O fato de o cimento ser o segundo produto mais consumido no mundo motivou pesquisadores da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli -USP) a procurar auxiliar a indústria cimenteira brasileira, com o desenvolvimento de uma fórmula que poderá substituir parte do material responsável pela emissão de CO2 na fabricação do produto. A novidade despertou o interesse da empresa InterCement, holding para negócios de cimentos do grupo Camargo Corrêa.
O cimento tradicional é composto por argila e calcário, materiais que são extraídos das jazidas e em seguida moídos. Quando fundidos num forno de 1,5 mil graus Celsius, os materiais se transformam em pequenas bolas de clínquer, sendo misturados com gipsita até virar o cimento. Pelo método tradicional de fabricação do cimento portland, para cada tonelada produzida a indústria emite entre 800 kg e 1.000 kg de dióxido de Carbono (C02), incluindo aquilo que é gerado pela decomposição do calcário e pela queima do combustível fóssil para manter os fornos em funcionamento. Nos últimos anos, para reduzir a geração de C02 na produção de cimento as empresas começaram a usar, escória de alto forno e cinzas volantes, que são um resíduo de termelétricas a carvão, que são adicionados ao material na produção do clínquer. A indústria também usa, desde a década de 70, filler de calcário para substituir parcialmente o clínquer na formulação do cimento. Mas a adição de filler de calcário, no Brasil, era limitada a 10%. Agora, os pesquisadores da Poli demonstraram, usando tecnologias de controle de granulometria, que é possível aumentar a adição de pó calcário para 70%, reduzindo para 30% o percentual de clínquer na fabricação do cimento.
O projeto, realizado com o apoio da FAPESP, teve a contribuição do pesquisador Vanderley Moacyr Iohn – professor do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica da USP. Como um dos coordenadores do projeto, ele ressaltou que em alguns experimentos em laboratórios é possível reduzir em mais de 70% a quantidade de ligante (a capacidade do cimento em reagir com a água) em concretos de alta resistência com um produto feito com a formulação.
A tecnologia irá permitir à indústria dobrar a produção de cimentos sem a necessidade de construir mais fornos ou de produzir mais clínquer. Pesquisadores relatam que vários materiais podem ser usados para produzir o filler, mas o pó calcário é o melhor deles, por oferecer menos riscos à saúde do que outros fillerbiopersistentes.