A estimativa é que 20% da biodiversidade mundial esteja no Brasil e os nossos pesquisadores têm partido dessa natureza para inovar.
Foi pensando em novas formas de usar plantas e animais que já são parte da nossa alimentação que cientistas criaram diversas soluções nas áreas de cosméticos, alimentos e na saúde, muitas vezes, mudando a vida de bastante gente.
Algumas dessas invenções foram patenteadas, ou seja, tiveram o direito de propriedade intelectual reconhecido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
Com isso, os inventores têm a garantia de que esses produtos ou processos estão protegidos juridicamente contra usos não autorizados. Além da segurança jurídica para comercializar esses bens ou serviços, esse direito incentiva a pesquisa e a inovação ao recompensar os inventores por seus esforços de pesquisa e as empresas e investidores pelos investimentos.
Conheça cinco dessas iniciativas:
1) Chocolate como conhecemos de uma forma diferente
Pesquisadores da USP e da Uesb criaram forma de adoçar chocolate com o próprio cacau
Que o chocolate vem do cacau todo mundo sabe, mas você já pensou que o produto pode ser adoçado com a própria polpa da fruta? Essa foi a tecnologia desenvolvida pela Universidade de São Paulo (USP).
Na verdade, o que é extraído da polpa é o mel do cacau, rico em antioxidantes, vitamina C, fibras alimentares e açúcar. Normalmente, a única parte da fruta utilizada para a confecção do chocolate são as sementes e, por muitos anos, o mel ficou de lado.
Estudos feitos por pesquisadores da USP e da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb) mostraram que o mel da fruta pode ser usado, também, como um adoçante natural. O que resulta no melhor aproveitamento do fruto e traz maior valor nutricional.
A descoberta foi feita em 2012 e, no ano seguinte, em 2013, o pedido de registro de patente foi feito pelos pesquisadores no Inpi. O resultado saiu em fevereiro de 2021.
Com o título de Composição Alimentícia com Mel de Cacau, a titularidade da criação é da USP e da Uesb. Outro ponto positivo da invenção é que o conceito de sustentabilidade também pode ser aplicado à produção do cacau e do chocolate.
2) De frutinhas: conheça a primeira maquiagem sólida do Brasil
AmoKarité conquistou a primeira patente brasileira de maquiagens sólidas, a partir de frutas
Beleza e sustentabilidade podem sim andar juntas. É com isso que a empresa brasileira de maquiagem AmoKarité trabalha. Com os cosméticos sólidos e veganos, a marca conquistou a primeira patente brasileira de maquiagens sólidas.
A empresa foca em produtos multifuncionais e com insumos 100% naturais, utilizando frutas, vegetais e rochas, além de não ser testado em animais. Liderada por Estephanie Gustavon e Clara Klabin, a marca viralizou desde o lançamento, em 2020, e obteve um faturamento de R$ 400 mil em 2021. Agora, a intenção é expandir as vendas para Portugal e Espanha.
Em sua linha de cosméticos sólidos, você encontra sombra, blush e batom e um único produto. A marca conta, também, com bases sólidas. Outra inovação foi a formulação do delineador 100% natural, sem adição de derivados de petróleo.
O conceito sustentável vai do produto à embalagem, que é feita com um papel certificado e 100% biodegradável. No total, são mais de 50 produtos disponíveis, sendo os os batons sólidos os queridinhos.
3) Do bagaço do maracujá para sua necessaire de maquiagem
Rubian Extratos e Programa da FAPESP criaramcosmético sustentável de antienvelhecimento para a pele a partir do maracujá
O maracujá é uma das frutas mais amadas pelos brasileiros e podemos provar! De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o Brasil é o país que mais produz a fruta no mundo. E quase toda produção é consumida pelos próprios brasileiros, sendo apenas 1% destinada à exportação.
Em 2019, o Brasil produziou mais de 593 mil toneladas de maracujá, além de possuir mais de 150 espécies diferentes da fruta.
Com tanto consumo, pensar em uma solução para o bagaço da fruta, normalmente descartado pelas indústrias, foi a ideia de pesquisa da empresa Rubian Extratos, em parceria do Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE).
O antigo resíduo industrial se tornou matéria-prima para a criação de um cosmético sustentável de antienvelhecimento para a pele, com ação antioxidante testada e aprovada. A empresa conseguiu criar uma miniemulsão, emulsão com gotículas de escala micrométrica, a partir da recombinação dos extratos do bagaço do maracujá.
