Muitas empresas postam na inovação como um caminho para deixar os concorrentes para trás. Poucas, no entanto, conseguem estabelecer entre suas equipes uma cultura favorável ao surgimento de novas ideias e projetos. É comum, por exemplo, ver companhias que mantêm a inovação encarcerada no departamento de pesquisa e desenvolvimento (PD), como se a missão de encontrar novas frentes de negócios tivesse de ser cumprida em um ambiente à parte. Resultado: por mais que tente, a empresa não consegue se destacar pela inovação.
"A inovação começa no momento em que as empresas criam um ambiente capaz de estimular a criação de ideias. O departamento de P&D tem um papel importante nesse processo, mas é apenas uma das vertentes necessárias", defende Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Além de investir em pesquisa, a empresa que pretende fomentar uma cultura de inovação deve apostar em outras frentes - tais como o design, o bom relacionamento com o mercado e a contratação de pessoas com o perfil adequado para lidar com o risco. A inovação pode nascer em qualquer departamento, até mesmo no de reclamações, garante Brito, que também é professor do Instituto de Física da Unicamp.
Um dos pilares que sustentam a cultura de inovação é o RH. Cada vez mais, o sucesso da inovação depende da capacidade das empresas de alocar as competências certas em cada etapa no desenvolvimento de novos projetos. Além disso, é preciso contar com pessoas que saibam liderar projetos inovadores. Confira, abaixo, quais são as características desse tipo de líder:
- Bagagem de conhecimentos amplos: os líderes dos processos de inovação são especialistas em uma determinada disciplina, mas conhecem suficientemente bem as demais áreas de uma empresa, como a contabilidade e o marketing - e sabem mobilizá-los em torno de novos projetos.
- Tolerância ao erro: qualquer inovação exige a capacidade de lidar com o risco e tolerar o erro. Na maioria das empresas, a tolerância ao erro acontece somente nos discursos - na prática, as falhas são punidas com perdas de bonificação, isolamento e outras reações. O líder da inovação tem de monitorar o ambiente e evitar essas armadilhas.
- Capacidade de estabelecer critérios claros para a equipe: lidar com projetos cujos resultados são desconhecidos ou imprevisíveis é um desafio árduo. Cabe ao líder estabelecer critérios e métricas claras para que todos saibam se estão cumprindo as expectativas da empresa ou não - mesmo no caso de tudo dar errado. Essas métricas, é claro, devem privilegiar o surgimento de novas ideias e todas as posturas que aproximem a organização da inovação.
- Facilidade para se manter antenado ao que ocorre no mercado: muitas inovações nascem de necessidades manifestadas por clientes, acionistas ou até fornecedores. A capacidade de ler o mercado e encontrar oportunidades de negócios é uma característica-chave para quem comanda projetos de inovação.
- Familiaridade com a empresa: o verdadeiro gerente de inovações tem de conhecer todos os lados da empresa: suas limitações, ambições, culturas, história, etc. Precisa, ainda, ter uma boa noção de negócios, de tal forma que saiba dosar o tempo e o dinheiro necessários para colocar novos projetos em prática.