enquanto o outro grupo recebeu o tratamento padrão pós-cirurgia, que inclui recomendações gerais para um estilo de vida saudável.
Roschel explica que embora se saiba que exercícios de maior impacto sejam os mais recomendados para ganho de massa óssea, um programa de exercícios composto por exercícios convencionais como caminhada e musculação se mostrou suficiente para atenuar as perdas de massa óssea nessa população.
As pacientes, que tinham idade entre 18 e 60 anos, foram avaliadas em três períodos, antes da cirurgia, três meses após o procedimento cirúrgico (quando era dado início ao programa de exercícios) e seis meses após o início do treino, passando, entre outros, por exames de densitometria, que mediu a densidade mineral óssea de diferentes regiões do corpo – a região lombar, fêmur, raio distal (osso do braço), quadril e corpo total.
Os dados foram coletados entre 2015 e 2018 e, segundo Roschel, todas as pacientes que fizeram a cirurgia tiveram queda da densidade mineral óssea; no entanto, aquelas que não se engajaram aos exercícios continuaram a perder massa óssea de forma significativa ao longo do período do estudo, ao passo que a perda foi atenuada de maneira bastante importante no grupo que se exercitou.
O pesquisador destaca a importância destes resultados porque demonstram o efeito protetor do exercício sobre os ossos. Recentemente, outro grupo de pesquisa demonstrou que quem faz esse tipo de cirurgia tem mais chances de sofrer fraturas por conta desta deterioração óssea. O fêmur, por exemplo, é a parte do corpo que sofre o maior número de fratura. “E foi justamente essa região que foi mais bem protegida pela atividade física”, diz Roschel.
Cirurgia bariátrica/metabólica
A cirurgia bariátrica não é recomendada apenas para perda de peso para obesos mórbidos. Também tem sido indicada como forma de tratamento e regulação dos níveis metabólicos do organismo, como o controle do diabetes e a hipertensão, problemas de saúde que são agravados ou associados ao excesso de gordura corporal.
O Brasil é o segundo país com maior número de cirurgias desse tipo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Porém, Roschel alerta que há inúmeros efeitos colaterais oriundos do procedimento. A perda de massa óssea é um deles, que se inicia logo após a cirurgia, podendo permanecer ao longo de anos. A perda ocorre devido a múltiplos fatores, incluindo má absorção de vitamina D, do cálcio, perda de massa muscular e alterações no metabolismo ósseo, completa.
O estudo é coliderado pelo professor Bruno Gualano e foi conduzido pelos alunos de pós-graduação Igor Murai, Saulo Gil, Wagner Dantas e Carlos Merege. A pesquisa contou com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).