Os bioativos presentes na fruta foram mapeados e, com isso, foi comprovada a ação de antienvelhecimento do produto. Mas tudo foi possível a partir de um processo de produção limpa dos compostos do bagaço, patenteado em 2011.
E, com o uso da produção limpa, o bagaço passou por um processo de extração, que também foi patenteado. Depois disso, os extratos foram emulsificados de acordo com a necessidade de cada cliente.
Extra: o extrato de maracujá também é o protagonista de outra inovação patenteada. Em sua tese de doutorado, desenvolvida na Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp , a nutricionista Andressa Mara Baseggio descobriu que a terapia quimiopreventiva feita com a fruta é capaz de atrasar a ocorrência de casos de câncer de próstata. A técnica usada para obter o extrato do bagaço do maracujá rico em piceatannol, substância determinante para o tratamento ou prevenção da doença, foi desenvolvida na universidade, sob orientação do professor Julian Martinez, da FEA.
4) A cura pela tilápia: de queimaduras a cirurgias de redesignação sexual
337 pesquisadores de diversos países têm pesquisado usos da tilápia na saúde
Talvez você já tenha ouvido falar dos usos da tilápia na saúde. A pele do peixe tem sido usada na recuperação de queimaduras, no tratamento de úlceras e em cirurgias de reconstrução vaginal e de redesignação sexual. São 337 pesquisadores de diversos países envolvidos em 87 projetos de pesquisa
As primeiras descobertas foram alcançadas pelo Núcleo de Pesquisas e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM) da Universidade Federal do Ceará (UFC) , sob coordenação do professor Odorico de Moraes. Ao lado do médico Edmar Maciel, do Instituto Dr. José Frota, os pesquisadores iniciaram os estudos pré-clínicos em 2015, incluindo esterilização da pele, análise toxicológica e microbiológica e testes em animais.
O trabalho em conjunto com a equipe de Histologia da professora Ana Paula Negreiros, da Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem (FFOE) da UFC chegou à descoberta do colágeno tipo I na pele da tilápia, uma proteína que, ao interagir com feridas ou queimaduras, acelera a cicatrização. O peixe adere à lesão, evitando a perda de líquidos e criando uma barreira para bactérias.
Oito anos depois, a técnica de preparo e conservação do tecido da tilápia no glicerol, um conservante que esteriliza o material, teve a patente concedida pelo Inpi. Depois desse método, a ciência avançou em outras inovações a partir do peixe, como a pele liofilizada (desidratada), a matriz acelular e a extração de colágeno, todos patentes solicitadas no Brasil e no exterior.
As patentes no mundo
Como é um direito territorial, não existe uma “patente universal”. A concessão de patente no Brasil não significa que aquela invenção está protegida em outros países. Existem distintos sistemas de propriedade intelectual, normalmente nacionais ou regionais, como o Instituto Europeu de Patentes.
Para obter proteção de propriedade intelectual em diversos países, o melhor caminho é recorrer à Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), que administra o Tratado de Cooperação em matéria de Patentes (PCT), um acordo multilateral.
5) Mais biodiversidade e menos calorias: maionese feita com açaí
Pesquisadores da Universidade Federal do Tocantins (UFT) inventaram a maionese com polpa de açaí.
Misturar ovos, óleo e suco de limão (ou variações desses ingredientes) não é mais o único jeito de fazer maionese. Pesquisadores da Universidade Federal do Tocantins (UFT) inventaram a maionese com polpa de açaí, de fácil fabricação e com menos calorias que a mistura tradicional.
A tecnologia teve a patente de invenção concedida pelo Inpi em julho de 2021, com prazo de validade de 20 anos. Esse tipo de patente é para criações totalmente novas que solucionem um problema técnico. O outro tipo é o modelo de utilidade, que melhora uma invenção já existente.
Leia o especial da Agência de Notícias da Indústria sobre propriedade intelectual
A novidade foi desenvolvida pelo professor de Engenharia de Alimentos, Robert Taylor Rocha Bezerra, e pelos egressos do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos (PPGCTA), Eder Alencar Resende, Marcela Mona Sá Santos e Fabiana de Oliveira Pereira.
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